Quando, no final de 2009, começou a emergir parte da verdade sobre o desastre da execução orçamental que, segundo o Governo, por altura das eleições legislativas de de 27 de Setembro desse ano, corria de acordo com o "padrão de segurança", para todos ficou claro que a campanha eleitoral tinha decorrido sobre uma verdadeira bulra. Não só a situação financeira do Estado se tinha afinal agravado perigosamente, apesar das palavras de sossego do Ministério das Finanças antes das eleições, como se sabia no Governo que o próprio programa eleitoral do PS não era para ser executado pelo simples facto de não haver dinheiro para o cumprir. Recordem-se algumas passagens deste documento (página 43):
Foi por ter posto, em devido tempo, as contas públicas em ordem que Portugal pôde dispor dos recursos necessários para apoiar as empresas, o emprego e as famílias quando se fizeram sentir os efeitos da crise económica mundial.
Finanças públicas sãs que asseguram, também, de forma duradoura e socialmente justa, a viabilidade financeira dos diversos serviços públicos e dos sistemas de saúde e de protecção social.
Quando a verdade emergiu, fosse Portugal um país com cultura democrática responsabilizante, o partido que ganhou as eleições em 2009 teria, por sua própria iniciativa, pedido desculpa aos portugueses e tomado a iniciativa de substituir o primeiro-ministro, formando um novo governo. Teria sido a única forma de evitar a continuação do total desgoverno Sócrates II respeitando, ainda assim, os resultados de Setembro de 2009. Mas Sócrates tudo tinha secado ao seu redor. Esperei de figuras como Medeiros Ferreira, Francisco Assis, Manuel Maria Carrilho, António José Seguro ou Mário Soares uma palavra forte. Mas o que houve foi um silêncio apenas quebrado, honra lhe seja feita, por Henrique Neto.
Começaram de seguida os "PEC" ou, melhor, as sucessivas doses de austeridade: Março de 2010, Julho de 2010, Outubro de 2010, Março de 2011. Com eles, não só se foram as promessas do cheque bébé, da melhoria do abono de família e de outras prestações sociais como, pelo contrário, se contrairam essas mesmas (e outras) prestações sociais, no pretexto de assim se salvar o Estado Social, reduzindo-o sucessivamente.
Sócrates, com a forma que escolheu na condução do PEC IV, optou pela via das eleições a curto prazo. Foi ele que as marcou pensando que agindo dessa forma terá pelo menos a hipótese de perder por poucos capitalizando de seguida o inevitável reforçar das medidas de austeridade que o próximo governo tomará. Passos Coelho, encurralado pela estratégia (?) que traçou, irá para eleições num tempo que não escolheu.
Entretanto, agora sim, algumas das personalidades do PS decidiram marcar terreno, publicamente: Medeiros Ferreira, prefereria que o PS fosse para eleições com outro rosto que não Sócrates; Manuel Maria Carrilho, que diz estarmos num beco sem saída, defende eleições antecipadas; Mário Soares acha que Sócrates cometeu erros graves que lhe hão-de sair caro; Sérgio Sousa Pinto diz algo de semelhante. Seguro, não fala publicamente, mas age em linguagem gestual. Que tenham sucesso para bem do PS. O que não é possível perdoar-lhes é o ano de atraso com que emitem estas opiniões.
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