domingo, 10 de outubro de 2010

Armadilha da pobreza vs catapulta da prosperidade

Durante décadas ouvimos todo um argumentário de raiz marxista ou aparentada que "explicava" a armadilha da pobreza endémica em que os países asiáticos e africanos tinham caído e da qual pareciam incapazes de sair. A "root cause" estava no colonialismo imposto pelas potências ocidentais que se tinham limitado a extorquir as riquezas daquelas regiões coarctando a educação aos autóctones e, consequentemente, a sua capacidade de criar riqueza. Esta era uma "explicação" válida tanto para as colónias portuguesas e belgas em África como para as britânicas ou holandesas na Ásia, como o caso da Índia, do Paquistão ou da Indonésia  e também, em menor escala, da China.

A revista The Economist, no número da semana passada, procurava fornecer uma explicação para a fenomenal aceleração económica que China e Índia têm sofrido nas últimas décadas vaticinando mesmo que, a prazo, há razões para supor que o capitalismo de empreendedores indiano acabará por ter mais sucesso que o capitalismo de estado chinês. Para quem estiver interessado, poderá consultar aqui o artigo completo. De seguida, e socorrendo-me dos brilhantes gráficos que muito contribuem para manter revista britânica famosa, procurarei evidenciar semelhanças e diferenças entre estes dois gigantes mundiais.


Sucede que no caso da China, há 30 anos que se verifica um crescimento extraordinário da sua economia que bem contrasta com o período das "trevas" que medeia entre a fundação da China comunista em 1949 e o tomar de rédeas do aparelho político estatal por Deng Xiaoping  nos finais dos anos 1970's, após a morte de Mao e a derrota do "Bando dos Quatro". A desde então progressiva introdução de mecanismos de mercado na economia de forma cada vez mais ousada e o recurso maciço, ainda que fortemente regulado pelo estado, ao investimento estrangeiro, embora sempre num ambiente político férreamente controlado pelos governo comunista, permitiu retirar centenas de milhões de pessoas da pobreza mais abjecta e até a formação de uma classe média urbana já muito significativa.

Quanto à Índia, que desde a sua independência do império britânico na sequência da II Grande Guerra tem vivido num  sistema político que tem sido capaz de gerar alternativas de governo através de mecanismos democráticos, o processo de crescimento económico sustentado começou sensivelmente no início da década de 90 do século passado e, passados os primeiros vinte anos do processo, a verdade é que o peso das exportações no PIB tem seguido um padrão semelhante ao chinês, como a figura "Chasing the dragon" demonstra.


Mas se na China o "take-off" ocorre com a subida de Deng Xiaoping ao poder e a adopção progressivamente mais ousada de um capitalismo de estado, porquê só em em 1990 ocorreu esse "take-off" na Índia? Não é difícil deixar de atribuí-la ao fim da "licence raj" que constituia uma autêntica peia labiríntica que coarctava o empreendorismo indígena e que caminhava a par da utilização de uma pauta alfandegária que penalizava brutalmente as importações e que por volta de 1988 chegou a significar mais de 60% de sobrecusto das importações e, portanto, um poderoso factor de imobilismo inibidor da modernização do tecido económico. Ou seja, os indianos apostaram, mais ou menos em simultâneo numa liberalização interna e externa e os resultados têm sido igualmente espectaculares com a saída da armadilha da pobreza que alguns julgavam impossível.

Há umas semanas apresentei aqui ao lado, uma sugestão de leitura que agora renovo: "The Case for Legalizing Capitalism". Dêem uma oportunidade ao capitalismo!

(Gráficos da revista The Economist, da edição de 2 a 8 de Outubro de 2010)

Sem comentários: