quinta-feira, 10 de março de 2011

Como começar a enfrentar o monstro

A avaliar pelos jornais, o discurso de ontem de Cavaco Silva não foi apenas mais um discurso de tomada de posse. Antes terá sido o discurso mais cru(el) que algum político terá pronunciado pelo menos desde o 25 de Abril sobre a realidade portuguesa em que Cavaco Silva várias vezes apelou ao empreendorismo, à libertação da "sociedade civil" da tutela do Estado e do combate ao clientelismo pantanoso que se estabeleceu na fronteira entre o público e o privado.

Há quem, por razões meramente ideológicas, não concorde com Cavaco tendo classificado o discurso como sendo "próprio de um discurso de facção, um discurso sectário". Outros houve, pelo menos no plano da retórica, que aplaudiram veementemente as palavras do presidente. Assistimos aliás à esquizofrénica situação de um presidente, eleito por sufrágio universal e por maioria absoluta, ser aplaudido pela minoria dos parlamentares sob os inaudíveis apupos da maioria dos mesmos.

Os problemas do país são gravíssimos no curto e médio prazos e as suas consequências, mesmo que os enfrentássemos hoje com a dureza e determinação necessárias irão provavelmente sentir-se a longo prazo (10 anos?). Porém, caso impere o tergiversar habitual e a tomada de "medidinhas" (baptismo do João Miranda), o desastre poderá prolongar-se por toda uma geração.

Daí que, a meu ver, faça todo o sentido tomar como nossa a posição de Rand Paul (no clip abaixo) sobre o gigantesco desequilíbrio orçamental e o nível absurdo do endividamendo dos EUA. Por exemplo, sobre o déficit estimado para o ano orçamental corrente de cerca de 1,6 triliões de dólares, os Democratas propõem uma redução na despesa pública de 6 biliões de dólares (correspondente a cerca de 1 dia de acréscimo de endividamento!), enquanto os republicanos propõem um "ambicioso" corte de 60 biliões (cerca de 10 dias de endividamento!). Parafraseando Rand Paul, isto é brincar com coisas sérias.

Tal como os Americanos, também os Portugueses têm que perceber que não se pode viver eternamente acima das nossas posses sob pena do colapso que se abaterá - que se está já a abater - sobre os portugueses. É necessário discutir as funções do Estado, redefinindo-o e encurtando-o significativamente.

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