quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Independentemente do resultado, o referendo na Escócia é uma vitória da Liberdade

Não escondo a simpatia que nutro pelos genuínos movimentos secessionistas, nomeadamente no espaço europeu, que contestam e lutam contra o centralismo sufocante, uniformizador e tendencialmente totalitário do por muitos idolatrado estado-nação. Criação historicamente recente, cujos prelúdios remontam apenas aos séculos XVII e XVIII com as grandes revoluções ocorridas na Holanda, Inglaterra e nos Estados Unidos, tornar-se-ia a forma política “normal” após 1815 (Congresso de Viena, após a derrota definitiva de Napoleão). Sujeito a um primeiro grande “teste” – o da Guerra Civil americana – o resultado pôde ser aferido pelos mais de 700 mil mortos que nela pereceram em nome da manutenção de uma “União” tornada sacrossanta a que todos tinham que se subjugar. Os dirigentes do século XX não se impressionaram com aquele primeiro "ensaio" e, assim, a escala do Horror atingiu o que antes fora inimaginável (e materialmente impossível pela mão humana) exactamente em nome de uma nova e letal religião secular.

Foto linkada daqui

Hoje, 18 de Outubro, os escoceses irão votar pelo “Sim” ou pelo “Não” à sua secessão do Reino Unido. Seria para mim uma grande alegria que a Escócia – sim, esmagadoramente socialista, eu sei - escolhesse a via do "Sim". Mas apesar de as últimas sondagens não excluírem essa possibilidade, no meu íntimo não creio que venha a ser esse o resultado final não obstante o pânico que tomou conta das elites britânicas e da correspondente escalada do suborno sempre indissociável da actividade política. Oxalá venha a reconhecer o meu erro de previsão!

Mas, em qualquer caso, estou inteiramente de acordo com Simon Black: qualquer que venha ser o resultado final, o “simples” facto desta votação ir acontecer é, em si, uma grande vitória para a causa da Liberdade! Ficou demonstrado ser possível afrontar o que alguns pretendiam que estivesse gravado para a eternidade. Definitivamente, The Times They Are A-Changin'.

10 comentários:

SAC disse...

Caro Eduardo,
Partilho da sua previsão, e portanto, a ela me associo para que errado esteja. Porém, e sendo certo que qualquer que seja o resultado o edifício tremeu, e numa escala bem alta, o líder do "YES", cada vez que explana uma ideia a defender a libertação da Escócia, demonstra uma obsessão por um Estado social demasiadamente presente. Mas, como referiu, e bem, estamos a falar de uma nação esmagadoramente socialista.
Aguardemos, pois mais umas horas…há muita expectativa por essa Europa fora nesta votação…
Cumprimentos

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Com certeza que aplaudiria o SIM, embora creia que ganhará o NÃO.

A secessão da Escócia seria uma bofetada para a Inglaterra que há 5 séculos imperializa o mundo. Não sei se a vitória do SIM seria a curto prazo vantajosa para os escoceses, mas permitiria outras separações na Europa, circunstância que me daria um íntimo prazer. Independentemente das consequências.I5608

Unknown disse...

Uma enorme lição de que a liberdade e democracia não tem donos nem padroes a seguir dado por aqueles anglosaxoes e que desejo seja exemplo para estes outros europeus = que chapada para as posiçoes tristes dos nossos parceiros ibericos rajoyanos. Sinto gratidão por ser desta UE com estes valorosos anglosaxoes.

Anónimo disse...

Mas então não é a União que faz a Força?! É separados então?

O Não venceu, por pouco...

Graças a Deus... ;-)

Maria Rebelo

LV disse...

Caro António Cristóvão,

Olhe que não fazemos parte da UE que o Reino Unido, segundo afirma, parece representar. Nem pelo lado monetário, nem político. Respeito que se identifique mais com os valores (que chama de anglosaxões), mas essa é uma posição pessoal. Não confunda a UE com isso.

Cara Maria Rebelo,

A união faz a força, se ela tiver como fundamento o livre consentimento dos envolvidos. Caso contrário será fruto de uma imposição de uma maioria, numa violação clara de direitos fundamentais.
De resto, e tomando o título de um livro que consta da minha lista "Smaller, Faster, Lighter, Denser and Cheaper", as comunidades mais pequenas respondem melhor às mudanças conjunturais e temem mais os efeitos correctores dos intervenientes quando não respeitam os seus direitos.

(actualização): indícios de fraude no referendo escocês ver aqui: http://news.sky.com/story/1338354/police-probe-glasgow-voter-fraud-allegations

e PM escocês demite-se!

Saudações a ambos,
LV

JS disse...

A. Salmond, aparentemente "perdendo", foi, é, sem dúvida, o vencedor.
Ele e a sua Escócia.
O Sim ganhou. Felizmente.
Perguntem a D. Cameron.

Salmond partiu do zero, apenas com uma ideia nobre, simples, genuína, e

será este o Ano 1 da Europa.

Será uma Europa (re)construída com elegantes, simples, discretos, democráticos referendos.

O único óbice é a triste numenklatura, entretanto criada, em Bruxelas. Facilmente ultrapassável, diga-se.

Ps. Reconheço o exagero.
Mas por vezes só com este pequeno truque é que podemos "aperceber" a realidade.
Saudações cordiais.

Anónimo disse...

"A união faz a força, se ela tiver como fundamento o livre consentimento dos envolvidos"...quer dizer que neste referendo em questão não houve livre consentimento? E quem é que não consentiu? Afinal para que servem os referendos?

Quanto "Smaller, Faster, Lighter, Denser and Cheaper"... pois deve ser conforme a perspectiva... vendo pela história e pelos vários impérios... as grandes mudanças e avanços resultaram da conjugação de vários factores.. um deles o tamanho... do império... não conhece os efeitos da economia de escala?
Maria Rebelo

LV disse...

JS,

Passe o exagero, o resultado do referendo já deu início a intensas discussões nos bastidores. E algumas mudanças poderão acontecer. Nessa perspectiva, podemos aceitar o resultado com algum optimismo. Na minha opinião, ainda assim, pouco, muito pouco optimismo.
A "Europa dos referendos", que provocante ideia. A dúvida é se eles darão lugar à diminuição das "camadas institucionais" ou ao seu contrário, num crescimento em altura digno dos impérios do passado.


Maria Rebelo,

Vejo pelo seu último comentário que não terei compreendido o sentido da sua referência inicial à "União que faz a força".
No entanto, o que quis dizer, simplificando, é: quanto maior for a estrutura (a união), menores serão as garantias de respeito pela Liberdade.
Peço-lhe que coloque o instrumento, digamos assim, do referendo na perspectiva (seguramente não convencional, mas importante) de ser a forma como uma maioria pode anular os direitos e interesses de uma minoria.
A referência que faz à história e ao tamanho dos impérios é o que preciso para afirmar que uma comunidade política não se pode entender buscando "conhecer os efeitos da economia de escala". É que se fosse assim, daria crédito àquela perspectiva sobre os referendos como instrumento de legitimação de atrocidades em nome da dita "economia de escala".
E se há por aí quem as defenda!

Saudações,
LV

Anónimo disse...

Caro LV... então sendo assim os referendos não devem ser utilizados tendo em conta aquilo que acabou de dizer "possibilidade de legitimar atrocidades"... Porventura, a possível independência da Escócia resultaria numa atrocidade caso o referendo conseguisse um resultado diferente... é provável.
A ver se percebi bem... não concorda então com a aplicação de referendos, pois o resultado (qualquer que seja) irá resultar da escolha de uma maioria... e já agora quanto às eleições? É que seguindo o seu raciocínio... também não deve concordar com o sistema de voto actualmente em vigor....
Maria Rebelo

LV disse...

Cara Maria Rebelo,

Não é uma questão de concordar ou não com referendos (ou eleições), mas apontar que, através deles, se podem cometer atrocidades. No caso da eventual secessão escocesa, pode dizer-me de que forma representaria uma atrocidade para um inglês? Ou mesmo para um escocês que tivesse votado Não?

A questão que importa considerar, do meu ponto de vista, é a possibilidade de se mascarar as atrocidades com processos aceitáveis (eleições ou referendos). É que para muita gente, desde que haja eleições, então há democracia! Procurando ignorar, justamente, as atrocidades cometidas em seu nome.
Não são só os intervencionismos ocidentais por esse mundo fora que mostram o erro de pensar assim. Também por cá cometemos erros atrás de erros, dos quais nos esquecemos as reais causas. Em parte, porque os aceitámos como resultado da expressão de uma maioria. Se são democráticos… ou até, para além de serem democráticos, resultam de um cálculo oportuno da "economia de escala" e, atendendo a isso, estão mais do que justificados. Ora é essa conclusão que disputava atrás.

O sistema actual… pois o cerne desta nossa análise está aí. Há algum tempo que conclui que não posso pelo voto determinar como será a vida de outra(s) pessoa(s). Considero que essa possibilidade é o paradoxo da democracia como a vivemos. Mesmo que alguém não queira, pois vai ter de ver a sua vida alterada (para não dizer pior) pela vontade de terceiros. Isso é defender a Liberdade?

Em conclusão, posso dizer que julgo ser preferível uma comunidade poder resolver as suas diferenças através de referendos do que ver a sua situação constantemente modificada (e até contra a sua vontade e interesse) por uma entidade longínqua e desconhecedora das circunstâncias daquela comunidade.
Mas no contexto actual em que há graves dificuldades na gestão de questões relativas à propriedade, à salvaguarda de direitos naturais elementares, o simples voto de uma maioria pode equivaler a inegáveis atrocidades. E apelidar esses mecanismos de democráticos, não chega para os legitimar.

E diga-me: detecta que algum mal decorra do meu raciocínio?

Saudações,

LV