quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Pat Buchanan: "A única coisa que aprendemos da história é que não aprendemos com a história"

Nas vésperas de ainda mais outra aventura guerreira (a caminho do Irão?) sob um amplo beneplácito bipartidário, entusiasta ou complacente, Patrick J. Buchanan defende, convincentemente, que o Congresso deveria impedir o presidente Obama de iniciar a participação aberta dos EUA na guerra civil síria. Congress Should Veto Obama’s War é o título da sua mais recente peça que procurei traduzir (algo livremente).
"O Congresso não tem um conjunto muito significativo de responsabilidades fundamentais", disse Barack Obama na semana passada numa espantosa observação.

De facto, na Constituição, o Congresso aparece como o primeiro poder do estado federal. E entre os seus poderes, enumerados, estão: o poder de tributar, o de cunhar moeda, o de criar tribunais, o de promover a defesa comum, o de criar e financiar um exército, o de manter uma marinha e o de declarar a guerra.

Mas, ainda assim, talvez o menosprezo de Obama seja justificado.

Senão, considere-se o amplo assentimento do Congresso às notícias de que Obama decidiu atacar a Síria, um país que não nos atacou e contra o qual o Congresso nunca autorizou uma declaração de guerra.

Porque está Obama a fazer planos para lançar mísseis de cruzeiro sobre a Síria?

De acordo com um "alto funcionário da administração (...) que insistiu no anonimato", o presidente Bashar al-Assad usou armas químicas contra o seu próprio povo, na semana passada, em dois anos de guerra civil na Síria.

Mas quem delegou nos Estados Unidos a autoridade para andar pelas ruas do mundo a dar coronhadas em maus actores? De onde vem a autoridade para o nosso presidente imperial traçar "linhas vermelhas" e dar ordens a países para que não as cruzem?

Nem o Conselho de Segurança nem o Congresso nem a NATO nem a Liga Árabe autorizaram o lançamento de uma guerra contra a Síria.

Quem outorgou a Barack Obama o papel de Wyatt Earp da Aldeia Global?

Além do mais, onde está a prova de que foram usadas armas de destruição maciça e que só Assad pôde ter ordenado a sua utilização? Tal ataque não faz qualquer sentido.


Lançar algumas bombas de gás sobre civis sírios não iria ajudar a causa de Assad mas antes, pelo contrário, seria certo que lhe traria a condenação universal ao seu regime e desse cartas ao Partido da Guerra que deseja uma guerra dos EUA contra a Síria como a porta dos fundos para a guerra contra o Irão.

Por que razão rejeitaram os Estados Unidos tão rapidamente a oferta de Assad para que inspectores da ONU - já em Damasco a investigar acusações antigas de que ele ou os rebeldes usaram gás venenoso - fossem até ao local do mais recente incidente?

Não queremos saber a verdade?

Será que estamos receosos que os factos possam, como aconteceu no Iraque, contradizer as nossas mais recentes alegações acerca das armas de destruição maciça? Será que tememos que tenham sido elementos rebeldes ou falsos soldados sírios que dispararam as bombas de gás para que nos apressássemos a combater nesta guerra?

Com navios dos EUA a dirigirem-se para a costa da Síria e os McCainíacos a assegurarem-nos que podemos esmagar a Síria a partir do mar sem danos sérios para nós mesmos, por que razão o Congresso não reabriu para debater a guerra?

Para que não nos esqueçamos, também a Ronald Reagan foi vendida a mesma receita que o Partido da Guerra está a vender hoje - que nós podemos intervir de forma decisiva numa guerra civil no Médio Oriente com pouco ou nenhum custo para nós mesmos.

Reagan ouviu e enviou os nossos fuzileiros para o meio da guerra civil do Líbano. E ele estava lá quando trouxeram para casa os 241 mortos das casernas de Beirute e dos nossos diplomatas mortos da embaixada de Beirute.

A única coisa que aprendemos da história é que não aprendemos com a história. O Congresso deveria encurtar as suas férias de cinco semanas, voltar, debater e decidir por votação nominal se Obama pode conduzir-nos a mais uma guerra no Médio Oriente.

Estas são as perguntas de que o Congresso necessita de respostas:
  • Temos provas incontestáveis que Bashar al-Assad ordenou a utilização de armas químicas contra o seu próprio povo? E se não foi ele, quem foi?
  • Que tipo de represálias podemos esperar se lançarmos mísseis de cruzeiro contra a Síria, que é aliada do Hezbollah e do Irão?
  • Se atacarmos, e a Síria ou os seus aliados atacarem missões militares ou diplomáticas dos EUA, no Médio Oriente ou aqui nos Estados Unidos, estamos nós preparados para a guerra mais ampla que teremos iniciado?
  • Assumindo que a Síria responde com um contra-ataque, até onde estamos dispostos a ir na escalada para uma guerra regional? Se interviermos, estamos preparados para a eventual derrota do lado que escolhemos, que passaria então a ser vista como uma derrota estratégica para os Estados Unidos?
  • Se, feridos e sangrando da retaliação, estamos preparados para percorrer todo o caminho, incluindo tropas no terreno, para conseguir derrubar Assad? Estamos preparados para ocupar a Síria para evitar a sua queda nas mãos da Frente Al-Nusra, o que pode suceder se Assad cair e nós não interviermos?
A questão básica que necessita ser colocada sobre este terrível ataque contra civis, que parece estar relacionado com armas químicas, é: cui bono?

A benefício de quem redundaria o uso de gás de nervos sobre as mulheres e as crianças sírias? Certamente não a Assad, como podemos ver a partir do furor e das ameaças lançadas
contra ele provocadas pela utilização do gás.

Os únicos beneficiários desta aparente utilização de gás venenoso contra civis em território controlado pelos rebeldes parecem ser os rebeldes, que há muito vêm procurando levar-nos a participar na sua guerra.

Talvez o Congresso não possa retirar o financiamento ao programa Obamacare. Mas, ao menos, podem voltar a Washington e dizer a Obama, independentemente da queda vertiginosa nas sondagens de opinião, que ele não tem autoridade para nos arrastar para mais uma guerra. A sua aventura líbia, que nos deu o massacre de Benghazi e o encobrimento [do que esteve na sua origem], foi o seu último hurra como presidente em tempo de guerra.

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