sábado, 4 de maio de 2013

Breve reflexão sobre o pensamento mágico em vigor

Qual a razão que leva o comum das pessoas a pensar que, ao contrário do que sucede com uma qualquer entidade privada (famílias ou empresas), seria possível ao estado, sistemática e indefinidamente, gastar mais do que colecta através dos impostos (actuais ou futuros/diferidos)?

Será por ser ele, estado, que detém o monopólio legal da emissão de papel-moeda, por essa via obtendo a "isenção" da observância de um princípio elementar que reconhecemos como evidente e essencial na gestão das finanças familiares? Dificilmente. Com efeito, se aceitássemos este excepcionalismo como válido, não seria lógico que, por exemplo, o Zimbabwe fosse hoje uma das nações mais ricas do mundo? Mais: se o que nos separa da prosperidade é simplesmente pôr "as rotativas a trabalhar", de que raio estamos à espera?

Se será razoável supor que muitos intuam o funcionamento da lei da procura e da oferta num mercado (como creio que suceda no quotidiano com os produtos agrícolas), qual a razão que leva quase todo o mundo a supor ser possível contrariá-las, por mero acto de vontade política, por exemplo através da fixação de um salário mínimo nacional? Acaso esperarão que o emprego cresça quando se aumenta administrativamente o seu preço?! Parece que nada se aprendeu com a ruína do comunismo e com a impossibilidade de funcionamento de uma economia desprovida de um sistema de preços reais.

É certo que há economistas (?) que muito têm contribuído para alimentar esta trágica e generalizada iliteracia económica. Paul Krugman é, evidentemente, um dos mais proeminentes como o título do seu último livro manifesta - End This Depression Now! Para o über-ultra-hiper-keynesiano e seguidores, a receita para a saída da crise é muito simples: o estado deve "estimular" a economia aumentando os níveis de despesa pública ao mesmo tempo que o banco central faz a sua quota-parte "estimuladora" imprimindo furiosamente moeda e manipulando as taxas de juro para níveis a rondar os zero por cento (quando não negativas!). O quanto gastar e o quanto imprimir é algo de indefinido - é "o que for preciso". A regra a observar é, pois, muito simples: ir aumentando sucessivamente as doses até que, um dia, finalmente, a crise acabe. Quando tal suceder, invocará a sua razão e lamentará o tempo perdido e a (supostamente inútil) dor provocada na perseguição dessa coisa terrível que é a "austeridade" - post hoc ergo propter hoc.

Na promoção da irracionalidade (insanidade lógica), a novilíngua é evidentemente indispensável. Gastar passou a ser considerada uma virtude enquanto poupar se transformou numa actividade de desprezível avareza e, em consequência, merecedora do respectivo opóbrio e merecido castigo - as tais taxas de juro nominais de 0%. Levando o "raciocínio" um pouquito mais além, há até quem defenda como solução um "regime de despesa privada obrigatória"!

Confirma-se assim que a Grande Insanidade, o "Pensamento Mágico", se instalou. Como Gary North observou, "Politicians cannot bring themselves to stop spending money the governments do not have" e, acrescento eu, haverá sempre "economistas" dispostos a sancionar, "cientificamente", a vontade dos políticos.

Não vejo pois razão alguma para optimismos.

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P.S.: tenho por dispensáveis quaisquer comentários às "medidas" ontem anunciadas por Passos Coelho bem como quanto à "agenda para o crescimento" que o ministro Álvaro Santos Pereira tirou da cartola. Não tenho nada para acrescentar ao que aqui escrevi.

1 comentário:

Sérgio disse...

Excelente reflexão, como sempre habituou os leitores deste blog.
Acabei de ler o artigo citado "regime de despesa privada obrigatória", ainda pensei que no final do artigo ia encontrar algo que remetesse o texto para um artigo cómico ou irónico, mas não, não consigo perceber como um investigador e professor de um instituto de ensino superior consegue propor desta forma um atentando à mais elementar liberdade económica.
Felizmente os comentários ao texto fazem-me ter esperança que este país talvez ainda tenha futuro.