A Suíça é o local que tradicionalmente se mantinha acima de todos os restantes quanto à reputação da sua estabilidade financeira.
Porquê? Porque a moeda era bem gerida, o sistema bancário era sólido, e o país tinha uma longa tradição em bem tratar o capital.
Ao longo dos últimos anos, no entanto, essas vantagens desapareceram.
A Suíça, voluntariamente, renunciou ao sigilo bancário e muitos dos bancos suíços estão sofrendo agora uma hemorragia de fundos.
E, pior, o governo suíço destruiu a sua reputação de respeito pelo capital quando ligou a cotação do franco suíço ao euro, em 2011, para deter a rápida ascensão do franco.
O principal banqueiro do banco central do país na época, Philipp Hildebrand, afirmou que iria comprar moeda estrangeira em "quantidades ilimitadas" para defender essa ligação [ou seja, impedir uma valorização do franco face ao euro].
Isto não é algo que um administrador responsável por uma moeda possa alguma vez dizer. A paridade cambial não era nada mais que uma forma do controlo de capitais... e na realidade isso prejudicou fortemente quem quer que tivesse confiado as suas poupanças ao sistema suíço.
Desde então, a necessidade do mercado em encontrar um refúgio financeiro seguro tornou-se cada vez mais desesperada. Basta olhar para Chipre para perceber por quê.
E todavia apenas um pequeno punhado de países inspiram confiança no mercado. E o mais popular parece ser a Austrália.
De uma perspectiva macro, a Austrália está em muito melhor forma do que a restante hierarquia ocidental falida.
Embora o défice orçamental nacional tenha vindo a aumentar ao longo dos últimos anos, a dívida pública da Austrália, em percentagem do PIB (menos de 30%), é uma pequena fracção da dos EUA, da França, da Itália, etc.
Além disso, como a economia australiana é fortemente dependente das exportações de recursos naturais, é um país com uma "moeda mercadoria", numa situação muito parecida à do Canadá. Mas ao contrário do Canadá, que está "amarrado" aos EUA, a economia da Austrália está muito mais intimamente ligada à crescente posição dominante da Ásia.
Talvez ainda mais importante, no entanto, seja o facto de a Austrália não estar a imprimir dinheiro com a desenfreada libertinagem que o resto do mundo está a levar a cabo.
Com efeito, o balanço do RBA (o banco central da Austrália) tem até mesmo vindo a diminuir, tendo passando de 131 mil milhões para apenas 81 mil milhões australianos em 2012.
Tal constitui uma redução de 38% nos activos do banco central em cinco anos. Em comparação, o crédito da Reserva Federal dos EUA cresceu 367% no mesmo período. Esta é uma diferença extraordinária.
As taxas de juros australianas são tipicamente muito maiores do que nos EUA, na Europa ou no Canadá. A simples detenção de dinheiro numa conta bancária australiana pode render mais de 4% de juros anuais. É triste dizê-lo, mas isso é bastante nos dias de hoje...
(...)
De qualquer forma, tenhamos em atenção que não existe realmente tal coisa como uma "boa" moeda fiat. Mas, atentos estes fundamentos, é fácil ver por que razão está a Austrália a substituir a Suíça enquanto refúgio financeiro global.
Passei os últimos dias com alguns amigos meus banqueiros e eles contaram-me do surto de capital estrangeiro que está a chegar à Austrália vindo da Europa, dos EUA e da China.
Mas uma coisa a ter em mente, recordaram-me, é que o dólar australiano tem uma relação estreita com o preço do ouro. Afinal, o ouro é a terceira maior exportação da Austrália.
Consequentemente, iremos provavelmente assistir a um declínio no dólar australiano se a correcção do ouro continuar. Tal pode vir a revelar-se como um boa porta de entrada para levar as pessoas a abandonar o dólar americano.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Austrália: a "nova" Suíça?
Com o título que encima este post, Simon Black, via ZH, assina o artigo que abaixo traduzo. A motivação residiu, evidentemente, na fortíssima inquietação por que passam todos aqueles que procuram, de um modo ou de outro, proteger as suas poupanças. Mesmo se tal não for o caso do leitor, creio que Simon Black nos permite ficar a conhecer um pouco mais do que se vai passando no mundo ocidental.
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