sábado, 24 de setembro de 2011

O desastre do planeamento central

Não bastaram as dezenas (centenas?) de milhões de mortos decorrentes dos processos “científicos” de industrialização, da pobreza endémica que a todos afectava excepto às nomenclaturas das "vanguardas", dos preços baratíssimos que não eram mais que sinónimos de brutais racionamentos perpétuos, dos passaportes internos que regeriam a “racionalidade” da distribuição populacional pelas diferentes regiões dos países, da corrupção generalizada a todos os níveis das administrações estatais, etc.

As supostas virtudes do “planeamento centralizado”, em países nominalmente capitalistas, continuam a fascinar muito boa gente e a pretender “justificar” absurdas políticas (para o que contam crescentemente com os utópicos "prodígios" da informática). Os banqueiros não vivem sem ele (através dos bancos centrais). Os sindicatos e as diferentes corporações adoram-no e tudo fazem para o perpetuar ainda que sob camuflagem mais ou menos sofisticada. O que aconteceu – o que está a acontecer - com a tremenda escassez de médicos de clínica geral, não invalida que a respectiva Ordem já manifeste a sua preocupação no acesso à profissão por temer vir a existir, no futuro, “excesso” de médicos. Ela que foi o agente activo da actual escassez pelo através de um bem sucedido lobby! Propõe agora um exame de acesso adicional à profissional para assegurar que só possam exercer “melhores”, ou seja, para manterem o mercado em que actuam "protegido" Marinho Pinto, na “outra” Ordem, não diz, nem faz, outra coisa. O ministério da Educação e as Universidades, então, são os sumos pináculos centralizadores. O absurdo, e terceiro-mundista, concurso nacional de professores, só tem paralelo no não menos absurdo concurso nacional de alunos no acesso ao ensino universitário e politécnico. Virtudes destes sistemas: nenhumas. As vantagens circunscrevem-se às forças interessadas na manutenção do seu status quo. Sindicatos, corporações e as burocracias ministeriais e universitárias.

Neste blogue saudei, ainda que com alguns cuidados profilácticos, a extinção das Direcções Regionais de Educação (DRE) porque mais nunca foram que mais uma camada de adiposidade inútil na monstruosa burocracia do Ministério da Educação. Porém, se a essa extinção se vier a suceder uma ainda maior centralização nas decisões sobre a colocação de professores (creio que não, mas espero ainda para ver…), então tudo não terá passado de um embuste pois o que é urgente é caminhar para que as escolas escolham directamente os seus docentes (e restante pessoal) em ordem a que o ensino melhore por via da concorrência que daí resultará entre escolas.

O mesmo se diga quanto ao escândalo, ao absurdo, da colocação centralizada dos alunos nas universidades e politécnicos públicos. Se um dado candidato, tenha ele a idade que tiver, seja ou não filho de funcionário de embaixada ou consulado, ou de um outro grupo discriminado positivamente pela burocracia estatal (para além do ministério da Educação), pretender ser admitido no estabelecimento ‘X’, o que deveria ter de fazer seria prestar exames de acesso ou outro tipo de provas (entrevistas, exames psicotécnicos, etc) a esse estabelecimento conforme decisão dos seus dirigentes e apenas deles. As notas de conclusão do secundário poderiam ser, ou não, factor de selecção na admissão. Caberia a cada escola decidir. Foi isso que sucedeu comigo quando me candidatei à Universidade Católica. Eu e os meus colegas não morremos por isso (*). Qualquer outra solução nas instituições estatais só revela o arcaísmo burocratizante com que são geridas e a auto-desculpabilização pelos resultados dos fracos alunos que, "coitadas", são “obrigadas” a receber.
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(*) - Posso informar que nunca paguei as propinas por inteiro e tive mesmo isenção em três dos cinco anos que constituíam, então, a licenciatura em Economia. Se a memória não me falha, fui sujeito a uma prova de Português e outra de Matemática, a testes psicotécnicos e ainda a uma entrevista individual. Mais acrescento que frequentei, no ano imediatamente anterior à minha entrada na Católica, o primeiro ano na Faculdade de Medicina para onde entrei em resultado do exame nacional de ingresso que então ocorreu (Junho(?) de 1977).

2 comentários:

Ramiro Marques disse...

Caro Eduardo F.
De acordo, mas os professores não querem; estão viciados na planificação central e no socialismo.

Eduardo Freitas disse...

Caro Ramiro Marques,

Bem sei. Mas enquanto não me faltar o fôlego...