domingo, 13 de março de 2011

A burla da "qualificação" (2)

Maria Filomena Mónica retoma, no Público de hoje, num artigo de obrigatória leitura, a propósito das manifestações de ontem da "geração à rasca", a desmontagem da mentira veiculada desde pelo menos, no adequado adjectivo utilizado por Vasco Pulido Valente, o "nefasto" Veiga Simão, de que haveria uma relação causal entre educação e desenvolvimento. Ora,
«[é] mentira que mais ensino conduza necessariamente a uma economia mais dinâmica» apesar de «[o] consenso oficial [ser] exactamente o oposto» pelo que «[não] admira que as expectativas dos pais tenham crescido. Até ao dia em que, entre o espanto e a indignação, viram que, apesar de terem um diploma, os seus filhos não arranjavam trabalho.
«No dia 5 deste mês, The Economist publicou um gráfico no qual Portugal vem à cabeça. A coisa era tão extraordinária que me debrucei sobre ele gulosamente. Eis o que descobri: entre 2000 e 2007, relativo ao grupo etário correspondente, Portugal teve a percentagem mais elevada de estudantes pós-graduados do mundo. Durante a última década, o número de doutorandos quadruplicou (...). Parece exaltante, mas não é. (...)
Os promotores da manifestação de ontem são todos licenciados em Relações Internacionais. Isto habilita-os a quê? Alguém se deu ao trabalho de olhar o conteúdo destes cursos? Os docentes que os regem sabem do que falam? Duvido. (...)
O futuro destes jovens não é agradável. Nem todos sofrerão da mesma maneira, mas o que aí vem é terrível. Enquanto os betos têm a família por detrás e os boys as alavancas dos partidos, os mitras acabarão em empregos mal remunerados e no desemprego. Em Portugal, a mobilidade social é um mito.
Maria Filomena Mónica tem toda a razão no que diz e no conluio que boa parte da "universidade" portuguesa tem explicitamente promovido na expansão imparável da mediocridade embrulhada na "igualdade de oportunidades". Este é um dos mitos mais enraízados entre nós que, aliado a um Estado socialista omnipresente no "apoio", no "incentivo", na "isenção", na "atribuição de bolsas" e "promoção de estágios", promoveu a cultura de "direitos" entre os licenciados, mestres e doutores décadas depois daqueles conquistados pelos operários da cintura industrial de Lisboa.
__________________
Adenda: acabo de ler, na Visão, que um dos contributos de 55 dos mais "poderosos empresários e gestores nacionais", compilados no livro Voltar a Crescer, a publicar brevemente, que "já é uma das leituras de cabeceira de Eduardo Catroga que coordena a elaboração do futuro programa do governo social-democrata", no capítulo sobre Educação, é o seguinte: "aumentar drasticamente o número de licenciados e doutorados"! Se fosse crente, era altura de de rezar: Que Deus tenha piedade de nós!

Sem comentários: