domingo, 11 de novembro de 2012

A tragédia dos comuns da democracia portuguesa

Um extracto da crónica de Alberto Gonçalves, intitulada "A Oeste nada de novo" onde se evidencia a dissonância cognitiva vigente:
É preciso notar que o eleitorado, ou pelo menos a parte do eleitorado que pesa, não está descontente com os senhores da coligação do poder por estes terem demorado ano e meio a iniciar, segundo consta, um esboço de reforma estatal. O eleitorado anda irritado porque o Governo vem aumentando os impostos para evitar bulir no Estado. Quando, e se, bulir, o eleitorado andará irritadíssimo. Poucos são os que desejam reformas, "refundações" ou mudanças: milhões de criaturas sonham com a imobilidade absoluta, mesmo após constatarem que essa imobilidade possui um custo que, a pronto ou habitualmente a crédito, não poderemos continuar a pagar.
Paradoxal? Os paradoxos não nos atrapalham. É por isso que enquanto nos queixamos da crise estamos dispostos a legitimar nas urnas o exacto partido que apressou a crise e as exactas alucinações que tornaram a crise obrigatória. Como o maluquinho que volta a enfiar o dedo na tomada depois de cada choque, uma impressionante quantidade de portugueses não aprende. E é duvidoso que venha a aprender.

2 comentários:

Pedro Mendonça disse...

É deveras duvidoso não haja dúvida.
Saiu esta notícia no expresso "A Comissão Europeia aprovou a proposta portuguesa de tributar a loiça cerâmica chinesa que entra na União Europeia, aplicando-lhe taxas alfandegárias que vão até 58,6%" [1] e veja-se os comentários dos leitores:

"Neste momento de crise, é preciso protecionismo para evitar as subidas de desemprego. Tudo o que é extra-comunitário tem de ser taxado."

"Se os Chineses respeitassem o direitos humanos e pagassem os mesmos salários que se pagam na Europa, queria ver se eles podiam paraticar os mesmos preços."

"Enquanto estivermos na UE ainda estamos protegidos, se bem que a nossa Classe Política pouco faça em benefício do País devido a estas circunstâncias. Se fossemos um País que produzisse mais do que consumisse, se fossemos um 'farol' de tecnologia e ciência, podíamos ficar sozinhos que o mal não era nenhum, mas assim... "

"FINALMENTE UMA PEQUENA GRANDE VITÓRIA! HÁ QUE ACORDAR OS EUROPEUS!"


Enfim centralização e protecionismo... já dizia RAP q com portugueses n vamos lá (mas noutro contexto lol), e nós, portugas, com um potencial tão bom para o mercado livre.

[1] - http://expresso.sapo.pt/portugal-vence-a-guerra-da-ceramica-contra-a-china=f766724

Eduardo Freitas disse...

Caro Mendonça,

Tem toda a razão. Também reparei no artigo que refere e acho perfeitamente deplorável o seu tom que, aliás, reflecte o que algumas elites, economicamente iliteratas - para ser contido nos adjectivos -, vão defendendo.