sábado, 31 de agosto de 2013

A mentira, a plasticidade da "prova" e a política do bombardeamento

Ontem, a Casa Branca fez divulgar um documento de 4 páginas onde foram apresentadas "provas" de que foi o regime de Assad quem levou a cabo a autoria do ataque químico no passado dia 21 de Agosto na Síria,nos arredores de Damasco. Este é o excerto relevante (tradução minha):
"Identificámos cem vídeos relativos ao ataque, muitos dos quais mostram um grande número de corpos que apresentam sinais físicos consistentes, ainda que não exclusivamente, com a exposição a agente de gás de nervos. Segundo o relato de vítimas, os sintomas incluíam perda de consciência, emissão de espuma pelo nariz e pela boca, pupilas contraídas, taquicardia e dificuldade em respirar. Vários dos vídeos mostram o que parecem ser numerosas vítimas mortais sem ferimentos visíveis, o que é consistente com a morte provocada por armas químicas, e inconsistente com a morte provocada por armas ligeiras, por munições de alto poder explosivo ou por agentes vesicantes. Há pelo menos 12 localizações distintas nos vídeos publicamente disponíveis, e uma amostragem desses vídeos confirmou que alguns deles foram filmados nas horas e locais descritos nas imagens. Consideramos que a oposição síria não tem a capacidade para forjar todos estes vídeos, bem como os sintomas físicos verificados por pessoal médico, ONGs e outras informações associadas a este ataque químico."
Temos assim que, nas palavras da própria administração americana, os EUA e a França (antiga potência colonial na zona, uma coincidência curiosa com o Vietname) do petit homme, outorgando-se a si próprios o direito de representação de uma "comunidade internacional" ainda mais exígua com a saída forçada de Cameron do elenco, estão prestes a bombardear a Síria e, com isso, a escalar um conflito para dimensões impossíveis de prever. Para isso, julgam suficientes 100 vídeos do YouTube ("publicamente disponíveis") pois, segundo a administração americana, os rebeldes (quais deles?) não teriam condições (técnicas? logísticas) para os forjar!! Nestas circunstâncias, não é de admirar que Vladimir Putin esteja a surgir como um improvável paladino da promoção da liberdade!!

Portanto, o futuro do Médio Oriente e, não é de excluir, mesmo o de todo o mundo, joga-se no YouTube e na (in)capacidade de produção e realização de vídeos. Extraordinário! Mas, se assim é, e já sem falar daquele onde se pode observar o esquartejamento de cadáveres dos oponentes para lhes comer as vísceras, por que não considerar estes outros que sugerem exactamente o envolvimento dos rebeldes e aliados dos EUA nesta história das armas químicas (para além dos democratíssimos sauditas e qataris)? Aliás, não seria a primeira vez que tal aconteceria este ano...

3 comentários:

Contra.facção disse...

Para além dos vídeos mão mostrarem os autores dos bombardeamentos, logo no dia seguinte, especialistas (americanos) em armas químicas, repararam e anotaram que os médicos e enfermeiros não usavam qualquer proteção contra os químicos, o que lhes garantia que não seriam armas químicas, caso contrário também seriam afetados.
À parte pormenores das artes visuais, democraticamente apenas 9% dos americanos (cidadãos) está a favor da intervenção e 90% contra.
Depois disto ou antes de tudo, que tem os EUA e a França e seja lá quem for de se meterem onde não são chamados?
Há dias, dizia uma senhora síria: Não podemos morrer com armas químicas e podem matar-nos com as outras?
Critérios...
Assim, Obama derruba as diferenças entre Democratas e Republicanos, o que o compara a Bush, o que não é lisonjeiro...
Definitivamente, americano é americano, enquanto Deus é brasileiro...

JS disse...

E.F.. Exactamente.

Ver Kerry, que gerou fama por ser "pacifista", nos tempos do Vietnam, agora, no poder, a lecionar e a vociferar discurso pugnamte ... as voltas que o mundo dá.

Se o ridículo matasse teríamos uma classe política em permanente renovação.

Aprendiz disse...

Chocante a apresentação das provas. O Kerry argumenta que os rebeldes não teriam condições de forjar os vídeos (mesmo porque há testemunhos de atingidos). Bom, acho que ninguém estava perguntando pelos vídeos, a principal dúvida é sobre os autores, mas Kerry "esqueceu-se" de apresentar provas de que os "rebeldes" (estrangeiros filiados ou simpatizantes da Al Qaeda e da Irmandade Mulçumana)não teriam "condições" de executar o ataque. O que é evidentemente impossível de provar. Eles tem verbas quase irrestritas de três países ricos (Arábia, Catar e EUA), agentes químicos são relativamente baratos,ocupam pequeno volume, e a própria Arábia poderia fornecer, e os foguetes vetores para o ataque não necessitam de muita precisão.

A Arábia Saudita teve os meios, os motivos e a oportunidade para fornecer essas armas aos "rebeldes". Em que pese meu profundo desagrado pelo governo do Irã, não me parece que seja lícito qualquer meio para isola-lo, inclusive jogar milhões de civis sírios sob um "governo" jihadista insanamente assassino. E é isto que o quarteto fantástico (Arábia, Catar, EUA e França) estão fazendo.