domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sem emenda?

VPV, hoje, no Público
Tenho seguido, com atenção, a troca de argumentos entre aqueles que manifestam cepticismo, quando não anunciam terríveis apocalipses, à la Hobbes,  quanto ao que resultará da queda da ordem estabelecida em consequência do vendaval que se abateu sobre as autocracias árabes.

Pedro Correia tem sido talvez o mais caústico crítico dos cépticos que, em vez de celebrarem as vitórias da liberdade, acenam com os perigos da imprevisibilidade do desconhecido, isto é, do futuro.

Certamente não por acaso, têm sido historiadores como Vasco Pulido Valente (também por feitio) ou Pacheco Pereira que, irritantemente, escrevem antes sobre os perigos  resultantes da queda da ordem conhecida, não embarcando, pelo menos publicamente, na defesa activa da causa da liberdade, atitude que lhes tem merecido de alguns o epíteto de catastrofistas denegadores do direito dos povos à liberdade. Chega-se até a evocar frases dos anos 60/70 do século passado, do género daquela onde se afirmava  que "os portugueses não estavam preparados para a democracia", para "provar" que todos (?) têm o direito à liberdade e à democracia.

JPP, ontem no Público
A História, particularmente a história económica, é uma disciplina a que tenho progressivamente dedicado cada mais tempo à leitura. Não me canso de me espantar com tanta ideia / "medida" apresentadas ao longo dos tempos como "novas" que não eram mais do que a reciclagem de repetidas instâncias antecedentes. Dois livros que chamei à vitrina - "The New Deal in Old Rome" ou "Forty Centuries of Wage and Price Controls" são disso excelente exemplo.

Mesmo numa dimensão temporal completamente diferente, trabalhando há quase vinte e cinco anos na mesma empresa, frequentemente sinto-me obrigado a transmitir a novos colaboradores, meus subordinados ou meus chefes, o caminho que a empresa percorreu ao longo dos anos com o intuito não de justificar o presente mas de ajudar a compreendê-lo à luz do anteriormente sucedido.
Dito isto, não será surpresa para quem tenha seguido este blogue desde que nasceu ainda não há seis meses, que o seu autor se confesse crescentemente atraído pelas teses libertárias, Deste modo, não posso deixar de aplaudir o que parece (a informação é pouca ao contrário do que muitos dizem) estar a acontecer - a contestação (e subsequente queda na Tunísia e no Egipto) às lideranças autocráticas, sustentadas pela força das armas dos respectivos exércitos e de polícias secretas que nada devem às antigas SAVAK e KGB, para citar apenas dois exemplos, apoiadas activamente pelas forças do Império (antes, ao tempo da URSS, no plural).

Em duas palavras: esperança e prudência nas expectativas.
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Nota: nunca concordei com a tese de Vasco Pulido Valente de que "o mundo ficou mais perigoso" com a queda do Império Soviético. Já era crescidinho nessa altura com a maior parte dos meus fantasmas exorcizados.

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