segunda-feira, 19 de maio de 2014

Narrativa Omnipotente

Muito se tem especulado acerca dos acontecimentos na Ucrânia e das suas potenciais consequências para a economia mundial. Muitas são as análises sobre os riscos face à satisfação da procura energética da Europa e até ao papel do dólar como moeda de referência do sistema financeiro e comercial global. Na passagem que a seguir se apresenta experimenta-se mais uma hipótese face às políticas monetárias europeias e ao ouro. Considero importante assinalar que até meados de Junho, e após reuniões importantes no Banco Central Europeu, alguma coisa haveremos de poder relacionar com o que a seguir se apresenta. A tradução e os sublinhados são da minha responsabilidade.

"“De facto, no que diz respeito aos mercados, quanto mais ventos e tempestades sobre a Ucrânia houver, melhor. Draghi precisa de uma desculpa para lançar um programa semelhante ao Quantitative Easing (QE – injecção de liquidez na economia - nt) americano. As projecções negativas dos técnicos do Banco Central Europeu relativamente à possibilidade de a Gazprom fechar os canais de transporte do gás natural são apenas o que o médico pediu para aplicar o remédio. Alguns dias de queixas e lamentos nos meios de comunicação convencionais face às intenções de Putin, talvez acompanhados por um declínio de 1% nos mercados, e até Janet Yellen pode entrar em cena prometendo fazer “o que for preciso” para ajudar os irmãos europeus a ultrapassar essa terrível ameaça ao crescimento global.
Em última instância, tudo isto fortalece a Narrativa da Omnipotência dos Bancos Centrais, ou seja, o entendimento, que acaba por controlar efectivamente os mercados, de que os resultados económicos estão mais dependentes das acções dos bancos centrais do que da própria economia real.
Como é que se pode saber se esta Narrativa começa a tornar-se instável e a mudar? Se o ouro começar a ter peso. É isso que o ouro significa nos tempos de hoje... não uma reserva de valor ou uma qualquer protecção contra a instabilidade geopolítica. É antes uma apólice de seguro contra o erro desmesurado e o descontrolo dos bancos centrais. Por enquanto, a Narrativa Dominante de que os bancos centrais são grandes e tudo controlam permanece intacta. Pelo menos enquanto os investidores internacionais forem aceitando as afirmações gratuitas que Draghi ofereça publicamente e assim o ouro não tem a menor chance de sucesso."

Ben Hunt, "Tudo o que brilha"

2 comentários:

floribundus disse...

do Corta-fitas
O Banco Central Europeu (BCE) e 20 bancos centrais europeus, que inclui o Banco de Portugal, declararam que o ouro continuará a ser um elemento importante nas reservas monetárias mundiais. O acordo assinado hoje cria limites à venda deste metal precioso, pois prevê que os signatários não vendam mais de 400 toneladas por ano, nem mais de 2.000 toneladas no período de cinco anos.
As reservas de ouro do Banco de Portugal (BdP) ascendem a 382,5 toneladas e valiam 10,7 mil milhões de euros no final de 2013. O que faz de Portugal um dos vinte países com maior reservas de ouro do mundo e é em Portugal que o ouro tem mais peso no total das reservas monetárias. Devemos isso a Salazar, claro.
Isto apesar de o Banco de Portugal ter tido um especialista em investimentos que decidiu vender parte das reservas de ouro do país quando a cotação estava em baixa. Falo de Vítor Constâncio, claro. Só entre 2002 e 2006, Vitor Constâncio vendeu 224,1 toneladas de ouro do Banco de Portugal. Ou seja, Vitor Constâncio em 4 anos, vendeu 25,88% do total das 865,936 toneladas do ouro do Estado Novo

LV disse...

Caro Floribundus,

Obrigado pela referência (ao artigo e ao blogue). Tive oportunidade de colocar um comentário no último artigo do Eduardo acerca deste acordo. A fonte que encontrei foi suíça, porque o o BdP não me foi útil nessa demanda.
E repare que não há referência séria, crítica a nada disto nos meios convencionais. Alguém decide e não se sabe porquê.
A mesma política de dissimulação, de manipulação das percepções face ao que importa.
Quanto aos dados que a citação apresenta só falta acrescentar (cito de memória) as 19 toneladas que perdemos num negócio de leasing, ou seja, num negócio de manipulação e supressão dos preços do metal que, ao longo de décadas, vão jogando os bancos centrais.
Alguém assumiu responsabilidades? Alguém sabe em nome de quê é que se haveria de fazer "o jogo especulativo do papel"?
Algum leitor pode acrescentar dados acerca desta questão?

Saudações,
LV