sábado, 19 de maio de 2012

As Novas Oportunidades e a bolha educativa

ACTUALIZAÇÃO: link para o programa 60 Minutes abaixo referido.
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A divulgação do estudo de avaliação do impacto na empregabilidade e na remuneração do programa Novas Oportunidades não terá trazido grandes novidades para quem não tenha sido inoculado (para todo o sempre?) com uma visão romantizada da bondade da acção do Estado. Ontem, pretendendo lutar contra este mal, pedia emprestadas as palavras de Don Boudreaux para voltar a fazer notar que intenções e resultados são coisas diferentes (como diz o adágio, «de boas intenções está o Inferno cheio, e o Céu de boas obras» ou, parafraseando James Madison, se os homens não são anjos, não há razão alguma para pensar que as organizações o sejam, por altruistas que se enunciem os seus fins).

Foram gastos 1800 milhões de euros no programa. Na prática, em pedaços de papel, em "canudos" de custo unitário efectivo estratosférico. Só os ingénuos se terão surpreendido. Aos crentes, claro, nada os abalará, pelo que não vale a pena  tentar rebatê-los quando se adiantam "argumentos" contra a "falta de competência" da equipa que realizou o estudo, como aqui faz o sociólogo Luís Capucha, anterior director da Agência Nacional para a Qualificação.

Há coisa de um ano atrás, o multimilionário Peter Thiel anunciava os 24 vencedores de um programa (entre mais de 400 candidatos), por si lançado no Outono de 2010, segundo o qual estava disposto a atribuir uma verba de 100 mil dólares a quem ousasse sair da universidade - tornando-se num(a) dropout - para prosseguir uma "aventura" pelo empreendedorismo desde que a tempo inteiro. Procurava assim sinalizar o que entende como tremendo erro: a ideia que se generalizou que a obtenção de um futuro melhor para cada jovem passa, quase necessariamente, pela obtenção de um grau académico universitário. Nos EUA em particular, os diferentes subsídios e incentivos atribuídos pelo governo federal, de acesso a crédito bancário para  financiar a frequência universitária, levaram já à formação de uma bolha monstruosa de um milhão de milhões de dólares (1 trillion). Não é assim de estranhar que se verifique um fenómeno crescente de incumprimento dos graduados que não conseguem empregos (quando conseguem) com uma remuneração suficiente que lhes permitam pagar as dívidas contraídas.

Amanhã à meia-noite, na CBS, no programa 60 Minutes, será abordada esta iniciativa de Peter Thiel e a ideia de que a bolha universitária será, provavelmente, a próxima a rebentar (depois da do imobiliário). No vídeo seguinte, entreve-se o conteúdo do programa (via CD):


Em Portugal, como em outros países, essa bolha também existe. Não sabemos quantificar é o tamanho dela, pois o ensino superior público, apesar das propinas, é quase "gratuito". Os números verdadeiros estão algures "enterrados" na dívida pública.
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Leitura complementar: Educação estatal e empreendorismoRobert Reich to New College Grads: "You're F*cked"

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