sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A "novidade" das coisas velhas

Tenho dedicado vários posts à reforma no sector da saúde que constituiu a maior bandeira eleitoral de Obama - o "Affordable Care Act" ou, no seu petit nom, "Obamacare". A mastodôntica extensa regulamentação associada e os efeitos que está já a provocar fazem do Obamacare um verdadeiro case study, de que temos tido o "privilégio" de testemunhar a secular lógica estatista e os padrões da  sua metastização.

Foi com esse propósito que procurei traduzir o recente artigo de Thomas Sowell - "An Old 'New' Program".
Thomas Sowell
Como tantas coisas que parecem novas, o ObamaCare [1] é, sob múltiplas formas, vinho velho em garrafas novas.

Por exemplo, quando confrontado com o facto de, em consequência do ObamaCare, milhões de americanos poderem perder o seu actual seguro de saúde, os seus defensores dizem que isso só é verdade quando aquelas pessoas estão "sub-seguradas" [com menores coberturas que o "padrão" mínimo que a nova legislação tornou obrigatório para as apólices de seguros de saúde].

Quem decide o que é um "sub-padrão"? Haverá algo mais velho do que a ideia que uma elite exaltada sabe o que é bom para nós, melhor do que nós próprios? Obama usa a retórica do "para a frente", mas ele está de facto a andar para trás, recuando a uma época em que déspotas diziam a todos o que era e o que não era melhor para eles.

O ObamaCare é igualmente velho de uma outra forma. Um dos motivos fundamentais que explica por que os seguros médicos privados se tornaram tão caros é que os políticos, estado após estado, têm vindo a impor quais as coberturas que estes seguros devem abranger, independentemente do que as pessoas pretendam.

Um seguro de cobertura total, que abranja desde tratamentos para a calvície até operações para mudança de sexo, é muito mais caro do que um seguro que apenas cubra as doenças graves que podem absorver as poupanças de uma vida. Agora [com o ObamaCare] essas obrigatoriedades passaram do plano dos estados para o plano federal.

O seguro é um contrato para lidar com riscos É uma forma cara e contraproducente para pagar coisas que não são riscos - como os checkups anuais, que se sabe antecipadamente que irão ocorrer em cada ano.

O seu checkup anual não custa menos pelo facto de ser coberto pelo seguro. Na verdade, até custa mais, porque a pessoa segurada tem que pagar prémios que abranjam não apenas o custo do próprio checkup, como também os custos administrativos da empresa seguradora.

Se o seguro automóvel cobrisse o custo de pagamento das mudanças de óleo, isso tornaria as mudanças de óleo mais baratas ou mais caras? Obviamente mais caras, uma vez que mais pessoas teriam que ser pagas para se envolverem na transacção, em vez de, simplesmente, se pagar directamente do bolso de cada um [proprietário de uma viatura] às pessoas que lhe mudaram o óleo.



Pessoas diferentes têm riscos diferentes e diferentes disposições para cuidar dos seus próprios riscos, em vez de pagar para os transferir para uma companhia de seguros. Mas os políticos, estado após estado, impuseram o que deve ser coberto pelo seguro, independentemente do que os segurados e as seguradoras pudessem acordar, assim lhes fosse dada a liberdade para fazer as suas próprias escolhas.

Isto tornou impossível obter um seguro mais barato que apenas cubra os dispendiosos mas raros problemas médicos.

Os políticos adoram fazer de Pai Natal distribuindo favores aos eleitores, ao mesmo tempo que retratam as companhias de seguros como somíticas quando aumentam os prémios dos seguros para cobrir os custos das imposições governamentais.

Há gerações que este tipo de jogo político é praticado noutras áreas para além da dos seguros.

O trânsito municipal chegou a ser de propriedade e gestão privadas, mas os políticos não permitiram que as tarifas fossem aumentadas até um nível que cobrisse os custos. O resultado foi a expulsão das empresas privadas do negócio assim apropriado pelos governos locais, e o sobrecarregar os contribuintes com os custos não cobertos pelas tarifas.

Isto é o que significa, em qualquer contexto, "pagamento único" - um monopólio governamental que sempre acaba a assegurar um serviço pior. Por que razão alguém quereria uma tal coisa para algo tão crucial como a assistência médica?

Um dos motivos, claro, é a sempre sedutora ilusão de conseguir algo a troco de nada, uma ilusão espalhada por políticos frívolos enquanto posam como salvadores do público contra os vilões do sector privado.

Por fim, uma outra maneira de ilustrar como o ObamaCare é uma velha história política é o facto de ter começado, supostamente, como uma forma de lidar com o problema de um segmento da população - aqueles que não dispunham de um seguro de saúde.

Mas, em vez de ajudar directamente aquelas pessoas em particular a obter um seguro, a "solução" foi expandir o poder do governo sobre todos, incluindo as pessoas que já tinham seguro de saúde e que o pretendiam manter.

Uma vez que nunca houve uma sociedade de seres humanos que não tivesse pelo menos um dos seus segmentos com um qualquer tipo de problema, esta é uma fórmula para uma expansão sem fim do poder governamental. Barack Obama, Nancy Pelosi e Harry Reid testemunharam todos em como acreditavam num sistema de "pagamento único" - isto é, num monopólio estatal capaz de impor a sua vontade a todos. Até mesmo os problemas actuais e futuros do ObamaCare poderão ajudá-los a alcançar esse objectivo.

3 comentários:

JS disse...

Mais uma vez ... um blog, ilha de sanidade mental.
Tarefa sisífica, no entanto, em semelhante burgo.
Catarse ? ..., talvez.

Eduardo Freitas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo Freitas disse...

Caro JS,

Obrigado pelo encorajamento tanto mais que, neste como noutros burgos, também subscrevo a ideia que estes trabalhos são dignos de Sísifo.

Saudações

EF