terça-feira, 22 de março de 2011

Da suposta iliteracia financeira das famílias (act.)

Os Governos vivem da tomada de "medidas", da necessidade de, em especial em tempos de dificuldades, "fazer algo" ("do something"), mesmo que esse algo acabe por ter consequências frequentemente inversas das inicialmente pretendidas (congelamento das rendas, salário mínimo, escolaridade obrigatória, etc.). Em Portugal, muito em particular porque não há qualquer espécie de fact-checking (à excepção de alguns bloggers), não se foge a esta regra.

Outra actividade favorita dos Governos é a de fornecer "incentivos" que têm uma racionalidade: as pessoas precisam de ser "empurradas" para tomarem certas decisões, primeiro pela presuasão e, se necessário for, pela imposição porque, supostamente, não conseguirão por si só encontrar o rumo certo para governarem as suas vidas.

Vem isto a propósito da leitura de três notícias ontem constantes do Jornal de Negócios, todas elas relativas a instrumentos de poupança. Assim, enquanto se noticiava que os Certificados do Tesouro atraem mais de 110 milhões das poupanças dos portugueses (apenas em Fevereiro, 212 milhões desde o início do ano no saldo, positivo, entre novas subscrições e resgates) também se dava conta que os Certificados de Aforro perdem mais de 250 milhões em Fevereiro (441 milhões desde o início do ano no saldo, negativo, entre novas subscrições e resgates). Ou seja, e resumindo, se é verdade que os Certificados do Tesouro se tornaram mais atractivos que os Certificados de Aforro a verdade é que, no conjunto dos dois instrumentos, estão aplicados em dívida pública menos 230 milhões de euros por cidadãos portugueses. Este é o resultado dos (des)incentivos governamentais, incompreensível quando o país enfrente uma enorme dificuldade em colocar externamente dívida pública, mas totalmente racional face à machadada na confiança, que irá durar anos anos a reparar.

Em contrapartida, e como resultado da dificuldade da banca portuguesa em encontrar financiamento externo, esta tem vindo a ser obrigada a remunerar a taxas mais atractivas os tradicionais, mas "seguros", depósitos a prazo. Resultado: Depósitos das famílias atingem máximos de 1989. E não é que não foram precisos incentivos estatais para obter tal resultado?
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Nota: por inadvertimento, foi publicado este post amputado dos dois últimos parágrafos e de parte do segundo o que tornava o texto incompreensível. Acresce que o título "original" continha um erro ortográfico lamentável que um generoso Anónimo assinalou.

2 comentários:

Anónimo disse...

iliteracia talvez? ou é ironia?

Eduardo Freitas disse...

ironia, ironia...