sábado, 11 de janeiro de 2014

E o ouro?


O verdadeiro propósito do ouro é ser dinheiro – Gold´s real purpose is money
                                                                                        Antal Fekete

Após um ano muito complexo no mercado dos metais preciosos, damos início, aqui no Espectador Interessado, a um espaço de partilha, comentário e análise de informação acerca desse mercado e do papel destes recursos na vida dos indivíduos, das empresas e das nações.
Este espaço não é dinamizado por especialistas, nem se destina a especialistas. Constitui-se como um espaço de divulgação e aprendizagem acerca do que discutem e concluem alguns especialistas e investidores internacionais face ao desenvolvimento do mercado dos metais preciosos.
A nossa atenção vai centrar-se no ouro (Au) e na prata (Ag), já que a platina (Pt) e paládio (Pd) possuem uma dimensão de procura e aplicação industrial que determina – quase na totalidade – a dinâmica do seu valor. Assim, percorreremos referências histórias que mostram o importante papel do ouro e da prata como reserva de valor e dinheiro sólido, explorando conjecturas acerca da relação destes metais com as exigências económicas e financeiras passadas, presentes e futuras.
Comecemos por apresentar alguns dados históricos relativamente ao ouro para estabelecer o fundo interpretativo dos acontecimentos acerca da saúde das economias por esse mundo fora. Não tenhamos dúvidas, as consequências destes acontecimentos implicam as economias a uma escala global e, por conseguinte, as vidas dos indivíduos. Aconteceu no passado, acontece no presente e acontecerá no futuro.
Importa dedicar uma palavra quanto aos dados que a seguir que se apresentam. Estes dados correspondem à consulta de inúmeras fontes e pede-se ao leitor que os considere, especialmente na vertente quantitativa, com “um grão de sal”, não só porque há muita divergência nos processos de cálculo e contabilidade (economistas e contabilistas perceberão ainda melhor este facto), mas também porque este mercado – o do ouro como dinheiro sólido, no qual participam fortemente os bancos centrais (CB´s) e grandes investidores – não é um exemplo de clareza e objectividade. Se reconhecermos a importância do ouro como reserva de valor para o indivíduo, face ao que se passa nas vertentes económica e financeira mundialmente, torna-se evidente o propósito desta coluna.
Considerem-se então os seguintes dados*:
- Março de 1933 – a administração americana de Roosevelt nacionaliza o ouro na posse de particulares (especialmente em forma de moedas; os cidadãos americanos só são autorizados a possuir ouro novamente a partir de 1974) e o Tesouro deixa de cunhar moeda em ouro como estipulado na constituição;
- 30 de Janeiro de 1934 – o congresso americano aprova o “Gold Reserve Act” e o preço da onça de ouro é administrativamente valorizado de $25 para $35;
- 14 de Agosto de 1971 – $35 (o presidente americano Richard Nixon fecha a “janela de ouro”, ou seja, fecha a possibilidade de conversão de dólares em ouro que advinha do estatuto central de moeda de reserva mundial acordado em Bretton Woods);
- 18 de Janeiro de 1980 – $835;
(neste intervalo – 1971/1980 o preço 1oz. de ouro valorizou 2200%)
- 12 de Julho de 1999 – $256;
(no intervalo – 1980/1999 - o preço 1oz. de ouro corrigiu/desvalorizou 70%)
- 1 de Janeiro de 2001 – $274;
- 1 de Outrubro de 2012 – $1787;
(neste intervalo – 2001/2012 o preço 1oz. de ouro valorizou 550%)
- 30 de Dezembro de 2013 – $1204;
(no intervalo – 2012/2013 - o preço 1oz. de ouro corrigiu/desvalorizou 35%)
- produção anual de ouro mundial estimada para 2013 – 2800 toneladas;
- aquisição de ouro por parte da China (só 2013, números não consolidados) – 2180 toneladas;
- produção de ouro chinesa (para 2013, números não consolidados) – 430 toneladas;
- neste momento a China é, simultaneamente, o maior produtor e importador mundial de ouro (nota: acumula, actualmente, o primeiro lugar na importação de petróleo).

*(preços/spot diários aproximados em dólares para 1 onça troy (oz.); fontes World Gold Council e Bullion Management Group)

Tendo estes dados presentes, convidamos os nossos leitores a assistirem a uma pequena, mas muito instrutiva, série acerca da história do dinheiro e da finança (o primeiro episódio está disponível Aqui e será fácil seguir para os seguintes, no total de cinco episódios até à data).
Que comece a viagem que gostaríamos que fosse um desafio para pensar e aprender.
Boa viagem,
LV

9 comentários:

Vivendi disse...

Costumo escrever como exemplo da importância do ouro o seguinte.

Se descobrisse um baú no quintal com uma herança de algum antepassado seu o que gostaria de lá encontrar?

a) dinheiro papel

b) ações de alguma companhia antiga

c) ouro

Como o vídeo refere, ouro é dinheiro desde há 5 mil anos.

Floribundus disse...

com o socialismo vigente (vigarizante)já foi andando 1/2 da 'pesada herança do fascismo'

f d roselvelt era um saqueador. um totalitário eleito, como Herr Adolf

só no final da vida a sua desastrada política teve leve sucesso, mas à margem dela

a grande valorização do ouro deve-se ao facto dos eua terem notas sem cobertura ouro

na 2ª república passava junto ao BdP e um velhinho acarretava caixas pesadas num carrinho de mão de uma carrinha estacionada no passeio.

LV disse...

@Vivendi
Costuma escrever sobre este assunto? É possível aceder ao que escreve?
O exemplo do baú é certeiro, já que o ouro mantém o seu valor com o tempo de um modo muito particular. E não é necessário ter janelas temporais tão longas, basta considerar o que desvalorizam as moedas ou como evoluem os juros em intervalos de décadas para perceber a importância de considerar a alternativa. E a independência que isso dá.

@Floribundus
Há efectivamente uma ligação histórica muito antiga nas relações entre o ouro e as decisões políticas assumidas em nome de interesses pouco claros.
Quanto à valorização do ouro, não sei a que intervalo de tempo se refere. Nos últimos cem anos a relação entre o ouro e o dólar é importante. Mas não é apenas o dólar que não tem cobertura, como diz. Há, todavia, uma diferença importante a esse respeito entre os EUA e a Europa (alguns países) mas tende a desaparecer.
Veremos isso ao longo dos artigos que forem publicados.
Teremos de verificar se as nossas reservas de ouro ainda estão no BdP. Ou se já fazem parte de outros balanços. É que tem havido alguns "velhinhos" a carregar caixas bem pesadas, mas no sentido da saída.
Saudações,
LV

voz a 0 db disse...

"14 de Agosto de 1971" não é à toa que foi a partir desta data que os Bancos Privados (propriedade das Famílias que mandam no sistema monetário) começaram realmente a imprimir papel-moeda a partir do ar...
Basta observar o gráfico da evolução da divida da reserva federal americana!

É um belo everest a partir desta data!

Mas tudo o que sobe... A sacana da gravidade e da ausência de pressão atmosférica provoca o REBENTAR DAS BOLHAS... E já não faltará muito tempo para que as bolhas que estão a insuflar rebentem... Uma bolhita que também está inchada como tudo é a do PSI20! Também com papel-moeda a custo quase ZERO é fácil especular!

LV disse...

@voz a 0 db
Há, efectivamente, uma relação incontornável entre a decisão de fechar a "janela de ouro" por parte de Nixon e a criação de moeda. Há muitos outros exemplos deste tipo de relação com as consequências que teimamos não enfrentar. Veja-se a desvalorização do dólar desde 1913 (criação da FED) até hoje: 95% a 98%.
Não esqueçamos que os programas de "facilitamento quantitativo" (QE americano) tiveram como destinatários bancos europeus, logo, o problema não é apenas americano.
O que tem surpreendido é que os cidadãos não se pronunciem interrogando quem tem responsabilidades nestas matérias.
Saudações,
LV

f disse...

meu caro
referia-me ao período que conheci.
quando De Gaule guardava dólares e Portugal oiro

um dia o dólar desceu de 75 para 25 escudos
e os nabos que tinha ido fazer depósitos à Suiça
foram tomar café à pastelaria

ainda me lembro dos ourives ambulantes andarem de biclcleta pelo Alentejo com o ouro numa mala de porão

Vivendi disse...

Caro LV,

Escrevo por aqui:

http://viriatosdaeconomia.blogspot.com/search?q=our

Antes escrevia por aqui:

http://vivendi-pt.blogspot.com/search?q=ouro


E este foi o meu primeiro post quando entrei no mundo da blogosfera:

Em 1974, as reservas de Ouro do Banco de Portugal situavam-se em 865,936 toneladas.

As actuais 382,540 Toneladas que Portugal ainda possui, com a cotação atuais cerca de, € 16,625 mil milhões.

Por sua vez, se Portugal actualmente mantivesse as 865,936 toneladas, estas teriam um valor de mercado de, (cerca € 37,678 mil milhões).

Os principais responsáveis pela venda do nosso ouro foram Cavaco e Constâncio.

O que permitia termos mantido as mesmas reservas que havia em 74 nos dias de hoje?

http://vivendi-pt.blogspot.com/2011/12/o-ouro-de-portugal.html

Cumprimentos.

Vivendi disse...

E alimento este canal no youtube

http://www.youtube.com/user/VivendiPT/videos

LV disse...

@Vivendi
Agradeço, desde já, as ligações que aqui deixou. Serão objecto da minha atenção, seguramente.
E mantenha a participação por aqui, sempre que considerar oportuno.
Saudações,
LV