sábado, 1 de outubro de 2011

Epifanias serôdias, ciência e jornalismo

Foi necessária a intervenção da troika para que, finalmente, os media reconhecessem o escândalo, o autêntico despilfarro, da política de subsidiação, directa e indirecta (eólicas, barragens com bombagem reversível, centrais fotovoltaicas, centrais térmicas de backup para atender às intermitências das renováveis e,  ainda que parcialmente, os CAE e os CMEC) às novas energias renováveis até aí apenas assinalado por vozes isoladas, como Mira Amaral ou Sampaio Nunes, mas sobretudo na blogosfera, com especial destaque para o Prof. Pinto de Sá no seu A ciência não é neutra e para o Ecotretas.

Helena Garrido, jornalista especializada na área económica e ideologicamente próxima das doutrinas intervencionistas do Estado na economia (ver, por exemplo, este seu post)  só agora parece ter adquirido a firmeza para afirmar (à parte uns afloramentos no passado como, por exemplo, aqui e ali), como o fez no editorial do Jornal de Negócios de 5ª feira passada, para se indignar contra as irracionais rendas económicas que Sócrates & Pinho proporcionaram aos produtores das "novas renováveis". Escreve Garrido:
Ninguém pode estar contra uma política que favoreça a energia renovável, mas temos de estar todos contra uma política de renováveis que garante subsídios, não incentiva a procura de técnicas mais eficientes e se traduz numa subida dos preços da energia para valores que ameaçam a sobrevivência de toda uma sociedade.
Aleluia! Seja bem-vinda à realidade dos factos, sem tergiversações! Mas por que razão demorou Garrido tanto tempo a editorializar esta evidência? Creio que a resposta estará nestas suas linhas (realces meus):
Claro que quer as renováveis como a cogeração têm racionalidade económica. Comecemos pela energia renovável. Claro que a energia fóssil destrói o planeta, e claro que é preciso encontrar alternativas.
Eis assim como a jornalista sucumbiu ao propalado mas inexistente consenso científico sobre o aquecimento global entretanto "migrado" para "alterações climáticas". Os "claro que" de Helena Garrido nada têm de claro e são, pelo contrário, cada vez mais disputados. Não é claro que as renováveis ou a cogeração tenham  per se racionalidade económica. Se o tivessem não seriam necessários os maciços subsídios que por todo o mundo ocidental os governos estão despejando propagandeando miríficos "empregos verdes" pois os empreendedores tratariam de explorar as vantagens, por exemplo, dos ventos, das marés, dos raios solares grátisNão é claro que a energia fóssil destrói o planeta pelo que não é claro que seja necessário encontrar alternativas (pelo menos a qualquer preço). Nada disto é claro e, não o sendo, o único argumento que os "renováveis" poderiam brandir - o do iminente Armagedeão Climático - inexiste. Quando a jornalista se deixa seduzir pelo activismo político assente no "consenso" científico, o resultado é duplamente péssimo: para a ciência, o "consenso" (o quase unanimismo) é inimigo da inovação ou seja, da própria ciência; para a jornalista, a adesão a causas é equivalente à destruição do jornalismo.

2 comentários:

RioD'oiro disse...

Chapelada.

Anónimo disse...

Palmas.
Noronha Leal