quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Da particular "oportunidade" da greve geral

Como era muito provável acontecer, o anúncio do bailout à Irlanda em nada acalmou os mercados. Se algo parece ter acontecido, é exactamente o contrário. Veja-se a já habitual tabela, às 19:45 de hoje:


Desde anteontem, a taxa de juro pedida no mercado secundário para as obrigações a 10 anos subiu 37 pontos para Portugal e 34 pontos para Espanha. Tudo parece ir-se precipitar rapidamente restando saber se a infecção chega ou não a Espanha. A greve de hoje por cá outra coisa não fez senão ajudar à "festa" (veja-se a imprensa internacional).

É interessante ler a opinião da Der Spiegel quanto às perspectivas para o euro e verificar que são até algo optimistas mesmo quando sabem (os alemães) que "manda quem paga". A figura seguinte, retirada da mesma revista, fornece uma chave de leitura para a actuação das autoridades alemãs no que toca à defesa das posições dos seus bancos face aos empréstimos que estes forneceram aos PIIGS.


6 comentários:

António Parente disse...

A greve de hoje influenciou as taxas de juro no mercado secundário da dívida pública? Como?

declaração de interesses: não fiz greve nem faço greves, qualquer que seja a sua natureza mas defenso o direito dos outros a fazê-la.

Eduardo Freitas disse...

Não sou eu que o afirmo embora subscreva a análise. Veja, por exemplo, o Finantial Times.

O facto de não concordamos com a realização de uma greve nada implica quanto à legitimidade de quem a pratica mas ou de quem não a quer praticar.

António Parente disse...

Experimente ler este artigo no Wall Street Journal online:

"The Euro-Zone Crisis Is Speeding Up"

Eduardo Freitas disse...

Caro António Parente,

Sim, já tinha lido. Qual é o ponto que pretende sublinhar? Que o WSJ não refere explicitamente que a manifestação grevista é um sinal de dificuldade acrescida de implementação das medidas de austeridade que são absolutamente necessárias?

Regresso ao Finantial Times. Aqui; ao Guardian, aqui; New York Times, aqui; Der Spiegel, aqui. Entre muitos outros.

António Parente disse...

Caro Eduardo F.,

O ponto que pretendo sublinhar é que as notícias sobre a incapacidade do Governo em controlar a despesa pública é um factor mais importante que a greve geral. Mesmo sem greve geral as taxas estariam neste nível.

A greve serviu para os lesados pela política orçamental do Governo mostrarem o seu descontentamento. Não há mais consequências. Mesmo os que fizeram greve têm consciência que não existe alternativa.

Uma greve geral serve para aliviar alguma tensão social. Se deixarmos acumular frustrações, um dia quando damos por isso estamos metido numa espiral de violência que não conseguiremos controlar.

Eduardo Freitas disse...

Quando a fogueira já vai alta, deitar-lhe gasolina para cima em nada ajuda...

Para terminar esta simpática troca de argumentos, digo-lhe que há muito que não recordo haver, em simultâneo, tantas notícias "negativas" sobre Portugal precisamente numa altura em que já estávamos bem chamuscados...