Sempre descartei com rapidez, fora das salas de cinema ou dos romances, as designadas teorias da conspiração, inclusive aquelas que me pareciam ultrapassar um limiar mínimo de credibilidade. Recentemente, várias leituras levaram-me por fim a aceitar perceber que, em certos casos (e não são tão poucos assim), a única alternativa a uma determinada "teoria da conspiração" é uma correspondente "teoria da coincidência".
Ontem, durante uma ida ao cinema para ver o último filme de Ridley Scott, “O Conselheiro” (fraquinho, fraquinho...), um dos personagens refere-se a um alguém (colectivo, creio) que não acreditava em coincidências pois nunca se tinha deparado com uma. Não chego tão longe, mas, sabendo-se que a probabilidade da ocorrência conjunta de muitos acontecimentos independentes entre si (só assim poderão ser considerados coincidências) é dada pelo produto das probabilidades de cada um deles, daí resulta necessariamente que o valor dessa probabilidade conjunta tende para algo próximo do infinitamente pequeno.
Deste modo, pelo menos em alguns casos, por baixa verosimilhança que se atribua a uma certa “teoria da conspiração” ela terá de ceder perante uma alternativa cuja probabilidade de ocorrência é infinitesimal (a correspondente “teoria da coincidência”). Assim, e pela aplicação cumulativa do princípio do terceiro excluído, só me resta adoptar o que antes descartava.
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Nota: a objecção mais eficaz contra a plausibilidade de uma qualquer vasta teoria da conspiração, talvez possa ser resumida numa pergunta: “Se ela fosse verdade, não surgiria necessariamente alguém que a denunciasse?”. No entanto, se nos lembrarmos, por exemplo, do Projecto Manhattan, iniciado em 1939, e onde estiveram envolvidas 130 mil pessoas, a resposta é: não necessariamente. Um outro exemplo que ocorre, que envolveu igualmente larguíssimas centenas de pessoas, foi o da decifração do principal código diplomático do Japão e de outros códigos militares navais ocorrida até ao final de 1940, e portanto disponíveis aquando do ataque a Pearl Harbor (7 de Dezembro de 1941), situação que se manteve até ao final da guerra no caso do código diplomático.
8 comentários:
os falidos eua estão longe dos tempos do wasp-kkk
hoje há denunciantes a todos os níveis
hoje é mais fácil comunicar sem recurso a engenhocas tipo enigma
neste rectângulo 'à beira-mar afundado' temos a cgtp ar-ménica, a 'ala magna' ou 'brigada do Alzheimer'
A probabilidade conjunta de situações, digamos assim, tende para o infinitamente pequeno, mas o numero de situações, não préviamente selecionadas, tende para o infinitamente grande, e como se sabe zero vezes infinito não é zero, é uma indeterminação. É por isso que as coincidências aparecem mais vezes que o esperado, até os duplicados em sequências random.
A conclusão de que não deve ser coincidência é relativamente fácil. Agora, a compreensão do que realmente aconteceu Às vezes não é evidente.
Vejamos o caso das comunicações japonesas. Hoje em dia sabe-se que haviam espiões soviéticos infiltrados no departamento de estado americano, trabalhando ativamente para criar um confronto entre Japão e EUA (e com certeza, em outros órgãos importantes da administração americana). É perfeitamente possível imaginar que tais pessoas manobraram habilmente para que o ataque efetivamente ocorresse, e que os cabeças da nação não tivessem conhecimento prévio. Também é possível que o mesmo esquema tenha cooptado pessoas diversas, com interesses particulares, para tirar todos os obstáculos à guerra, sem que tais pessoas tivessem noção de que estariam atendendo a interesses soviéticos.
Olhando para trás, é até evidente. Se eu fosse um líder soviético à época, certamente não me furtaria a propor a criação atritos (e, se possível uma guerra) entre EUA e Japão. Pois se o Japão tivesse atacado a URSS pelo oriente, ao invés de tentar criar um império no Pacífico, as conseqüências para a URSS seriam desastrosas.
Este artigo sobre o tema:
http://www.newscientist.com/article/dn24626-inside-the-minds-of-the-jfk-conspiracy-theorists.html?page=2#.UpdqkJSqws9
Caro JPRibeiro,
"Conspiracy believers are the ultimate motivated sceptics. Their curse is that they apply this selective scrutiny not to the left or right, but to the mainstream."
Este excerto, que bem sumaria um dos pontos centrais da argumentação habitual contra os "Paranóicos", parece-me impotente em lidar com o facto, em retrospectiva trivial, de que se ao longo dos milénios os heréticos não tivessem enfrentado o mainstream, provavelmente viveríamos ainda na idade das trevas.
O afundamento do Lusitania pelos alemães, acontecimento de grande importância para justificar a intervenção dos EUA na I GG, é um exemplo de uma "verdade" oficial, que sempre foi disputada por uma minoria de "Paranóicos", e que demorou 90 anos para ser, por fim, materialmente desmentida. Veja-se, por exemplo, aqui.
Não deixa de ter razão mas no paragrafo anterior o autor diz que "Clearly, susceptibility to conspiracy theories isn't a matter of objectively evaluating evidence. It's more about alienation. People who fall for such theories don't trust the government or the media."
Concordo. Quanto a mim desconfiar dos governos ou dos media é uma atitude saudável quando não levada ao extremo, isto é quando não assenta numa avaliação subjectiva dos factos. Os conspiracy believers tem o condão de tornar qualquer discussão inutil, excepto para os crentes. Como os fanaticos religiosos. Devia haver menos gente dessa.
Já agora aproveito para o informar que os bitcoins atingiram hoje os US$1.220. Espantoso!
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