sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Bradley Manning - a vergonha de condenar um culpado sem que haja vítimas

Das promessas que o presidente eleito Barack Obama formalizou, nos finais de 2008, e que foram compiladas no site change.gov, constava a seguinte:


Como nos informa Gary North, de lá foi retirada1 há uns dias (por volta de 25 de Julho) embora possa ser ainda acedida através do Archive.org a bem da verdade histórica e do combate cívico contra conhecidas práticas ignominiosas que, como se constata, Obama sanciona.

Vá-se lá saber o porquê desta coincidência com o final do julgamento (?) de Bradley Manning. Mas não me parece ser muito difícil de adivinhar por parte de quem - um ex-professor de direito constitucional e Nobel da Paz! - defende a espionagem maciça de toda uma nação (e dos contactos dos americanos com estrangeiros) porque existe um tribunal (secreto, evidentemente, e do qual não há contraditório, muito menos apelo) que assim o "atesta"; por parte de quem se arroga o poder de elaborar listas de morte (kill-lists) e ordenar o assassínio dos que lá constem - mesmo se cidadãos americanos - e, claro, de todos os demais cidadãos inocentes (os danos colaterais); por parte de quem arma, ou manda armar, aqueles que já foram (ainda são?) os inimigos que levaram à instauração da "guerra ao terrorismo". Etc, etc. 

Imagem retirada daqui
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1 Uma possível tradução (mantenho o termo whistleblower por não conhecer nenhuma palavra em português que tenha a necessária nobreza semântica para designar aqueles que, não querendo fazer parte de uma orquestra criminosa, põem a boca no trombone): 
Proteger os whistleblowers: com frequência, a melhor fonte de informação acerca do desperdício, da fraude e do abuso no governo está num funcionário do governo comprometido com a integridade pública que está disposto a falar. Tais actos de coragem e patriotismo, que às vezes podem salvar vidas e frequentemente poupar o dinheiro do contribuinte, devem ser incentivados e não sufocados. Necessitamos de capacitar os funcionários federais como guardiões contra as irregularidades e como parceiros no desempenho [da administração]. Barack Obama irá reforçar as leis de protecção aos whistleblowers para defender os trabalhadores federais que denunciem o desperdício, a fraude e o abuso de autoridade no governo. Obama irá assegurar que as agências federais agilizem o processo de revisão das alegações dos  whistleblowers e que os whistleblowers tenham pleno acesso aos tribunais e ao devido processo legal.

1 comentário:

JS disse...

Tema a dissecar pelas implicações que tem como refinação
dos sistemas "democráticos", de governo, actuais.

Há uma subtileza curiosa que terá tido reflexo no resultado final das denúncias.

No caso "Deep Throat" vs Nixon -que culminou com a queda do Presidente infrator- o whistleblower cultivou, quase até à morte, o anonimato.

Já o mesmo não se dirá de Manning ou de Snowden.
Resulta que a atenção é atirada, artificialmente, para o autor da denúncia e não para o acto a sancionar, infelizmente.