quinta-feira, 1 de maio de 2014

Metais Preciosos - o comentário pessimista


Comparação e percepção

Após um início de ano promissor, o preço dos metais preciosos procedeu a uma correcção e, neste momento, demonstra não ter direcção definida. A aparente falta de vitalidade no mercado para elevar o preço num movimento mais sustentado, foi inspirador para quem tem o trabalho de denegrir os metais, seja como investimento ou como reserva de valor.
Dado o contexto que temos estabelecido para os metais aqui no Espectador Interessado (seja para a produção, seja para a procura - aqui, aqui e aqui), e sabendo que dificilmente a China pode continuar a comprar ouro ao ritmo do ano passado ou das primeiras semanas deste 2014, alguns comentários têm sido avançados para orientar, para moldar a percepção do investidor ou aforrador comum para longe da hipótese dos metais, forçando a crença de que os problemas no sistema financeiro estão ultrapassados e que as pessoas podem continuar a esperar “prosperidade” deste sistema.




Um exemplo dessa orientação da percepção é o comentário pessimista acerca dos metais preciosos. Alguns comentadores procuram estabelecer um paralelo da actual situação nos preços com o passado, em particular com a queda acentuada registada, no ouro e na prata, há 20 anos. Para fazermos uma comparação que seja justa e adequada temos de ter presentes os seguintes factos relevantes (elencados por Ryan Jordan):
– Ao contrário de há vinte anos, o dólar não está a crescer face a outras moedas, está a marcar passo. Nesses anos, o dólar registou uma valorização de aproximadamente 50%. É difícil aceitar que o mesmo possa acontecer nos dias de hoje, quando a Rússia e a China estão abertamente a defender o afastamento e diversificação face ao dólar. A defender e, acima de tudo, a concretizar sucessivos acordos de parceira comercial e financeira com várias nações por esse mundo fora que deixam o dólar de fora.
– Ao contrário de há vinte anos, aqueles que fazem poupança no presente estão amordaçados com taxas de juro historicamente baixas e ainda ouvem banqueiros centrais dizer que é necessária mais inflação (alô? Draghi?). Contas feitas, é possível que estejamos com taxas de juro, efectivamente, negativas, o que só pode ser bom para os metais.
– Ao contrário de há vinte anos, uma classe média crescente no Médio Oriente, Índia e China pode absorver toda a produção mundial de ouro e prata, basta apenas que os respectivos governos não criem obstáculos. Obstáculos cuja intenção é fácil de entender. Não obstante, importa saber que a produção mundial de ouro e prata não pode ser aumentada com facilidade para responder a essa eventual procura.
Acrescentemos mais alguns dados - do presente - para esta consideração:
– Um ano passou desde a experiência de Chipre – experiência, seguramente, dolorosa de confisco dos depósitos – conhecido internacionalmente como bail-in. Alguém acredita que uma repetição dessa experiência na zona euro é impossível?
– Os indícios de falta de sustentabilidade dos fundos públicos de pensões.
– A cada vez mais provável correcção do mercado bolsista ao longo deste ano.
– O facto de se terem adensado as suspeitas de que há manipulação grave no mercado dos metais preciosos (segundo a BAFIN – regulador alemão – esta manipulação será mais grave do que a registada no caso LIBOR) Se há fumo...
Atendendo a estes dados e a este contexto que propósito têm os comentários e comparações dos pessimistas? Julgo que não podemos considerar estes comentários como informação útil. E, pela insistência, compreendo-os como manobras para a orientação da percepção.

Atendendo que é comum ter seguros sobre a casa, sobre o carro, seguros de saúde, gostava que os leitores considerassem esta última questão:
Por que razão não temos um seguro financeiro?

5 comentários:

floribundus disse...

a Europa já vendeu os anéis

e os dedos não servem para trabalhar

principalmente nesta república soviética
onde o ouro da pesada herança já mudou de herdeiros

taawaciclos disse...

"Por que razão não temos um seguro financeiro?"

Simplesmente porque o risco de segurar tal negócio mafioso é pior que o risco que segurar as investidas da água do mar!

Mas de resto, o acesso a "seguros" está restrito aos próprios bancos. Os swaps são um belo seguro, e como tudo é manipulado por estas entidades privadas (desde bolsas, taxas juro, mercados metais preciosos, etc) é normal que só os 4 maiores bancos dos EUA possuam em derivativos apenas $219 Triliões! Um belo seguro sem dúvida!

LV disse...

taawaciclos,

A pergunta que encerra o artigo é, de certo modo retórica. O seguro a que o texto se refere, face a todas as maroscas e esquemas que os estados e bancos inventam para perpetuar o mal (e que o seu comentário bem sublinha), é precisamente aquilo que os governos e bancos centrais não podem imprimir ou criar do nada: os metais preciosos. Estes representam-se por si mesmos, não são uma responsabilidade de mais ninguém. E o seu comportamento ao longo da história económica revela capacidades dificilmente igualáveis como reservas de valor. São, precisamente, seguros financeiros face à avalanche de papel que ameaça mostrar-se outra vez, a uma escala ainda maior do que em 2008.
Por que acha que o aforrador comum é afastado (através da manipulação da percepção, justamente) desse seguro para ficar amarrado a promessas escritas em papel?Ou em dígitos num computador?
Saudações,
LV

Lura do Grilo disse...

É difícil encontrar locais onde comprar lingotes. Frequentemente estão esgotados ou não se compram de todo nas ourivesarias.

LV disse...

Lura do Grilo,

Há várias possibilidades, desde lojas que representam certos fabricantes (nacionais ou estrangeiros) e alguns bancos, que têm agências que vendem tanto barras (1oz) como moedas (inglesas na sua maioria).
Muitas vezes, os vendedores dizem que estão esgotados certos produtos, apenas porque houve uma queda importante na cotação dos metais e não querem vender para perder algum dinheiro. Esquecendo-se que podem sempre adaptar os prémios das peças face aos constrangimentos do mercado. É um sinal de que o nosso mercado é muito pouco desenvolvido e transparente.
Esperemos poder contribuir alguma coisa para a mudança dessas circunstâncias.
Saudações,
LV