O sr. doutor Cavaco Silva, professor de finanças, que, na sua primeira campanha para a Presidência, prometeu um Portugal próspero e moderno, nada fez desgraçadamente no seu primeiro mandato para, pelo menos, garantir que Portugal não acabava na miséria. Ao contrário do frenesim em que anda hoje, quase só saiu de Belém para cerimónias sem utilidade ou sentido e não abriu a boca para avisar o país do sarilho em que se estava a meter. O exímio professor de finanças, que presumivelmente não ignorava a dimensão do défice e da dívida, não preveniu o público do que se passava, nem das desgraças que daí lhe podiam vir. Havia uma boa razão para isso. O doutor Cavaco queria, em primeiro lugar, ser reeleito para Belém e não lhe convinha perder um único voto à esquerda ou à direita._______________
Mas depois, livre de eleições, resolveu meter a colher na sopa. Talvez seja bom perceber o que lhe interessa. Em primeiro lugar, ele gostava de sair da política com a reputação de ser um homem ecuménico, estimado e respeitado pela maioria dos portugueses. Em segundo lugar, como agora se vê, pretende adquirir uma autoridade na "Europa" que não o reduza indefinidamente às dimensões de um político de província. Se hoje o ouvimos preopinar constantemente sobre a intolerável existência do "directório" Merkel-Sarkozy, sobre o papel passivo do BCE, ou sobre eurobonds, a razão não é outra. Cavaco tenta sobressair e, com alguma sorte, apesar da insignificância de Portugal, ascender ao estatuto de consciência e mestre da "Europa". A sua vertiginosa vaidade precisa de consolo.
De resto, para pôr as coisas no seu devido pé, o prof. Cavaco não hesitou em repreender Merkel e Passos Coelho pelo seu desconhecimento em economia e finanças. Segundo ele, não existe o menos risco em transformar o BCE num lender of last resort, como os bancos centrais da América, da Inglaterra ou do Japão. Quem por aí se angustia, ou se assusta, com o espectro da inflação, jura ele, só consegue revelar a sua lamentável ignorância dos princípios básicos da teoria monetária. O doutor Cavaco com certeza não notou ainda que a América, a Inglaterra e o Japão têm uma moeda própria e que a "zona euro" não tem; e que dois terços da Alemanha se recusam a financiar o exercício de misericórdia que ele aconselha ao BCE. Mas para quê perder tempo em pormenores? Cavaco é grande.
Nota: ao ler Pulido Valente, lembrei-me de ter escrito isto.
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