terça-feira, 2 de novembro de 2010

Verdades simples

Muito justamente João Gonçalves chama a atenção para a entrevista que Fernando Savater deu ao Expresso (caderno Actual), no passado sábado. Uns dias de caos cá em casa redundaram no sumiço do jornal mas, felizmente, houve quem tivesse publicado a entrevista na net (disponível aqui). A entrevistadora é Cristina Margato, bem representativa do estado a que a Escola chegou. Um excerto:
Se a escola estivesse organizada em ambiente democrático, os estudantes não poderiam aprender a cidadania pelo exemplo e prática?A escola não é democrática. Nem deve sê-lo. A escola é a preparação para a democracia. Uma aula é hierárquica. O professor está sempre acima dos alunos. A escola deve estar a preparar os jovens para ser cidadãos. A escola não tem os mecanismos da democracia nem deve ter.

O modelo atual também já não é ditatorial. A escola vive em estado de crise. A escola sempre viveu em crise. Os escritores do século XVIII já falavam nessa crise. A escola anda sempre atrás da sociedade, na medida em que os professores foram educados no passado e tem de educar para o futuro. Essa crise é a da sociedade. As pessoas que transmitem conhecimento, e preparam o futuro, vêm do passado, e eles próprios estão a lutar para se colocarem à altura da sociedade em que vivem.

Em Portugal, os professores já perderam as suas defesas.Em Espanha, e noutros países europeus, aconteceu o mesmo. Há uma teoria, uma tendência, que iguala os professores aos alunos e que faz com que os professores percam o respeito dos alunos. Convencionou-se que o professor tem de inspirar respeito dentro da aula. Ora, se o professor tem tanta autoridade como o aluno a aula não funciona.
Fez o prefácio do “Panfleto Anti-Pedagógico” de Ricardo Moreno Castillo, onde ele defende um modelo de professor mais autoritário e, logo, mais antigo. Moreno Castillo defende um modelo de professor que seja possível dentro de uma sala de aula. As aulas não são uma reunião de amigos nem um recreio. São um lugar onde se transmite conhecimento. Toda a gente aceita e entende que um treinador de futebol dê ordens aos seus jogadores. Já o mesmo modelo numa escola parece que começou a ser (erradamente) entendido como algo escandaloso.

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