quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Regulação e cálculo económico (II)

Robert Higgs, hoje reformado, encontrou o tempo e a disponibilidade mental para, entre sessões de homeschooling ao seu enteado e do cuidar dos animais da quinta onde vive com a família, iluminar o feed de notícias de quem o segue no facebook. O gigante intelectual que se dedicou ao estudo das razões que têm presidido ao crescente peso do estado (onde "Chrisis and Leviathan", de 1987, é uma peça essencial) e que avançou com a conjectura conhecida por "regimede incerteza para explicar a (até então) anormal duração da Grande Depressão, encontrou agora um registo de uma sobriedade, elegância e humor que se aliam à sua enorme sabedoria. Eis um seu exemplo que, humildemente, procurei traduzir o melhor que soube:
"A teoria das falhas de mercado é um dos desenvolvimentos mais infelizes do mainstream económico do século passado.

Em primeiro lugar, aspecto determinante, esta teoria não tem nada a ver com os mercados reais. Pelo contrário, ela só trata de discrepâncias postuladas entre estados alternativos de um modelo formal construído sobre pressupostos que não existem nem podem existir na realidade. Após identificar tais discrepâncias, o teórico económico salta de seguida para a totalmente injustificada conclusão que determinadas acções do governo real podem melhorar o estado do mundo real - o que é espantoso, considerando que o mundo real - seja o mercado real ou o governo real - nunca entrou neste quadro e que alcançar um resultado eficiente, nos termos do modelo definido, é impossível na realidade.

Em segundo lugar, a capacidade e vontade presumidas do governo para levar a "falhada" economia de mercado para uma configuração eficiente por via de impostos, subsídios e regulamentos exibe, no melhor dos casos, uma ingenuidade espantosa relativamente à natureza dos governos do mundo real e do modo como eles funcionam. Em que razões se baseia o economista neoclássico para supor que os governos reais possam ou queiram adoptar as medidas necessárias para atingir os ganhos de eficiência no mundo real? Absolutamente nenhuma. Ele não tem nada para além de uma mera possibilidade académica, o que é o mais diluído dos "caldos" possíveis no mundo real da política e das burocracias governamentais.

Em suma, o modelo não retrata o fracasso de nenhum mercado do mundo real, mas apenas o falhanço dos economistas em levar devidamente em linha de conta o mundo real nas suas teorizações. Além do mais, as recomendações de política rotineiramente derivadas do modelo revelam que os economistas que avançam nesta via a dar conselhos ou são tolos ou charlatães. Estou envergonhado por ter de admitir que já levei a sério todo este quadro de análise, e, neste aspecto, responsabilizo os meus professores por negligência do seu ofício."

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