está com Patrick J. Buchanan, em mais um artigo na American Conservative, sob o título Syria’s Insurrection Is Not America’s Fight (tradução minha):
Na defesa de uma intervenção militar dos EUA na Síria - promovendo o armamento dos insurgentes e usando o poder aéreo dos EUA para "criar zonas de segurança" para as forças anti-regime "no interior das fronteiras da Síria" -, o Washington Post invoca "interesses vitais dos EUA" que de algum modo estarão ameaçados.
Exactamente quais são esses interesses vitais é algo que fica por explicar.
Durante 40 anos, vivemos com um regime em Damasco liderado por Bashar Assad ou pelo seu pai, Hafez Assad. Terão estado os nossos "interesses vitais" em perigo durante todas as quatro décadas?
Em 1991, George H.W. Bush, recrutou o velho Assad para a coligação da Tempestade no Deserto que libertou o Kuwait. Damasco enviou 4 mil soldados. Em agradecimento, organizámos uma Conferência em Madrid para promover um acordo de "terra por paz" entre Assad e Israel.
Fracassou, mas poderia ter significado a devolução dos Montes Golan a Assad e o regresso da Síria à margem oriental do Mar da Galileia.
Conseguimos viver assim, mas não podemos conviver com Bashar?
Eis que surge a resposta: a razão é o massacre de Houla, onde mais de 100 sírios foram massacrados, a maioria mulheres e crianças, a atrocidade mais horrível numa guerra de 15 meses que já ceifou 10 mil vidas.
Nós, americanos, não podemos ficar de braços cruzados e deixar que isto aconteça.
Esse massacre foi realmente terrível e, aparentemente, foi obra de milícias a soldo do regime. Mas em 1982, o pai de Bashar levou a sua artilharia até os portões de Hama e, para esmagar uma insurreição pela Irmandade Muçulmana, bombardeou sem restrições a cidade até aos 20.000 mortos.
O que fez então a América? Nada.
Durante o Setembro Negro, em 1970, o rei Hussein da Jordânia usou a artilharia contra um acampamento palestiniano, matando milhares e provocando a fuga de outros milhares para o Líbano. Durante a guerra civil do Líbano, de 1975 a 1990, mais de 100.000 morreram. Na década de 1980, o Iraque lançou uma guerra contra o Irão que custou perto de um milhão de mortos.
Limitámo-nos a observar, contentes que os nossos inimigos se estivessem matando uns aos outros.
Em 1992, os islamistas na Argélia ganharam a primeira volta das eleições e preparavam-se para vencer a segunda. A democracia estava prestes a produzir um resultado indesejado pelas democracias ocidentais. Na altura, Washington e Paris deram a Argel luz verde para evitar que os islamistas chegassem ao poder. Dessa guerra civil argelina resultaram milhares de mortos.
Se os povos árabes e muçulmanos acreditam que os americanos são hipócritas, que cinicamente prosseguem os seus interesses estratégicos antes de lamentar as vítimas árabes e muçulmanas do terror e da guerra, não terão eles alguma razão?
Quanto à ideia do Post de usar o poder aéreo dos EUA para criar "zonas seguras" em solo sírio, esses são actos de guerra. O que vamos fazer se o exército sírio responder com artilharia sobre essas zonas seguras ou invada uma, infligindo uma derrota contundente aos Estados Unidos?
Será que iríamos aceitar a humilhação ou aumentaríamos a parada? E se as defesas aéreas sírias começarem a derrubar aviões dos EUA? O que faríamos se o Hezbollah, aliado da Síria, começar a fazer reféns americanos no Líbano?
Ronald Reagan enviou os fuzileiros para o Líbano em 1983. A sua intervenção naquela guerra civil resultou na explosão da nossa embaixada e no massacre de 241 fuzileiros no bombardeio ao seu quartel em Beirute. Reagan considerou-o como o pior erro de sua presidência. Será que vamos repeti-lo porque Bashar deixou de estar à altura das nossas expectativas?
Consideremos as forças que se alinham de cada lado do que parece ser uma guerra civil síria e um ensaio geral para uma guerra regional sectária.
Contra o regime de Assad estão os Estados Unidos, a Irmandade Muçulmana, a Al-Qaeda, os turcos e os sauditas e os estados sunitas do Golfo Pérsico.
Do lado de Assad está o seu forte exército de 300 mil homens, os xiitas alauítas da Síria - drusos, cristãos e curdos, todos temendo uma vitória da Irmandade -, a Rússia, o Irão e o Hezbollah.
A questão para os nossos intervencionistas belicosos é esta:
Quanto dinheiro deveríamos gastar e quanto sangue americano derramar para que a Irmandade Muçulmana possa depor a dinastia Assad, tomar o poder e estabelecer um estado islâmico na Síria?
"Digam-me como termina esta coisa", disse o general David Petraeus no início da nossa ilegítima Guerra do Iraque. Se começarmos a fornecer armas para aqueles que buscam o derrube de Assad, como o Post exorta, tal será um passo fatídico para esta república.
Vamos ser moralmente responsáveis pelo aumento inevitável dos mortos e feridos da guerra que teremos estimulado. Iremos comprometer o nosso prestígio na queda de Assad. Caso sobreviva, tal será visto como uma derrota e humilhação dos EUA.
E quando as baixas norte-americanas surgirem, o grito do partido da guerra virá: pela vitória sobre Assad, o Hezbollah, o Irão e a Rússia! Estaremos no caminho para um outro sangrento desastre numa região onde não há interesse vital dos EUA para além, talvez, do petróleo, da venda do qual aquelas gentes dependem para sobreviver.
Antes de os conflitos religiosos e étnicos na Europa se resolverem foram necessários séculos de derramamento de sangue e os nossos pais ensinaram-nos a ficar de fora das desavenças que não eram da nossa conta.
A Síria, em 2012, é ainda menos da nossa conta.
1 comentário:
Obama está apostado em colocar os seus irmãos da irmandade muçulmana em todo o norte de África.
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