Num belíssimo texto - The Economic Lessons of Bethlehem - LLewellyn H. Rockwell fornece chaves de interpretação associadas à Natividade que poderão surpreender muitos. A par do texto que ontem publiquei relativo à família, aqui deixo o meu contributo (atrasado um pouco no calendário cristão ocidental, que não do ortodoxo) relativamente à quadra que atravessamos. Espero ter conseguido não o desfigurar completamente. Em qualquer caso, como em todas as traduções que levo a cabo, aqui fica o costumeiro aviso: é sempre preferível ler o original.
Umas Boas Festas!
Bem no centro da história do Natal estão algumas importantes lições relativas à livre iniciativa e ao estado, bem como ao papel da riqueza na sociedade.
Comecemos com uma das frases mais famosas: "Não há lugar na estalagem". Esta passagem é frequentemente invocada como veiculando uma rejeição cruel e insensível para com os fatigados viajantes, José e Maria. Muitas variantes da história evocam imagens do casal a ir de estalagem em estalagem apenas para ouvirem os donos gritar-lhes para que se fossem embora e lhes fechavam a porta na cara.
Na verdade, as estalagens estavam cheias a transbordar em toda a Terra Santa devido ao decreto do imperador romano que impunha um recenseamento geral para que todos pagassem impostos. As estalagens são empresas privadas e os clientes são a sua essência vital. Não teria havido nenhuma razão para recusar este homem de linhagem real e a sua bela senhora, já perto de dar à luz.
Em qualquer caso, o segundo capítulo de São Lucas não diz que eles foram sucessivamente rejeitados, local após local. Nele se refere a caridade de um dono de uma estalagem, talvez a primeira pessoa que encontraram, que, afinal, era um homem de negócios. A sua estalagem estava cheia, mas ele ofereceu-lhes o que tinha: o estábulo. Não há nenhuma menção de que o estalajadeiro tenha cobrado ao casal uma moeda de cobre que fosse, ainda que o pudesse ter feito, o que seria de resto seu legítimo direito enquanto proprietário.
Imagem retirada daqui
E no entanto nem sequer sabemos o nome do estalajadeiro. Em dois mil anos de celebração do Natal, são hoje inexistentes tributos ao dono da estalagem. Tal é o destino do comerciante ao longo de toda a história: prosperar fazendo o bem, para acabar esquecido dos serviços que prestou à humanidade. É notável, pois, pensar que quando o Verbo se fez carne com o nascimento de Jesus, tal sucedeu através do trabalho de intercessão de um empresário privado. Sem a sua ajuda, a história teria sido de facto muito diferente. As pessoas queixam-se da "comercialização" do Natal, mas é evidente que o comércio esteve lá desde o início, desempenhando um papel louvável e essencial.
Claramente, se havia uma escassez de acomodações, isso ficou a dever-se a um evento incomum e que foi provocado por alguma distorção do mercado. Afinal de contas, se fossem frequentes as situações de escassez de quartos em Belém, os empresários ter-se-iam dado conta de que havia oportunidades de lucros por via de uma solução sistemática deste problema, e teriam construído mais pousadas.
Seguindo adiante na história, chegamos aos Três Reis, também chamados de Reis Magos [ou homens sábios]. Fale-se de uma anomalia histórica para logo duas se juntarem! A maioria dos reis comportava-se como o executor local do imperador romano, Herodes. Este não se limitou a ordenar às pessoas que deixassem as suas casas e suportassem os custos da viagem para que pudessem ser tributados. Herodes era também um mentiroso: ele disse aos Reis Magos que queria encontrar Jesus para que ele pudesse "vir adorá-Lo". Na verdade, Herodes queria matá-Lo. Temos assim, uma outra lição: não é possível confiar num membro da clique política para falar a verdade. Desde logo, foi devido a um decreto governamental que Maria e José, e tantos outros como eles, estavam em viagem. Eles tiveram que sair de suas casas por receio dos recenseadores e dos cobradores de impostos do imperador. E considerem-se ainda os custos da extenuante viagem "da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David", para não falar dos custos de oportunidade em que José incorreu por ter de deixar o seu próprio negócio. Obtemos assim uma outra lição: os ditames coercivos governamentais distorcem o mercado.
Uma vez encontrada a Sagrada Família, que presentes trouxeram os Reis Magos? Não sopa e sanduíches, mas "ouro, incenso e mirra". Estes eram os bens mais raros no mundo daqueles tempos pelo que devem ter custado um preço de mercado muito elevado.
Longe de os rejeitarem como extravagantes, a Sagrada Família aceitou-os como presentes dignos do Messias Divino. Também não existe registo que sugira que a Sagrada Família deles tenha pago imposto de capitais, apesar de tais ofertas terem aumentado em muito a sua riqueza líquida. Eis, pois, uma outra lição: não há nada de imoral na riqueza, a riqueza deve ser valorizada, possuída privadamente, oferecida e trocada.
Quando os Reis Magos e a Sagrada Família souberam do plano de Herodes para matar o Filho de Deus recém-nascido, resignaram-se e submeteram-se? De todo. Os homens sábios, sábios que eram, enganaram Herodes e "regressaram à sua terra por outro caminho" arriscando as suas vidas (mais tarde, Herodes ordenou uma busca furiosa para tentar encontrá-los). Quanto a Maria e José, um anjo aconselhou José: "[T]oma o menino e a sua mãe, e foge para o Egipto". Em suma, eles resistiram. Lição número quatro: os anjos estão do lado daqueles que resistem ao estado.
Llewlling H. Rockwell, Jr.
Nas narrativas do Evangelho, o papel da iniciativa privada, e a iniquidade do poder estatal, só ali começam. Jesus utilizou exemplos comerciais nas suas parábolas (por exemplo, na dos trabalhadores da vinha como na parábola dos talentos) e deixou claro que ele tinha vindo para salvar até mesmo invectivados pecadores como os cobradores de impostos.
E assim como o Seu nascimento foi facilitado pelo proprietário de uma "estalagem", a mesma palavra grega "kataluma" é utilizada para descrever a localização da Última Ceia, antes de Jesus ser crucificado pelo governo. Deste modo, a empresa privada estava lá desde o nascimento, pela vida fora e até a morte, proporcionando um refúgio de segurança e produtividade, tal como sucede no nosso tempo.
7 comentários:
o importante é o símbolo.
o nome tem pouca importância.
da infância e juventude pouco se sabe
nunca são referidos os beneficiários dos milagres,
com excepção de Lázaro
referidas apenas as ceias em casa de Marta e de Simão,
contudo deviam comer todos os dias
o pai, por trabalhar por contra própria, era um explorador do povo
não estando a captar tudo no post, chamo a atenção para quem não conheça os textos da Grecia antiga em que estes e outros relatos se encontram escritos mais de mil anos antes das datas apontadas para os que se referem aos apostolos e Jesus.
Caro Eduardo,
Continuo sem entender estas referências ao catolicismo como algo de virtuoso. O catolicismo é a antíteses de tudo aquilo que parece defender: liberdade, responsabildiade, individualidade, progresso.
E continuo sem entender como em 2013 ainda há espaço para as pessoas acreditarem em tanta treta que visa apenas o controlar a sociedade.
Detesto testemunhar o tempo de antena que é dado a esta Papa Francisco para ele poder dizer as asneiras que diz e ser aplaudido por isso.
Caro BC,
Ao longo da História, a instituição suprema do controlo da sociedade é o estado, não a religião. E se, nos dias que correm, o estado religioso é tido como particularmente opresssor, bastará recuar uns anos apenas para se ter presente que o estado laico - e anti-religioso - pode assumir proporções incomensuravelmente mais trágicas e do que o conjunto das diferentes teocracias ao longo dos milénios.
Considerar a religião benigna porque a História revelou esquemas totalitários mais cruéis é um exercício duvidoso e, para mim, inoportuno.
Eu sou contra o estatismo vista ele a roupagem que vestir. Mas a religião é mais do que estatismo, é totalitarismo. Por muito fofinho que seja o Papa, se lhe abrirmos a porta a agenda dele não é muito da de Estaline ou Hitler. Impor o pensamento único, a obediência social e exterminar qualquer movimento ou credo dissidente.
Caro BC,
As suas afirmações, por vezes, vão para além da polémica. Parece-me ser este o caso pelo que não vale a pena alimentar o que quer que seja.
Em qualquer caso, talvez lhe possa ser útil, a dilucidação que Christopher Monckton aqui faz das semelhanças e diferenças entre "religião" e "ciência".
Caro Eduardo,
De novo a tentar legitimar a religião indo buscar um exemplo de outro tipo de totalitarismo. Monckton tem toda a razão quando afirma que os partidários das alterações climáticas antropogénicas não são cientistas e estão muito mais perto de padres a pregar a religião.
Repare Eduardo, que a estranheza que lhe provoca o meu ateísmo é a mesma desconfiança que o libertarianismo provoca a um socialista.
A religião, por estar tão enraizada entre as pessoas e por parecer tão bondosa, é a forma mais perigosa de controlo das sociedades que o Homem já criou.
Enviar um comentário