Continua animada a caixa de comentários a propósito do post O controlo de armas, e não a sua posse, é a principal causa do crime. Na troca de argumentos, a certa altura, é manifestada a preocupação com os acidentes com armas de fogo como razão relevante para circunscrever a sua posse (legal) a quem, a par das forças das seguranças, tenha "razões plausíveis para as transportar".
Não sendo eu um empirista, não deixo de registar a extraordinária ausência por parte dos proibicionistas (no caso, de armas de fogo) do recurso a estudos empíricos para sustentar a sua posição. Em contrapartida, existe muito material investigativo, inclusive académico, que sustenta a tese que o título do post citado veiculava. Sucede que acaba de ser publicada uma infografia que também endereça precisamente a matéria dos acidentes. Apresento-a abaixo.
8 comentários:
Caro Eduardo,
Que a legalidade de mais armas aumenta o seu número e que o aumento do seu número faz aumentar os acidentes é uma evidência à la Palice. Não era isso que estava a ser debatido no outro tópico.
Aquilo que estava a ser debatido é que uns defendem a legalização de armas para aumento da segurança individual e eu defendo a proibição para mitigação de acidentes.
Até concordo que em países de elevada criminalidade, como na África do Sul, o porte de armas deva ser legalizado pois aí a questão da segurança é mais preponderante do que os acidentes. Isto é, a existência de armas tem um saldo positivo entre crime e acidentes.
Mas na generalidade dos países europeus não tenho grandes dúvidas que (e sobre isto sim, gostava de ver estudos) a legalização de armas faz aumentar a probabilidade de um cidadão ser baleado.
Até admito que em alguns Estados dos EUA os índices de criminalidade possam suportar a presença de armas. Mas ainda assim, e nunca tendo vivido lá, se fosse político em Washington seria favorável à proibição.
Agora em Portugal, Alemanha, Suiça, Coreia do Sul, Austrália ou Japão as armas devem estar reservadas ao profissionais ou, para os entusiastas, nas carreiras de tiro. Armas em casa e na rua não.
Caro BC,
Atente que quando escreve "Que a legalidade de mais armas aumenta o seu número e que o aumento do seu número faz aumentar os acidentes é uma evidência à la Palice", está a contrariar - não a "validar" - a evidência empírica traduzida na infografia.
Face aos dados, BC opta pela opinião pessoal sem fundamentação ou justificação coerente. BC considera que mais armas, logo mais acidentes. E ponto final. Mas não justifica essa ligação. Acha é assim e pronto.
Repare BC que, até pode ser que se verifique um aumento de acidentes no mesmo em que se tinha registado um aumento do número de armas de fogo, mas essa constatação não é uma correlação justificativa. Até podiam aumentar os acidentes no conjunto de pessoas que há muito já tinham arma de fogo e não os novos proprietários de armas de fogo. Será que tira a mesma conclusão? (aceita esta: mais carros, mais acidentes, logo proíbam-se os carros?)
E mais uma nota: na Suíça todos os adultos que frequentem serviço militar têm armas de fogo em casa. Fazem parte do seu "baú militar", digamos. Por isso cuidado com a generalização.
Considero, no entanto, que no centro desta problemática estão valores e não dados estatísticos que suportem decisões políticas. Liberdade versus totalitarismo.
Saudações,
LV
Caro Eduardo,
A infografia foi produzida pela National Shooting Sports Association. Existem vontades e ideias que violam o mais básico pensamento racional. Numa casa com uma arma a probabilidade de uma criança ter um acidente com ela é superior tal como numa casa com piscina a probabilidade de uma criança se afogar é maior. Isto é cálculo de probabilidade básico. A probabilidade de eu ganhar o euromilhões se jogar é sempre maior do que eu ganhar se não jogar. A presença de uma arma aumenta a probabilidade de acidente com uma arma. Isto é óbvio e só pode ser contrariado por organizações como a NSSA que evidentemente não consegue ter uma posição racional em relação às armas.
Caro LV, como comentei no meu primeiro post tudo é uma questão de pesar benefícios vs riscos. Se os acidentes de automóveis aumentam-se de tal forma que metade das pessoas morresse de acidente rodoviário eu seria favorável à redução dos limites para metade (por exemplo). Se 90% dos portugueses morresse de acidentes rodoviários então eu acho que se devia equacionar banir os automóveis no país.
Apesar de o LV achar, erradamente, que isto é uma discussão sobre liberdade (não é, é sobre benefícios vs custos) estranha e hipocritamente não condena a existência de limites de velocidade. Mas confesso-lhe que enquanto dono de uma moto capaz de atingir 280km/h e sendo apreciador de enorme sensação de liberdade dada pela velocidade, do ponto de vista pessoal, não o poder fazer sem correr o risco de ser apanhado é algo que me custa bastante. Já as armas detesto-as.
E por falar em armas vs carros encontrei este gráfico que contraria a informação da NSSA
http://www.bloomberg.com/news/2012-12-19/american-gun-deaths-to-exceed-traffic-fatalities-by-2015.html
Caro BC,
A origem da infografia estava bem patente quer na própria imagem, quer no link que explicitamente indiquei "à cabeça". Em qualquer caso, admitiria que pudesse ter tido sentido argumentar pondo em dúvida a seriedade dos dados, caso o tivesse feito na anterior "ronda" de comentários. Não nesta última. Assim, fica a suspeita que, de início, nem sequer terá chegado a olhar para a infografia ou, então, que é totalmente impermeável à argumentação de pontos de vista diferentes dos seus, o que torna estéril uma qualquer troca de razões.
Por último, e apesar de me rever inteiramente no comentário de LV - que este é um tema relativo à liberdade e não a quaisquer estatísticas "orientadoras" de políticas governamentais -, não posso deixar de lamentar que tenha recorrido à mistura de alhos com bugalhos (o que adianta aqui o tráfego automóvel?) ainda por cima veiculando uma inevitável confusão (ou desonestidade?) entre valores verificados com valores projectados (a velha pecha dos "modelos" outra vez...). De facto, se nos ativermos aos valores verificados no período directamente comparável, não vejo nenhuma inconsistência na evolução do número de mortes relacionadas com armas de fogo entre as duas fontes: a Bloomberg "Government" e a NSSA.
Dou assim por encerrada esta “polémica”.
Cumprimentos,
Eu sou impermeável a argumentos idiotas tal como afirmar que a legalização de armas não potencia os acidentes com armas de fogo. Achar isso entra no campo da fé. Uma fé compreensível em entusiastas de armas como é a NSSA mas que não deve servir para tomada de posição de alguém que olhe para esta questão racionalmente.
O paralelismo com a velocidade é muito oportuna pois é exactamente a mesma questão, liberdade vs acidentes mortais. Em coerência quem é a favor da liberdade para as armas também tem de ser a favor da liberdade para a velocidade. Por isso gostava de saber a vossa opinião sobre a abolição dos limites de velocidade
Se o número de acidentes for determinante para proibir armas de fogo, porque não proibiríamos também, escadas, banheiras, serras, alpinismo, futebol, hipismo, mergulho, bicicletas, motocicletas, etc? Estranho as pessoas estarem preocupadas apenas com acidentes com armas de fogo, que matam muito menos pessoas do que outros tipos de acidentes. A vida é perigosa, para morrer basta estar vivo, e muitos acidentes são causados em atividades que tem como única finalidade a diversão. Mas toda gente percebe que tais atividades não devem ser proibidas, isso tornaria o mundo horrível e o ser humano morreria por dentro. A proibição deveria ser a exceção não a regra, se almejamos uma sociedade livre. Mas por motivos "incompreenssíveis" a proibição de armas, que causam muito poucos acidentes, está no topo da lista das proibições almejadas, e outros objetos que causam muito mais acidentes, sofrimento, mortes, aleijamentos, não são nem cogitados de serem proibidos. Fica a nítida impressão de que alguns opositores das armas tem outros motivos não confessados.
Armas não são um elemento desimportante. Elas tem funções sociais importantíssimas:
1. Coíbem a criminalidade. A proibição de armas na Inglaterra teve um efeito devastador na sociedade, incentivando a violência.
2. Inibem a violência contra os mais fracos, uma vez que igualam o fraco ao forte.
3. Preparam a população contra ataques de forças externas.
4. Inibem ou dificultam muitíssimo a implantação de sistemas totalitários (segundo a opinião dos próprios tiranos que implantaram sistemas totalitários).
Finalmente devo dizer que acidentes com armas de fogo são mais evitáveis do que com muitos outros objetos. É relativamente simples a uma pessoa responsável e preparada, impedir que crianças tenham acesso às suas armas, e também e usa-las com segurança, de modo a evitar acidentes. Há procedimentos simples a serem seguidos, que, uma vez cumpridos, tornam o acidente quase impossível. Outros objetos de uso comum são muito menos seguros contra acidentes. Por mais cuidado que se tenha, é bem mais difícil evitar acidentes graves e até mesmo fatais com coisas comuns como esmerilhadeiras, tratores, automóveis, escadas, pisos molhados ou gelados, praias, patins, aparelhos de mergulho, banheiras, serras, navios, trens, motocicletas, etc. No caso dos automóveis, o número e a gravidade dos acidentes se tornou tão grande, que os fabricante, em vez de focarem apenas em equipamentos que previnem acidentes (como pneus melhores e freios ABS) tiveram de introduzir também equipamentos que minoram os danos em caso de acidentes como cintos e air-bags, e chassis monoblocos.
Noto que mesmo nos países onde armas são muito comuns, a quantidade de gente morta ou ferida acidentalmente com armas é muito inferior aos acidentes com outras causas. Mas a maioria dos proibicionistas em relação a armas, dão pouquíssima atenção a outras fontes de acidentes. Fico tentando imaginar porque essa obsessão em proibir armas...
@BC,
Parece-lhe correcto apelidar de argumentos idiotas os argumentos apresentados por outros?
Manteremos posições diferentes, mas mantenhamos também os modos.
LV
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