sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Inexoráveis falências do planeamento central

Em 1920 (!), Ludwig von Mises publicou um célebre ensaio (invocado na imagem) em que demonstrava, por recurso a um rigoroso processo de dedução lógica, a impossibilidade de se proceder ao “cálculo económico” nos regimes socialistas, entendidos como aqueles em que os meios de produção são de propriedade estatal. A consequência era devastadora: a supressão do mecanismo de formação dos preços dos bens de produção conduziria, mais cedo ou mais tarde, à inexorável inviabilidade da economia socialista [1]. É aqui que reside a chave para o entendimento da implosão (súbita, só na aparência) do império soviético - a falência do planeamento central. E não, não foi por causa da “guerra das estrelas” de Reagan, narrativa que os neoconservadores se apressaram a fazer passar e que persistem em alimentar.

Não obstante a evidência da hecatombe (a China ainda foi a tempo de a evitar rumando a porto diferente), é indiscutível que permanece em grande parte da intelectualidade, economistas incluídos, um fascínio pelo planeamento centralizado, ainda que embrulhado em cambiantes de uma tal “economia social de mercado”, “humanista”, redistributiva, "justa", etc. Através da "adequada" regulação (um sinónimo brando para planeamento central), ela permitiria combinar os benefícios da economia de mercado - a formação dos preços enquanto sinalizadores de preferências e de escassez relativa – evitando os seus “excessos” e ”falhas”.

Uma destas variantes tem sido interpretada pelos sucessivos políticos populistas argentinos apostados em nunca mais permitir que o seu país volte a ocupar o lugar que já foi seu nas primeiras décadas do século XX - o da 10ª economia do mundo! Outra, é a do regime chavista na Venezuela (onde já se ilustra a justeza de uma frase célebre de Milton Friedman – “Se se conferisse ao governo federal a gestão do deserto do Sahara, em cinco anos ocorreria uma escassez de areia”). Axel Kicilfof, o actual ministro das Finanças da tresloucada Kirchner, pensa ser possível gerir a economia a partir de folhas de cálculo (ele é, afinal, o sr. “Excel”). Recorde-se, aliás, que já Salvador Allende tinha sonhado comandar a economia do Chile com supercomputadores a partir de uma sala de comando - o Panóptico - inspirada numa qualquer nave espacial - o “projecto CyberSyn”. Uma e outra vez, continuam a pretender reinventar o “socialismo planeamento científico” (planeamento central). Os resultados são os de sempre – catastróficos. O gráfico seguinte, elaborado aquando da desvalorização do peso argentino em Janeiro último, mais não faz que anunciar o próximo desastre de mais um período hiperinflacionário:


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[1] - Enquanto aquele Grande Sismo se preparava, a edição de Economics, “O” manual da autoria de Paul Samuelson – a “bíblia” da disciplina de Economia que durante 40 anos formou gerações e gerações de estudantes universitários -, ainda previa em 1989 (!!) que, em poucos anos, a dimensão da economia da União Soviética iria ultrapassar a dos Estados Unidos…

1 comentário:

Lura do Grilo disse...

Vou passar este documento ao meu filho. Tive que o defender dos avanços ideológicos do Prof. de História (comunista e sem qualquer noção de respeito pelos seus deveres de professor do secundário: omitiu partes do livro onde se fala dos crimes estalinistas). Dei-lhe umas noções básicas sobre as razões da retumbante falha crónica do comunismo.