Obama Escalates Syria’s Civil War é o título de mais um dos lúcidos artigos de Patrick J. Buchanan contra a tentação (e a prática) imperial dos EUA que resultou da instalação dos neocons nos corredores do poder. Não há - e de há muito que sabe ser assim - qualquer diferença na política externa (e interna) de Obama face à de George W. Bush. Só palas partidárias e uma cegueira e surdez incuráveis podem impedir esse reconhecimento (veja-se, por exemplo, esta notícia de ontem, esta outra de há uns dias ou ainda esta, em versão "animal feroz" na ausência de teleponto).
A "guerra ao terror" de Bush (na realidade, começada ainda por Clinton no Afeganistão) deu nisto: US drops demand Taliban renounce al-Qaeda to allow talks to progress e Afeganistão rompe negociações com os Estados Unidos. Não admira que Obama não se preocupe com a presença em força de terroristas entre os rebeldes que decidiu agora (como antes na Líbia) ajudar directamente com armas. Em nome de quê? Em nome de quê? Ou será que alguém acredita nisto? Se há, que reflicta nesta asserção famposa de Benjamin Franklin: "Those who would give up essential liberty to purchase a little temporary safety deserve neither liberty nor safety."
A tradução, algo livre, do artigo de Pat Buchanan é da minha responsabilidade.
Barack Obama acaba de dar os seus primeiros passos numa guerra na Síria que podem definir e destruir a sua presidência.
Na quinta-feira, enquanto festejava com os foliões LGBT o Mês do Orgulho Gay, um funcionário, Ben Rhodes, informou a imprensa na Casa Branca que irão ser fornecidas aos rebeldes sírios armas americanas.
Durante dois anos, Obama manteve-se fora desta guerra sectária/civil que já consumiu 90 mil vidas. Por que está entrando nela agora?
A Casa Branca alega ter agora provas que Bashar Assad usou gás sarin para matar 100-150 pessoas, desta forma ultrapassando uma "linha vermelha" que Obama tinha estabelecido como factor de "mudança de jogo". Desafiado, com a credibilidade contestada, ele tinha que fazer alguma.
No entanto, a alegada utilização por Assad de gás sarin para justificar a intervenção dos EUA, mais parece constituir um pretexto para entrar na guerra que uma racionalização para nela participar.
Porque a Casa Branca decidira intervir semanas atrás, antes da utilização do gás sarin ter sido confirmada. E por que razão teria Assad usado apenas minúsculos vestígios? Onde está a evidência fotográfica dos mortos desfigurados?
Que provas temos de que não foram os rebeldes que forjaram a utilização de gás sarin ou que o usaram eles próprios para conseguir que os crédulos americanos entrassem na sua guerra?
E todavia, por que razão o Presidente Obama, cuja orgulhosa jactância assenta na promessa de que ele nos irá desemaranhar das guerras do Afeganistão e do Iraque, tal como Dwight Eisenhower com a Guerra da Coreia, iria mergulhar-nos numa nova guerra?
Ele tem estado sob severa pressão política e internacional para fazer algo depois de Assad e o Hezbollah terem recapturado a cidade estratégica de Qusair e começado a preparar-se para recapturar Aleppo, a maior cidade.
Caso Assad tenha sucesso, isso significaria uma derrota decisiva para os rebeldes e seus apoiantes: os turcos, os sauditas e qataris. E isso significaria uma vitória geoestratégica para o Irão, o Hezbollah e a Rússia, que provaram constituir aliados confiáveis.
Para evitar essa derrota e humilhação, vamos agora enviar armas e munições para manter o controlo dos rebeldes sobre território suficiente para negociar uma paz que venha a remover Assad.
Vamos fazer com que esta seja uma luta justa.
Qual é o problema desta estratégia? É a política de um amador. Ela lida com a guerra como se de um jogo se tratasse. Ela ignora as lições da história. E, como ela continua um banho de sangue sem nenhuma perspectiva de o terminar, ela é imoral.
Em todas as grandes guerras civis da modernidade - a guerra civil russa de 1919-1921, a guerra civil espanhola de 1936-1939, a guerra civil chinesa de 1945-1949, um dos lados triunfa e toma o poder. O outro perde e vive com as consequências - a derrota, a morte, o exílio.
Qual é a reacção provável à nossa escalada da ajuda humanitária para a ajuda militar? Uma contra-escalada. É provável que a Rússia, o Irão e o Hezbollah se apressem a fornecer mais armas e tropas para acelerar o progresso do exército de Assad antes de as armas americanas chegarem.
E se eles subirem a parada, o que fará Obama?
Já se ouve um clamor por parte dos nossos clientes [sic], no Médio Oriente e no Congresso, para bombardear as pistas de aviação sírias com mísseis de cruzeiro, para enviar armamento pesado para os rebeldes, para destruir a força aérea de Assad no solo, para bombardear as suas defesas antiaéreas.
Estes são todos actos de guerra. E todavia, nos termos da Constituição, só o Congresso tem autoridade para declarar guerra.
Quando é que o Congresso autorizou Obama a conduzir-nos à guerra na Síria? De onde é que o nosso imperial presidente obtém a sua autoridade para desenhar linhas vermelhas e atacar países que as cruzem?
Já deixámos de ser uma república? Ter-se-á o Congresso tornado num mero espectador das decisões presidenciais sobre a guerra e a paz?
À medida que Vladimir Putin parece ser cada vez menos o guerreiro relutante, o que vamos fazer se Moscovo responder à escalada dos EUA, fornecendo ao abrigo de contrato mísseis antiaéreos S-300 a Damasco que podem cobrir metade de Israel?
Obama colocou-nos numa escada rolante de uma guerra que já está transbordando as fronteiras da Síria para a Turquia, para o Líbano, para o Iraque e para a Jordânia, uma guerra que está agora a dividir todo o Médio Oriente ao longo das linhas sunitas e xiitas.
Ele está a fazer de nós aliados de facto da simpatizante da Al-Qaeda, a Frente al-Nusra, do Hamas e dos jihadistas de toda a região, e da Irmandade Muçulmana. O presidente do Egipto, Mohammed Mursi, acaba de cortar os laços com a Síria e está exigindo uma "zona de exclusão aérea", que só se imagina ser os Estados Unidos, não a força aérea egípcia, a ter de a aplicar.
As nossas elites derramam lágrimas sobre os 90 mil mortos na Síria. Mas o que estamos prestes a fazer não irá parar a matança, irá simplesmente prolongar a duração da guerra e aumentar o número de mortos e feridos.
No topo desta escada rolante que o nosso país começou a subir não está apenas uma guerra por procuração com o Irão na Síria, mas uma guerra real que acarretaria um desastre para a economia mundial.
Se a queda de Assad é o que as potências sunitas da Turquia, da Arábia Saudita e do Egipto procuram, por que não deixá-las que o façam?
Os anti-intervencionistas devem exigir uma votação nominal no Congresso com a finalidade de saber se Obama tem autoridade para nos levar para esta guerra síria.
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