segunda-feira, 12 de setembro de 2011

10 anos depois do 11 de Setembro

estamos mais seguros contra ameaças terroristas?

João Carlos Espada, na sua crónica de hoje no Público, acha que sim, quando escreve:
Qualquer que seja a opinião que possamos ter sobre a actuação do Presidente Bush na sequência do 11 de Setembro, um ponto tem de ser reconhecido: a sua administração, bem como a da administração de Obama que se lhe seguiu, conseguiram evitar novos ataques (...) Esse não é um facto de somenos: o primeiro dever do Estado para com os cidadãos é a garantia da sua segurança; e esse dever foi cumprido.
Já Vasco Pulido Valente, ontem, no mesmo jornal, escrevia:
«Na própria noite de 11 algumas vozes sugeriram que se aproveitasse a "oportunidade" para uma limpeza drástica aos países que apoiavam, ou pareciam apoiar o islamismo radical; e um grupo no Governo que o vice-presidente e o secretário da Defesa apoiavam conseguiu impor esta catastrófica tese. Daqui nasceu a invasão do Iraque, sem um objectivo claro e com o propósito confuso de converter à democracia uma sociedade (se merece o nome) tribal, que não se via como nação e que, ainda por cima, quase tudo dividia: a religião, a origem étnica, a cultura, as ligações com regiões limítrofes. Com a cumplicidade de Tony Blair, Bush (um homem pouco dado à geografia e à história) inventou um perigo onde não havia naquela altura perigo algum e marchou triunfante para o desastre. Hoje, a aventura do Iraque alastrou, com a ajuda de Obama, para o Afeganistão e o Paquistão (e não tardará também para a Índia) e a Al-Qaeda, embora com menos liberdade de movimentos, permanece uma ameaça para o Ocidente inteiro. O 11 de Setembro não acabou.»
Creio que Espada incorre na falácia post hoc ergo propter hoc. Não sabemos o que teria acontecido caso não tivessem ocorrido as invasões do Iraque e do Afeganistão. Não sabemos em que medida a incompetência dos serviços secretos americanos que, essa sim, "permitiu" o 11 de Setembro, foi ou não entretanto sanada. Sabemos sim que o Irão viu desaparecer o contrapeso de influência que o Iraque constituía. Sabemos sim que o Paquistão (e a Índia), o Iémene ou a Síria são "panelas" sujeitas a uma pressão violentíssima. Sabemos que nada sabemos sobre os resultados e para onde caminha a "Primavera árabe".  Depois da doutrina do nation-building Wilsoniano (prosseguida activamente por Clinton  na ex-Jugoslávia) e dos recorrentes actos de regime-change, com os resultados que se conhecem, Vasco Pulido Valente tem razão: o 11 de Setembro não acabou.

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