sábado, 1 de junho de 2013

Silêncios

Foi um grande prazer ter ido ouvir anteontem o Jorge Colaço, meu amigo de longa data, na primeira das suas anunciadas chalras públicas, às quintas-feiras, no centro histórico de Oeiras. Na ocasião, pretextada segundo se lia no convite, pela recente publicação no Brasil (Editora Kelps) do seu livro de poesia Crateras e cristais, o Jorge também leu alguns dos seus poemas. Não me reconhecendo competência para me pronunciar sobre a sua poesia (já houve quem o tivesse feito), devo todavia dizer que o poema Silêncios me tocou fundo. Partilho-o agora.
SILÊNCIOS
Há silêncios recolhidos, densos. Há silêncios
doridos, vivos de mágoa. Há silêncios de
espanto. Há silêncios duros, tensos. Há silêncios
constrangidos. Há silêncios desajeitados. Tolos.
Há silêncios de recusa. Ou de pudor. Há silêncios
ansiosos. Há o silêncio da espera. O silêncio
da premeditação. E o da raiva. Há o silêncio da
ignomínia e da humilhação. Do esquecimento. Do
desprezo. Há silêncios palpitantes. Há mil palavras
em certos silêncios. Há o silêncio da prece. E há o
silêncio do vazio. Há silêncios impossíveis. E há o
silêncio procurado. O voto do silêncio. A humildade
do silêncio. Há segredos nos silêncios. Há silêncios
apavorados e também os há pavorosos. Mas há
silêncios deslumbrados, intensos. Há o silêncio do
silêncio, de onde a música brota. Há ainda o silêncio
de quando a voz não cabe nas palavras. E há o
silêncio que fica quando ficamos sós: humidade que
se adentra e nos devora em silêncio.
Jorge Colaço, Crateras e cristais

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado pela referência. Um abraço.
Jorge

Incitador disse...

Belíssimo poema!
Deixo aqui os meus parabéns ao autor.