João Carlos Espada, na sua crónica de hoje no Público, acha que sim, quando escreve:
Qualquer que seja a opinião que possamos ter sobre a actuação do Presidente Bush na sequência do 11 de Setembro, um ponto tem de ser reconhecido: a sua administração, bem como a da administração de Obama que se lhe seguiu, conseguiram evitar novos ataques (...) Esse não é um facto de somenos: o primeiro dever do Estado para com os cidadãos é a garantia da sua segurança; e esse dever foi cumprido.Já Vasco Pulido Valente, ontem, no mesmo jornal, escrevia:
«Na própria noite de 11 algumas vozes sugeriram que se aproveitasse a "oportunidade" para uma limpeza drástica aos países que apoiavam, ou pareciam apoiar o islamismo radical; e um grupo no Governo que o vice-presidente e o secretário da Defesa apoiavam conseguiu impor esta catastrófica tese. Daqui nasceu a invasão do Iraque, sem um objectivo claro e com o propósito confuso de converter à democracia uma sociedade (se merece o nome) tribal, que não se via como nação e que, ainda por cima, quase tudo dividia: a religião, a origem étnica, a cultura, as ligações com regiões limítrofes. Com a cumplicidade de Tony Blair, Bush (um homem pouco dado à geografia e à história) inventou um perigo onde não havia naquela altura perigo algum e marchou triunfante para o desastre. Hoje, a aventura do Iraque alastrou, com a ajuda de Obama, para o Afeganistão e o Paquistão (e não tardará também para a Índia) e a Al-Qaeda, embora com menos liberdade de movimentos, permanece uma ameaça para o Ocidente inteiro. O 11 de Setembro não acabou.»
Creio que Espada incorre na falácia post hoc ergo propter hoc. Não sabemos o que teria acontecido caso não tivessem ocorrido as invasões do Iraque e do Afeganistão. Não sabemos em que medida a incompetência dos serviços secretos americanos que, essa sim, "permitiu" o 11 de Setembro, foi ou não entretanto sanada. Sabemos sim que o Irão viu desaparecer o contrapeso de influência que o Iraque constituía. Sabemos sim que o Paquistão (e a Índia), o Iémene ou a Síria são "panelas" sujeitas a uma pressão violentíssima. Sabemos que nada sabemos sobre os resultados e para onde caminha a "Primavera árabe". Depois da doutrina do nation-building Wilsoniano (prosseguida activamente por Clinton na ex-Jugoslávia) e dos recorrentes actos de regime-change, com os resultados que se conhecem, Vasco Pulido Valente tem razão: o 11 de Setembro não acabou.
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