Noto agora (graças ao António Costa Amaral) - sou muito distraído - que não fiz por aqui nenhuma menção ao aniversário do 25 de Abril, à excepção de mais um episódio de boçalidade congénita. Faço-o agora.
Primeiro, uma nota pessoal.
No dia 25 de Abril de 1974, com 16 anos, eu conhecia muito bem o conjunto de vozes e canções que só se podiam ouvir no recato da casa dos amigos, sob pena de se arranjar sarilhos. Como sempre fui noctívago e tinha um teste marcado para esse mesmo dia, estive a estudar pela noite fora e foi assim que, para meu grande espanto, ouvi a "Grândola" na rádio sem suspeitar, contudo, que algo de especial estivesse a ocorrer.
Quando cheguei ao liceu de manhã, a confusão era total e já nem sequer houve aulas. À tarde, participei na minha primeira manifestação pelas ruas da cidade. Foi um dia inesquecível para o adolescente que eu era. A partir daí, e até à "normalização" de 25 de Novembro de 1975, foi um ano e meio de loucura colectiva, em movimento parabolicamente acelerado. Aprendi muito, muito depressa e o essencial do que sou hoje formou-se nesses meses loucos mas simultaneamente riquíssimos pelas experiências proporcionadas. Foi, creio, e apesar do drama familiar conexo, um privilégio ter crescido nessa altura.
E o liberal que quero ser, o que pensa?
Não pode haver dúvidas que mesmo o 25 de Novembro selou a vitória da ideologia socialista ou, talvez melhor, estatista, que, pouco a pouco, foi semeando os fundamentos da crise profunda que atravessamos, com mais nitidez, nos últimos 10/12 anos. É, em certa medida, um fenómeno semelhante a muitos dos terrenos destruídos vítimas da "campanha do trigo" de Salazar.
É certo que nos conseguimos libertar da tutela militar assim como, mercê de outra revisão constitucional, foi possível mexer na lei de "delimitação dos sectores" que proporcinou o aparecimento da banca privada nacional, de operadores de telecomunicações, de televisões privadas, etc, assim como levar a cabo uma extensa campanha de reprivatizações. Porém, mesmo aqui, o Estado sempre procurou mitigar essa liberalização quer reservando para si participações minoritárias (em defesa dos "centros de decisão nacional", lembram-se?), quer recorrendo a golden shares ou, de forma mais insidiosa, promovendo "negócios" privados num conúbio propiciador de riquezas acumuladas sem explicação aparente e, em consequência, potenciando a corrupção que grassa, impante.
Não haja dúvidas. Um liberal não pode deixar de considerar como libertador o 25 de Abril. Mas, simultaneamente, e em função dos 37 anos já decorridos, não pode deixar de ser muito severo na avaliação que faz do percurso. Um permanente recuo do espaço de liberdade individual à custa de um estatismo crescente e cerceador da criatividade não pode merecer outra atitude.
Por tudo isto, a um liberal exige-se, hoje mais que nunca, que seja radical. É isto que Passos Coelho não é. É por isso - por não ter a coragem de ser radical - que corre o sério risco de perder as eleições ou apenas ganhá-las por pouco, o que é quase o mesmo.
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