Estou longe de ser um amante e muito menos conhecedor, do Fado que - é oficial - foi hoje reconhecido, com uma espécie de "selo de qualidade"(!?), como património imaterial da humanidade. Como acontece relativamente a qualquer género musical, há coisas no fado que gosto e outras que me são indiferentes (ou que detesto). Sucede que com o fado há talvez a possibilidade de localizar no tempo, e no "espaço", o tal "lançamento dos dados" que marcou o início da sua mundialização, hoje oficialmente consagrada. Refiro-me ao filme de Henry Verneuil, "Les Amants du Tage"(1955), e ao facto de o realizador - é a própria Amália Rodrigues que o relembra - ter ouvido a (belíssima) canção "Barco Negro" previamente, ter gostado dela e resolvido incluí-la no filme. Poucos anos depois, Amália cantava no Olympia.
Letra:
De manhã, que medo que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não!
E o sol penetrou no meu coração.
Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz...
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas...
Dizem as velhas da praia, que não voltas.
São loucas! São loucas!
Eu sei, meu amor, que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor, me diz qu'estás sempre comigo.
No vento que lança areia nos vidros,
Na água que canta, no fogo mortiço,
No calor do leito, nos bancos vazios,
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.
1 comentário:
Bem: se os comunistas o perseguiram em 1975 é porque pode ser bom.
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