sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Curtas e grossas


Sob o título em epígrafe, Jürgen Stark, um antigo economista-chefe do BCE, de onde saiu com grande estrondo em 2011, publicou na passada 4. feira no Financial Times um artigo (requer registo) onde retoma as teses da "linha dura" da (relativa) ortodoxia financeira do que ele caracteriza como "o economista alemão". Seguem-se alguns excertos desse artigo que noutras circunstâncias - de indignação vituperante diante a presença num governo de coligação de um partido de extrema-esquerda com um outro de extrema-direita num ministério sem uma única mulher! - seria considerado politicamente incorrecto ao ponto de ser alvo de uma saraivada de fatwas sobre o seu autor e todos aqueles que o citem (via Juan Ramón Rallo):
«[…] A verdade é que, em contraste com muitos países da zona euro, a Alemanha tem consistentemente prosseguido uma política económica prudente. Enquanto outros viviam acima das suas possibilidades, a Alemanha evitou os excessos. Estas são diferenças culturais profundas que a união monetária faz emergir uma vez mais.

A questão não é a de um país impor austeridade a outro. As elites políticas da periferia da zona euro são responsáveis por terem perdido o acesso aos mercados financeiros em 2010. Anos de má gestão e de inobservância da lei conduziram a défices orçamentais crescentes e à acumulação de dívida. Os prémios de risco dispararam. […]

A UE não é uma federação (como não é a zona euro). Estamos muito longe desse nível de integração na Europa. Não há, portanto, base constitucional para concretizar maiores transferências para os países mais débeis. Em todo o caso, essas transferências não resolvem os problemas económicos e levam ao risco moral. Anteriores programas de transferências, como os dos fundos para pagar investimentos em infra-estruturas nos estados membros mais pobres da UE, nem sempre conduziram a uma melhoria sustentável no desempenho económico. A Grécia, por exemplo, recebeu transferências da UE correspondentes a 3 a 5% do seu produto interno bruto durante décadas, dos quais aproximadamente um terço foram pagas pela Alemanha. Mas grande parte desse dinheiro escoou-se através do poroso edifício de um estado frequentemente corrupto.

A política económica alemã não se destina a punir os países da periferia da zona euro. A chanceler Angela Merkel quer ver todos os países da zona euro a criarem as circunstâncias necessárias a um crescimento económico que seja real e sustentável - do tipo que gera empregos. Isto exige finanças nacionais sólidas. O que não tem nada a ver com um fetiche quanto ao défice zero. Os economistas alemães opõem-se ao tratamento dos sintomas. Eles alertam contra aparentes soluções que funcionam como tranquilizantes políticos no curto prazo, mas que apenas se limitam a ocultar os verdadeiros desafios económicos.

Os apelos a estímulos macroeconómicos adicionais ignoram as causas da doença europeia. É vital que sejam removidas as barreiras estruturais ao crescimento. Isso inclui sanar os balanços dos bancos para desbloquear a criação de crédito. Não é por causa da Alemanha que a França enfrenta a estagnação económica e a Itália está
há três anos em recessão. Os problemas têm origem doméstica. Eles não podem ser eliminados nem pelo Banco Central Europeu nem pelos estímulos fiscais.
As reformas exigem coragem política e forte liderança. Essas são reformas dolorosas mas são necessárias para retornar a um caminho de crescimento sólido. O verdadeiro défice é o fracasso da elite política em muitos países bem como a falta de instituições credíveis. […]»

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