quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Da recusa de uma teleologia do homem arquitectada por ateus activistas que querem fazer de Deus

Ainda que algo serôdias, julguei relevante partilhar as resoluções de Ano Novo de Greg Lentz e, sobretudo, as reflexões que a elas conduziram. É um texto longo mas estou convencido que o leitor, que preza a liberdade e tenta entender o mundo, terá algo a ganhar em lê-lo até ao fim (no original, de preferência). O título do post que escolhi, que me insatisfaz, bem poderia ser o de uma famosa obra de Hayek - "A Arrogância Fatal" (The Fatal Conceit). Em jeito justificativo, diria que preferi o risco da verbosidade à tentativa de ombrear com a simplicidade própria dos verdadeiramente grandes. Não tenho essa arrogância e deploro os que dela se arrogam. A tradução, como habitualmente, é minha.
"A resolução de problemas é como a caça; é um prazer selvagem no qual somos muito talentosos."
Thomas Harris, Silêncio dos Inocentes

Há algo de viciante no processo de resolução de um problema. Nos últimos tempos, tenho dado comigo a pensar no mesmo problema uma e outra vez: se o homem almeja o autogoverno, por que razão tão prontamente aceita as grilhetas da governação colectiva? Onde estão os homens que se recusaram a ser governados e conseguiram ser bem sucedidos?

Não aceito que o homem seja incapaz de se autogovernar, mas, para o observador casual, parecerá de facto ser esse o caso.

Num raro momento de clarividência, enquanto congeminava soluções para as minhas próprias problemáticas resoluções de Ano Novo, ocorreu-me que talvez ao homem não seja inadequado o autogoverno mas antes que este seja um viciado na resolução de problemas. Afinal de contas, o homem é um caçador. A satisfação de criar e pôr em prática uma solução, constitui algo de tão gratificante que é necessário prosseguir na busca do próximo desafio a superar.

Onde irá o viciado na resolução de problemas procurar a sua próxima conquista? No mundo ao seu redor. A sua dependência leva-o a uma perseguição interminável na procura de problemas cada vez maiores para resolver, de modo a que possa sentir novos "picos" psicológicos. Eventualmente, perde todo o sentido de autoconsciência. Perguntas como "Será isto realmente um problema? Quem sou eu para pensar que poderei resolver este problema? Serão os benefícios obtidos na resolução deste problema superiores aos seus custos?", caíram no esquecimento. A sua caçada transforma-se em arrogância e a arrogância conduz à loucura.

Abraham Maslow escreveu:
"Suponho que seja tentador, se a única ferramenta que se possui for um martelo, que se trate tudo à nossa volta como se fossem pregos."
Julgo ser próprio de um académico emitir uma tão presciente afirmação sobre a condição humana. O meio académico está para o solucionador de problemas como a Fábrica de Chocolate está para Willy Wonka [link]. A terra da experimentação livre das teorias e suas consequências. É um lugar onde as ideias reinam, supremas. No mundo académico, toda a existência humana constitui um prego à procura de um martelo mental.
- o sentido da vida: a filosofia
- a pobreza: as ciências sociais
- a moralidade: a ética
É um lugar onde há pouca ênfase na humildade, no pragmatismo, ou nas consequências.


O progresso tecnológico e económico têm beneficiado o homem com ganhos incríveis; mas e se esses avanços se constituem num obstáculo entre a humanidade e o autogoverno? Acreditar-se-á que o homem primitivo contemplasse o significado da vida enquanto caçava algo para comer na refeição seguinte? Acho que Erich Fromm acertou em cheio no alvo quando disse:
"O homem é o único animal cuja existência constitui um problema que ele próprio tem que resolver."
Por favor não interpretem a minha posição como veiculando um anti-intelectualismo ou um ataque ao ensino superior. A capacidade de resolução de problemas por parte do homem possibilitou-lhe incríveis avanços, tanto no estilo de vida como na liberdade. Porém, penso ser interessante considerar se os ganhos tornados possíveis pelo avanço tecnológico são ou não úteis na busca do autogoverno do homem.

Se realmente parece que as descobertas científicas conduziram a um acréscimo na liberdade humana ao longo do tempo, será todavia alguma vez possível que a humanidade seja capaz de colectivamente resistir ao fascínio da resolução dos "problemas" da sociedade através da utilização da força do estado?

Será a árvore do conhecimento uma irresistível sedutora ou conseguiremos nós abster-nos de tentar aperfeiçoar certos aspectos da sociedade?

Terá ocorrido ao primeiro homem que, com a simples imaginação da emergência do estado, ele estava a criar uma prisão social virtualmente indestrutível para os seus descendentes? Duvido que ele pudesse ter antecipado que o estado,  uma vez imaginado, se viria  a transformar na monstruosidade em que se tornou.

Apesar da dependência de que sofre a humanidade, permaneço optimista. Ao longo da história humana, houve tempos em que o homem teve em conta não apenas a sua capacidade para resolver um problema, mas também se devia ou não fazê-lo.

Há muito, demasiado tempo, que depositámos uma fé inabalável nas ideias dos melhores e dos mais brilhantes. Estes arquitectos inteligentes da sociedade foram os mesmos indivíduos que, em 1980, criaram o Departamento [Ministério] da Educação. Eles estavam tão confiantes que conseguiriam melhorar um sistema de ensino público que "produzia" os alunos classificados no primeiro lugar do ranking mundial, sem qualquer intervenção federal, que criaram uma via federal para resolver um problema inexistente. Eis um gráfico que mostra a explosão das despesas federais em educação desde 1980:


Depois de trinta e quatro curtos anos e 2,3 milhões de milhões de dólares [2,3 trillions] APENAS em despesa federal com educação, os arquitectos inteligentes encontraram forma de conseguir transformar os estudantes americanos nos 29º melhores do mundo.

Somos os vigésimos nonos! Os vigésimos nonos! Só que não soa do mesmo modo.

E quanto à Grande Sociedade do Presidente Lyndon Johnson e da Guerra à Pobreza?

Os Estados Unidos gastaram 15 milhões de milhões de dólares a combater nesta guerra desde 1968. Eis a eficácia que tem tido:


Por que gastámos tanto com a educação e a pobreza para obter tão atrozes resultados? Os grandes arquitectos da sociedade, com as suas crenças sempre fiéis às escritur... digo, à pesquisa académica, acreditavam possuir as soluções perfeitas para os nossos problemas.

Corre o ano de 1959 e um ambicioso jovem senador do estado de Massachusetts pretende candidatar-se à presidência. O que é que ele faz? Reúne um grupo dos melhores académicos de Boston e baptiza-os de "Grupo Consultivo Académico". O ambicioso senador e o seu grupo de conselheiros começam a elaborar um abrangente programa económico e de alívio da pobreza para seu manifesto político. Tivessem eles despendido, um segundo que fosse, para ponderar se estavam ou não prontos para assumir a responsabilidade de recomendar a adopção de políticas que tiveram um efeito devastador nas classes socioeconómicas mais baixas, tudo seria diferente.

Alguma vez pediram desculpa a alguém pela criação de uma cultura intergeracional de dependência? E quanto à explosão da pobreza e do desespero?

Em 2 de Janeiro de 1960, o senador John F. Kennedy anuncia a sua candidatura a presidente e revela as suas propostas de política económica e social.

Em 8 de Novembro de 1960, na Convenção Nacional Democrática, aceita a nomeação pelo seu partido e faz um discurso que viria a ficar conhecido como o discurso da "Nova Fronteira". Nele, expõe a sua visão para o futuro e as propostas políticas elaboradas pelo seu Grupo Consultivo Académico.

Após o trágico assassinato de Kennedy, o presidente Lyndon Johnson "reembrulhou" as iniciativas de Kennedy na sua proposta da "Grande Sociedade" [Great Society]. O Congresso, de bom grado anuiu à sua visão de construir o massivo estado de bem-estar que hoje temos. Por que razão é relevante esta pequena incursão histórica?

Duas dúzias de homens num quarto de hotel de Boston, em 1959, foram responsáveis ​​por gastar, nos 50 anos seguintes, 15.000.000.000.000 [15 milhões de milhões] de dólares a travar uma Guerra à Pobreza que, de acordo com qualquer estatística mensurável teve um efeito ZERO no alívio da pobreza.

O Departamento da Educação foi criado durante a presidência de Jimmy Carter. A sua finalidade era a de administrar e distribuir fundos às escolas públicas e iniciar a recolha de dados sobre os alunos para efeitos de investigação académica. Desde que ele assinou a lei, gastámos 2.300.000.000.000 dólares do orçamento federal com a educação.

Tenha-se em mente que, antes da criação do Departamento da Educação, estávamos em primeiro lugar no ranking mundial.

Agora, estamos em 29º. Quem sabe se, através da recolha de mais dados para investigação poderíamos fazer com que todos alcançassem o nível de literacia de Detroit: 48%? Não seria isso realmente possível se se aumentassem os salários dos professores?

O impulso irresistível do homem pela resolução de problemas era TÃO grande, que a única solução a adoptar perante o facto de termos, à época, os alunos do topo do ranking mundial, implicou um custo de 2,3 milhões de milhões de dólares e uma queda a pique nos rankings. A parte triste é que o nosso anseio em "consertar" a educação só foi superado pelo anseio em lutar contra a pobreza... da ordem dos 15 milhões de milhões de dólares e sem que se tenha verificado nenhuma redução no seu nível.

Desde as 23:30 (hora da costa este) de 2 de Janeiro de 2014, que a nossa dívida nacional ascende a 17,36 milhões de milhões de dólares.

Em 1959, se o Grupo Consultivo Académico nunca se tivesse reunido em Boston e, vinte e um anos mais tarde, um grupo de investigadores de educação não tivesse tentado "consertar" o melhor sistema educacional do mundo, a nossa dívida nacional seria de 60 mil milhões de dólares.

Este número representa um pouco menos que 6 dias de despesa corrente dos EUA ($US 10,46 milhões de milhões). Por favor, pense-se neste facto.

Para pôr isto em perspectiva, se tivéssemos uma verdadeira paralisação da administração durante 6 dias, o nosso país estaria livre da dívida... não se tivesse dado o caso daquele grupo de indivíduos, altamente inteligentes e bem educados, se tivesse envolvido numa missão para solucionar um problema digno de ser resolvido por eles.

Prosseguindo, temos que exigir um debate sobre duas coisas:
1) Serão as pessoas sequer capazes de planear a sociedade de modo inteligente?

2) Será que devemos fazer de Deus através do estado?
A história mostrou que a maioria das pessoas rejeita consistentemente a possibilidade de autogovernação. É um tema que, outrora, era demasiado radical para sequer ser discutido. Mas, como Dylan disse uma vez, "Os tempos estão a mudar".

Edward Snowden, Julian Assange, os manifestantes ucranianos, e a completa incapacidade do governo dos EUA para construir um website funcional [referência ao desastroso site que é pedra angular na implementação da lei conhecida por "Obamacare"] levaram até mesmo os mais cépticos entre de nós a reconsiderar a confiança nas instituições governamentais. Pelo que, da próxima vez que alguém lhe tentar dar um sermão sobre Common Core ["Núcleo Comum" curricular que todas as escolas públicas deveriam adoptar] ou uma nova reviravolta na política de bem-estar que foi desenhada por um sociólogo de Harvard, lembre-se deste post.

Eu quero que lhes pergunte se eles acreditam que Deus criou o universo há 6.000 anos em 6 dias.

Se responderem afirmativamente, pelo menos serão intelectualmente honestos.

Se responderem que não, eu quero que os apontem e riam na sua cara. Eles merecem ser ridicularizados. Eles são uns utópicos e delirantes Peter Pan e são perigosos para a liberdade humana. É o cúmulo da arrogância tentar tratar toda a sociedade dos EUA como se fosse um jogo Sims totalmente desprovido de consequências.

Acaso alguém deveria ser forçado pelo controlo desumanizante dos engenheiros sociais?

Forçado a sujeitar os nossos filhos e netos a modas académicas provavelmente destinadas a ser desacreditadas no ano seguinte?

Não se preocupe, basta que diga aos seus filhos ou netos que esqueçam as suas horríveis experiências. Tenho a certeza que a próxima proposta política será a panaceia por que todos estávamos à espera. O autogoverno é o próximo passo na evolução humana. É a única forma de governo que trata as pessoas como pessoas valiosas, dignas de respeito e compaixão, em vez de seres sem alma projectados para ser optimizados para um pináculo do benefício social. O autogoverno é possível, mas, para o concretizar, temos de aprender a separar os problemas da sociedade dos nossos próprios problemas.

Assim uma vez que está na altura das resoluções de Ano Novo, vou agora formular algumas:

1) Ter mais confiança no nosso companheiro homem;

2) Ridicularizar publicamente um progressista/liberal/democrata/Ripley por semana por acreditarem que é da sua responsabilidade o aperfeiçoamento da sociedade;

3) Aprender a apreciar mais aprofundadamente a diversidade da existência humana. Durante demasiado tempo pensei que a sociedade era como que um caldeirão. Ela é mais um rico guisado com muitos sabores diferentes com um caldo ralo de laços comuns.

4) Não deixar que eles criem o paraíso na Terra!

5) Invadir o Canadá, consertá-lo, e atirá-lo para a Rússia. Vamos lá ver como eles se darão com Putin...

1 comentário:

Floribundus disse...

tive um prof no liceu que ensinava a raciocinar

aos 20% que nunca foi capaz chamava 'os parafusos'
enroscam e nunca chegam ao fim