quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Pat Buchanan: Depois de 58 mil mortos, saímos do Vietname. Quantos americanos mataram os vietnamitas desde que partimos?

É com esta simples pergunta, que roubei para título do post, que termina mais um lúcido artigo de Patrick J. Buchanan - To Stop al-Qaeda, Stop Bombing & Occupying Muslim Lands. A tradução é minha.

ACTUALIZAÇÃO: afinal, parece que a ameaça global terrorista se circunscreve ao Iémen.
Aparentemente, a ameaça é séria e específica.

Os Estados Unidos ordenaram o fecho de 22 missões diplomáticas e emitiram um alerta mundial para os cidadãos norte-americanos em viagem.

A ameaça vem da Al-Qaeda na Península Arábica (a AQPA), o ramo mais letal da organização terrorista.

"Depois de Benghazi", disse o senador Lindsey Graham (Republicano, da Carolina do Sul), "esses elementos da Al-Qaeda estão realmente 'sob esteróides' e pensam que nós estamos mais fracos e que eles estão mais fortes. (...)

"Eles querem expulsar o Ocidente do Médio Oriente e tomar o poder nesses países muçulmanos e criar uma entidade religiosa à imagem da Al-Qaeda (...) e, se nós alguma vez mordermos o isco e tentarmos voltar para casa e transformar a América numa fortaleza, haverá outros 11 de Setembro."

Na momento em que esta coluna for publicada, a América poderá já ter sido atingida. E no entanto, não será já tempo de colocar a Al-Qaeda em perspectiva e examinar se a nossa política no Médio Oriente está a criar mais terroristas do que aqueles que estamos a matar?

Em 2010, a América perdeu 15 cidadãos devido ao terrorismo. Treze deles morreram no Afeganistão. O pior ataque resultou no assassinato de seis americanos numa missão médica cristã na província de Badakhshan.

E no entanto, em 2010, nem uma morte aqui na América resultou de terrorismo.

Naquele ano, porém, 780 mil americanos morreram de doenças cardíacas, 575 mil de cancro, 138 mil de doenças respiratórias, 120 mil em acidentes (35 mil em acidentes de automóvel), 69 mil de diabetes, 40 mil induzidas por drogas, 38 mil por suicídio, 32 mil por doenças do fígado, 25 mil por mortes induzidas pelo álcool, 16 mil por homicídio e 8 mil pelo HIV/SIDA.

Será o terrorismo o assassino que mais devemos temer, nele investindo a parte de leão dos nossos recursos de combate?


Desde o 11 de Setembro que a Al-Qaeda não se tem revelado ser um inimigo terrivelmente eficaz. Algumas conspirações - o sapato-bomba no avião sobre Detroit, o bombista de Times Square - falharam por pura incompetência. Outros ataques foram frustrados pelo excelente trabalho dos serviços secretos e de contraterrorismo dos EUA.

A nossa frente doméstica tem estado bem protegida.

Mas, por termos travado uma "guerra contra o terror" no estrangeiro, à maneira de Graham - invadindo, ocupando, construindo nações no Afeganistão e no Iraque - perdemos 6000 soldados e sofremos 40 mil feridos americanos.

Será que guerras em que sofremos tamanhas perdas, e que nos custaram, até à data, 2 milhões de milhões de dólares valeram realmente a pena? Depois delas, será que nos sentimos mais seguros?

Os Talibãs estão a regressar. O Iraque está a afundar-se numa guerra civil sectária e tribal. A nossa influência no mundo islâmico atingiu o seu nadir. E Graham admite que o inimigo que lá fomos destruir, a Al-Qaeda, está não apenas no Afeganistão e no Paquistão, mas no Iémen, no Iraque, na Síria, na Líbia e no Mali, e está agora "sob esteróides".

Dez anos atrás, os anti-intervencionistas advertiram que uma aventura no mundo islâmico iria ter por resultado o oposto do que se projectava prevenir. Poderíamos criar mais terroristas do que seríamos capazes de matar.

Porque a raiz do 11 de Setembro foi o ódio islâmico à percepção do domínio americano e uma determinação fanática em nos expulsar do seu mundo.

Eles estiveram aqui porque nós estávamos lá. E se para lá fôssemos ainda em maior força, ainda mais muçulmanos se levantariam para nos expulsar do que é, afinal, a sua vizinhança, não a nossa.

Assim argumentaram os anti-intervencionistas .

Rejeitando esses avisos como "isolacionismo", George W. Bush desencadeou a guerra. O resultado? Precisamente o que os adversários da guerra haviam previsto, uma Al-Qaeda que se metastizou e está agora "sob esteróides".

Agora, diz Graham, a Al-Qaeda quer "expulsar o Ocidente do Médio Oriente - o seu objectivo desde sempre - e "tomar o poder nesses países muçulmanos e criar uma entidade religiosa à imagem da Al-Qaeda".

Mas não foram os Estados Unidos que se livraram de Muammar Kadhafi e que abriram a porta à Al-Qaeda a qual veio a perpetrar a atrocidade em Benghazi?

Não foi para libertar Benghazi que entrámos em guerra?

Nós libertámos a cidade, mas a benefício de quem?

Kadhafi, embora ele próprio um terrorista responsável pelo atentado à bomba de Lockerbie sobre um avião da PanAm, era um inimigo da Al-Qaeda. Como, também, é o caso do Hezbollah, do Irão e do presidente sírio, Bashar Assad. Todos eles estão a lutar para evitar a conquista da Síria pelos rebeldes cuja força de combate principal é a Frente Nusra, uma afiliada da Al-Qaeda.

Não marcará pontos Vladimir Putin quando pergunta por que razão está a América a armar uma rebelião dominada pelo tipo de pessoas que levaram a cabo o 11 de Setembro?

Graham diz que a Al-Qaeda quer "tomar o poder nesses países muçulmanos e criar uma entidade religiosa à imagem da Al-Qaeda".

E todavia o país muçulmano que a Al-Qaeda tem as melhores hipóteses de assumir o controlo é a Síria. E estamos nós a armar os rebeldes que estão aliados com a Al-Qaeda e que querem controlar a Síria?

"Se nós alguma vez mordermos a isca e tentarmos voltar para casa e transformar a América numa fortaleza, haverá outros 11 de Setembro", alerta Graham.

Graham está dizendo que devemos ficar no Médio Oriente e lutar até que a Al-Qaeda, que tem crescido desde a nossa intervenção e devido à nossa intervenção, seja aniquilada.

Caso contrário, irão criar um califado e virão até aqui matar-nos a todos.

Depois de 58 mil mortos, saímos do Vietname. Quantos americanos mataram os vietnamitas desde que partimos?

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