domingo, 10 de outubro de 2010

A tentação do abismo II

Nos últimos dias tentei explicar, aqui e aqui, por que me parece irracional, nas circunstâncias que são as nossas e que são inescapáveis, que o PSD opte por chumbar o orçamento. E mesmo aqueles que lançam o seu anátema sobre esta posição, seja por ela configurar um novo "ajoelhar" perante o Inenarrável(*), seja por "ser melhor não haver orçamento do que haver um mau orçamento" seja, finalmente, por o PSD necessita de se livrar - de vez - das grilhetas cavaquistas, acho que não estão a perceber que, logo a seguir ao país, será o PSD o principal prejudicado pela eventual adopção desta estratégia. Associo-me pois, entre outros, à argumentação dos Cachimbos Fernando Martins, Paulo Tunhas e Pedro Bráz Teixeira.

Depois da sondagem do Expresso da semana passada que dava três pontos de vantagem do PSD sobre o PS, ontem foi a vez da TVI divulgar resultados em tudo semelhantes. E não é só a diferença mínima entre PS e PSD. É também, e sobretudo, que a soma das intenções de voto PSD+CDS estar nitidamente abaixo deuma maioria absoluta. Dir-se-ia, pois, 10 dias depois de anunciado um pacote de austeridade de "caixão à cova", que vale a pena pensar nestes resultados...

E se Pacheco Pereira, que citei ontem, provoca urticária em muitos, especialmente quando citado por essa luminária socratista que é Eduardo Pitta, talvez Vasco Pulido Valente consiga concitar os desavindos da racionalidade.

«Se Passos Coelho não aprovar o Orçamento, a recessão que ele teme virá mais depressa e com mais violência e os juros da dívida soberana necessariamente aumentarão. No meio de uma inevitável insegurança política, a eleição presidencial irá dividir o país, ninguém sabe como e por quanto tempo. E Sócrates talvez se consiga aguentar no meio do tumulto. Mesmo Passos Coelho e a sua extravagante direcção ficam em perigo de despejo. É isto que ele sóbria e racionalmente quer? Ou o que ele quer, na sua manifesta inconsciência, é ganhar um voto fácil para 2011 e fingir que segue o inaplicável liberalismo dos bonzos da casa? Não se percebe. O que se percebe é que a história não vai acabar bem.»
(*) - Devida vénia ao José do Pordaloja

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