quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A ecotópica supressão do risco (2) – a energia nuclear

Quando o Presidente Eisenhower se dirige às Nações Unidas, em Dezembro de 1953, profere o que ficou conhecido para a história como o discurso “atoms for peace”, que visava, através das capacidades da energia nuclear, “proporcionar energia eléctrica abundante às áreas ávidas de energia por todo o mundo”.

E, de facto, a primeira central nuclear comercial a produzir electricidade começou a operar na Grã-Bretanha, em 1956, o mesmo sucedendo, no ano seguinte, nos EUA. A partir daí, o crescimento da produção de electricidade a partir das centrais nucleares foi relativamente rápido até meados da década de 70.

Entretanto, em paralelo, Hollywood “trabalhava” a opinião pública para o perigo, letal, das radiações. Logo em 1959, com On the Beach, em que o personagem interpretado por Fred Astaire, a certa altura, diz: “We’re all doomed, you know. The whole silly, drunken, pathetic lot of us. Doomed by the air we’re about to breathe”. Nos media, a atmosfera era semelhante. Por exemplo, Edwin Newman, jornalista na NBC, em 1970, declarava que “by the end of the decade our rivers may have reached the boiling point; three decades more, and they may evaporate. . . . One of the causes of this thermal pollution is the spread of nuclear plants across the land”. O movimento anti-nuclear

Passados uns anos, quando o “Nuclear Power? No, thanks!” já estava na moda, ocorre uma coincidência, que condicionará em muito o futuro da utilização da energia nuclear para a produção de electricidade: em Março de 1979 é distribuído o filme The China Syndrome, tendo por protagonistas Jane Fonda e Michael Douglas, cujo argumento consistia num grave acidente numa central nuclear onde o núcleo do reactor “derretia”, daí resultando um buraco até ao outro lado da Terra (a China); passadas duas semanas, ocorre o acidente de Three Mile Island, na Pensilvânia. Ninguém morreu ou ficou ferido, à excepção da própria indústria nuclear. A partir daí, sucederam-se as decisões de cancelamento de construção de novas centrais. Com Chernobyl, em 1986, o mais grave acidente nuclear de sempre, ainda que, 20 anos após o acidente, só tenham sido apuradas 50 mortes (todas elas de pessoal que trabalhava na central), o xeque-mate parecia definitivo. O facto de a conjugação de um terrível terramoto com um tsunami este ano no Japão tenha provocado 25 mil mortes, dos quais apenas 4 na central nuclear de Fukushima, não parece inverter a forma como as centrais nucleares são encaradas.

Curiosamente, que tenha dado conta, só o conhecido ambientalista George Monbiot mudou de opinião. Escrevia ele, no Guardian, a 21 de Março deste ano: “Atomic energy has just been subjected to one of the harshest of possible tests, and the impact on people and the planet has been small. The crisis at Fukushima has converted me to the cause of nuclear power”. Todavia, a irracionalidade permanece na grande maioria da opinião publicada e, portanto, dos decisores políticos.

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