quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Teoria económica e estudos empíricos em Educação

Com alguma frequência tenho aludido ao meu profundo cepticismo quanto à utilidade da modelação  matemática de fenómenos altamente complexos como são os de ordem económica resultantes que são de milhares de milhões de decisões e interacções de pessoas que, por definição, são diferentes umas das outras. Não creio, sequer, que alguma vez, apesar do exponencial poder computacional que vimos tendo à nossa disposição, venhamos a ser capazes de o fazer. Não creio que haja o homo economicus (felizmente!).

Por isso é sempre com muito cepticismo que recebo um qualquer estudo que alicerce as suas conclusões na colecta de dados específicos (de certos dados e não de outros), na "limpeza/alisamento" dos mesmos que sirvam para "validar" determinadas hipóteses. Em poucas palavras, desconfio dos estudos empíricos e, sobretudo, das interpretações que sobre eles se fazem. Prefiro, de longe, uma boa teoria.

Vem tudo isto a propósito de mais um estudo acessível no site to IEA intitulado "Schooling for Money: Swedish Education Reform and the Role of the Profit Motive" onde o autor, Gabriel H. Sahlgren, chega às seguintes conclusões, estribado num modelo econométrico relativamente sofistificado:
  • As escolas que procuram o lucro beneficiam os estudantes provenientes de todos os quadrantes sócio-económicos, mas proporcionam os maiores benefício para os alunos provenientes dos estratos menos privilegiados.
  • A competição entre as diferentes tipos de escola na Suécia fez aumentar os níveis de sucesso educacional.
  • As Free schools beneficiam de melhores níveis de satisfação por parte dos pais dos alunos relativamente às escolas públicas.
  • A competição proporcionada pelas free schools fez melhorar as condições [remuneratórias] dos professores.
  • A procura do lucro proporciona fortes incentivos aos empresários para enrarem no mercado escolar assim expandindo os seus negócios. A eventual perspevtiva de banir a procura do lucro faz aumentar dramaticamente os riscos de redução no número de free schools que são creadas e, consequentemente, limitariam os benefícios proporcionados pela compeição.
Ora sucede que, do meu ponto de vista, não poderiam ser outros os benefícios decorrentes da criação de condições de concorrência, da efectiva expressão de liberdade de escolha por parte dos pais na escola dos seus filhos e que, em consequência, todo o sistema escolar - privado e público - tende a melhorar com o tempo o que por sua vez significa que os mais beneficiados só podem ser aqueles provenientes de ambientes sócio-económicos mais humildes. Não preciso pois deste estudo para reafirmar aquilo que já pensava até porque um leitor que discorde de mim poderá evocar outros estudos estatísticos/empíricos que, pelo contrário, "provam" que a reforma sueca iniciada no princípio da década de noventa em nada contribui  para melhorar os níveis de sucesso.


Em qualquer circunstância, este "estudo" terá a vantagem de proporcionar uma rápida descrição das reformas levadas a cabo na Suécia, no crescimento das free schools, que abrangem hoje cerca de 20% da população escolar do Upper Secondary e 10% do percurso escolar obrigatório. Cerca de 80% dos pais de alunos que frequentam as free schools estão satisfeitos com as escolas que os filhos frequentam contra perto de 60% nas escolas públicas (municipalizadas pelos sociais-democratas em 1990). Já a satisfação dos professores nas free schools é graduada em 74.5 pontos contra cerca de 70.5 nas públicas. Recorde-se, por fim, que na Suécia vigora o sistema de cheque escolar sendo proibidas às escolas que sejam financiadas através destes vouchers obterem qualquer outro pagamento adicional  por parte dos alunos.

Sem comentários: