23 anos depois, tenho na mão um exemplar em papel da edição de hoje do Público. Foi o último que comprei. Não, não abracei a versão digital do jornal. Apenas tomei a decisão de não voltar gastar um cêntimo que seja num veículo propagandista próprio de uma agenda política e cultural diametralmente oposta à minha. A edição de hoje foi a gota de água. Alguns exemplos, começando por onde é necessário começar:
Em editorial não assinado, como sempre ocorre desde o início do consulado Bárbara Reis, e sob o título O regresso da liderança, escreve-se num exercício hagiográfico do politicamente correcto:
Ao declarar o seu apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo (...) Barack Obama virou do avesso uma campanha presidencial que tem estado centrada nas questões da economia e do emprego. À partida, não interessaria ao Presidente seguir por um caminho tão arriscado. Para ser reeleito, ele precisa sobretudo de não cometer erros. Porém, numa simples frase, Barack Obama voltou a ser um líder capaz de inspirar pelo exemplo(...) [página 50, havendo outras declinações do mesmo tema na página 56 (no "Sobe e Desce") e ainda nas páginas 22-23]
Assina Ana Cristina Pereira, relevando a "realidade emergente":Um professor de Direito, uma médica cardiologista, uma espiral de violência. Eis o ponto de partida proposto pela Federação Internacional de Mulheres de Carreiras Jurídicas no encontro que junta hoje no Porto mulheres de duas dezenas de países. A violência contra as mulheres é "uma questão jurídica emergente" e isso nota-se nos países de língua oficial portuguesa [páginas 14 e 15].
Margarida Santos Lopes e a utilização ou não de aspas:
Sob o título Atentados em Damasco provocam 55 mortos e 372 feridos, destaca-se: As autoridades culpam "terroristas" e a oposição responsabiliza o regime. A guerra aproxima-se das 12 mil vítimas [página 23].
Sofia Lorena, as percentagens e as estações do ano indignadas:
Sob o título Os 99% voltam a tomar a rua para dizer ao mundo que continuam vivos, prossegue-se em caixa pequena: Há um ano, meio milhão de pessoas juntou-se em Madrid. A vertigem da multidão deixou muitos "indignados" a acreditar que era tudo possível - e para "já". Depois veio o Inverno [página 24].
Marisa Soares, pesarosa, assina a peça Ocupas de prédio da câmara têm que sair [página 33]
4 comentários:
Eu também sou um leitor fiel do público embora apenas há uma década talvez.
Continuo a comprar apenas por tradição e porque as alternativas diárias para mim não existem. Naturalmente também me irrito bastante com essa faceta do jornal. O único jornal que cheguei a comprar convictamente e com "orgulho" talvez foi o bom e velho Independente :-)
Já agora por curiosidade em termos genéricos o que acha dos principais jornais portugueses?
cumprimentos,
J Ramos
Caro JRamos,
Na minha opinião, os jornais portugueses, a começar pelos auto-intulados de "referência", incluindo os "económicos, são muito fracos, maus mesmo. Mas, pior do que isso e por improvável que possa parecer a um não-leitor regular, estão a piorar a um ritmo avassalador. Não vão acabar bem.
Cumprimentos.
Propaganda, péssimo jornalismo de causas, metade da redacção bloquista e outa metade PCP, é no que transformou o jornal Público.
Há muito que deixei de ler. Duas vezes por semana compro o DN e estou muito feliz assim. Para além do mais não posso admitir que um defensor da sociedade capitalista como o Sr Belmiro, tenha no seu portfólio um pasquim como o Público.
Caro Eduardo,
Já nem as crónicas do Vasco me levam a comprar o "Público". A bem da sanidade mental.
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