sábado, 16 de outubro de 2010

Uma parábola


«Naquele tempo existiam uns pirómanos que faziam arder tudo à sua volta em combustão lenta e assim a destruição progredia sem que a maioria das pessoas se apercebesse do que estava a acontecer. Mas chegou o dia em que um anticiclone, vindo de fora, com vento forte, ateou o fogo.
As labaredas, bem visíveis, alertaram as populações para o perigo eminente que as ameaçava e então gritaram por socorro.
Era aquele o momento propício para desmascarar os incendiários e livrarem-se finalmente deles? Talvez, mas o drama é que o fogo não faz pausas e devoraria as vítimas muito antes do julgamento dos culpados.
A prioridade é, pois, apagar o fogo e salvar o que for possível.
Também esta operação implica prejuízos elevados para as populações, porque os meios de combate muitas vezes danificam os locais onde atuam, havendo a tendência para culpar os bombeiros pelos estragos sofridos.
Assim, o que é justo é que quem provocou o fogo, o apague, até porque qualquer bombeiro, seja qual for a corporação a que pertença, apagá-lo-á da mesma forma: ou com água, ou com neve carbónica ou com uma combinação das duas.
Vem isto a propósito do destino do próximo Orçamento. Sinto que o PSD não deixará de colaborar na extinção do fogo, mas é nossa responsabilidade não deixar esquecer que este incêndio tem origem em fogo posto e que é, por este ato, que o Governo deverá ser julgado

Manuela Ferreira Leite, Expresso, 16-10-2010

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