terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os nossos avós e as pensões de velhice

A emergência e o sucessivo engordamento do Estado "social" foram motivando, ao longo dos anos, no que é a meu ver talvez a sua consequência mais negativa, uma desresponsabilização individual com contornos infantilizantes relativamente a um conjunto de valores que os nossos pais e especialmente os nossos avós perseguiram. Refiro-me à necessidade de constituição de aforro quer para acorrer a despesas imprevistas quer, sobretudo, para "segurar" a velhice e possibilitar uma transmissão da riqueza amealhada, ainda que parca, aos descendentes.

Ao longo dos anos, e contra toda a evidência empírica, nunca o PS, por razões meramente ideológicas, admitiu sequer discutir seja o plafonamento das pensões de reforma seja a introdução de mecanismos mistos para a formação das pensões de velhice. O que o PS fez, tendo a lata de alardear ter "salvo" o sistema de pensões (o que é falso, apenas o adiou por mais uns anos), foi simplesmente ir diminuindo os seus montantes.

Vem isto a propósitode um estudo hoje divulgado segundo o qual um indivíduo que hoje tenha 55 anos e se vá reformar aos 65 (se o limite de idade não se alterar entretanto como é, diria, inevitável...) só receberá 69% do último salário auferido, contra os cerca de 75% hoje. Por outro lado, um jovem de 25 anos que comece hoje a trabalhar, com as regras actuais, terá a esperar por si, após 40 anos de trabalho, uma pensão equivalente a apenas 53% do último salário.

Com esta informação disponível e permanecendo a teimosia de um Estado "social" nos moldes e abrangência que temos conhecido, o mais certo é que estes valores se degradem ainda mais pelo que os jovens que consigam ingressar no mercado de trabalho devem, o mais cedo possível, começar a constituir poupanças tendo em vista salvaguardar uma velhice condigna.

A força das circunstâncias irá obrigar os meus filhos a "regressar" ao tempo dos meus avós. Poupar é uma virtude. Sempre foi. Mesmo que os keynesianos tenham horror à poupança e vejam o consumo como a solução de todos os males, nem que seja a crédito, por tempo indefinido. Foi assim que chegámos onde chegámos.  

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