Ao terminar este post, após ter publicado uma série de gráficos auto-explicativos, tinha deixado uma pergunta um tanto provocatória ao Papa Francisco: que mistério teria sucedido na China dos finais da década de 1970 em diante? Agora, via Carpe Diem, o excelente blog do Prof. Mark Perry, surgiu a oportunidade para fazer um zoom sobre o período de 1970 a 2006, relativamente à evolução da taxa mundial de pobreza na sua mais dura expressão (pobreza "extrema"): e "proporcionar" uma explicação:
Um decréscimo de 80% em menos de 40 anos! À custa de quê? Da globalização, isto é, do extraordinário acréscimo do comércio internacional e da libertação (pelo menos em parte) do potencial da iniciativa privada em praticamente todo o Extremo Oriente, com a China à cabeça, para além da mais ocidental Índia (neste caso, com muito menos entusiasmo e de forma intermitente).
Contraste-se agora este EXTRAORDINÁRIO facto com as seguintes afirmações do Papa Francisco e de Barack Obama:
Excerto da Evangelii Gaudium, publicada em 24-11-2013, segundo versões presentes no site do Vaticano. O papa usa a pejorativa expressão "trickle-down" (meu realce), na versão inglesa:
EN - (...) [S]ome people continue to defend trickle-down theories which assume that economic growth, encouraged by a free market, will inevitably succeed in bringing about greater justice and inclusiveness in the world. This opinion, which has never been confirmed by the facts, expresses a crude and naïve trust in the goodness of those wielding economic power and in the sacralized workings of the prevailing economic system.»
PT - (..) [A]lguns defendem ainda as teorias da «recaída favorável» [?] que pressupõem que todo o crescimento económico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos factos, exprime uma confiança vaga e ingénua na bondade daqueles que detêm o poder económico e nos mecanismos sacralizados do sistema económico reinante.
Excerto do discurso proferido por Barack Obama, em 6-12-2013, em Kansas, onde a mesma expressão "trickle down" (agora sem hífen) surge por três vezes, cuja doutrina tinha sido "pré-anunciada" dois dias antes (minha tradução):
EN - (...) [T]here is a certain crowd in Washington who, for the last few decades, have said, let’s respond to this economic challenge with the same old tune. “The market will take care of everything,” they tell us. If we just cut more regulations and cut more taxes -- especially for the wealthy -- our economy will grow stronger. Sure, they say, there will be winners and losers. But if the winners do really well, then jobs and prosperity will eventually trickle down to everybody else. And, they argue, even if prosperity doesn’t trickle down, well, that’s the price of liberty.
Convido o leitor a retirar as suas próprias ilações, nomeadamente a assinalável coincidência.PT - Há uma certa multidão em Washington que, nas últimas décadas, tem afirmado: respondamos a este desafio económico com a mesma velha música. "O mercado irá cuidar de tudo", dizem-nos. Se nos limitarmos a aumentar a desregulamentação e a baixar mais impostos - especialmente para os ricos - a nossa economia tornar-se-á mais forte. Claro que, dizem eles, haverá vencedores e perdedores. Mas se os vencedores prosperarem, os empregos e a prosperidade acabarão de seguida por chegar a todos os outros. E, argumentam, mesmo que a prosperidade não se propague, bem, esse é o preço da liberdade.
4 comentários:
o Papa recomenda mais justiça social
hussein assina o decreto que impõe pobreza para todos
A crença religiosa desvanece-se quando existe esclarecimento, educação e bem-estar económico. Que o Papa Francisco combata a globalização, a liberalização e o crescimento económico é não só expectável como absolutamente imperativo para que a Igreja mantenha o seu poder. Um povo culto e rico é um povo ateu.
Obama é incapaz de interpretar a realidade racionalmente daí ser keynesiano, ambientalista, crente, etc. Se calhar fazia-lhe bem ler mais sobre a História americana, principalmente sobre o forte desenvolvimento ocorrido na segunda metade do séx XIX.
Bem assinalada, e propagada, "coincidência".
Obama tem, declaradamente, um "eleitorado", uma base de apoio:
os "pobres".
Pode dizer o que melhor lhe convier, mal ou bem, da tal "certain crowd in Washington".
Política "as usual".
E Francisco?. " ...naïve trust in the goodness..."?.
Preocupado, tambem, com as almas (más) "...of those wielding economic power..."?.
Estará, apenas, cumprindo o seu mister -a alegremente evangelizar- com o fito de lhes salvar a alma?.
"... sacralized workings of the prevailing economic system.", não será uma expressão que denota um pouco de pecaminosa inveja?.
A cada um a sua Igreja.
não para todo o mundo mas para as sociedades do 1º mundo vamos ter que encarar mais dia menos dia soluções não convencionais para reduzir o fosso entre o enriquecimento dos mais abastados e o decair das condiçoes de vida dos menos favorecidos. A destruição do emprego pelas tic e automatismo vai ter que ser encarado (e não é para as calendas gregas)
Quem tem 48 anos já dificilmente vai ter emprego(Portugal+Espanha+França+Italia+Grecia..)
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