Michael Rizzo, editor do blogue The Unbroken Window, tem um post muito interessante (e didáctico) acerca das escolhas de actuação dos gregos perante a hecatombe das suas finanças públicas.
Rizzo começa por fazer notar que as despesas públicas, num qualquer Estado e numa dada unidade de tempo (tipicamente o ano), estão restritas a três origens de financiamento: a dos impostos; a proveniente do acréscimo na dívida pública (impostos de amanhã) e, finalmente, num país com banco central emissor, as "receitas" provenientes da impressão de moeda1. Em linguagem simbólica, teríamos a seguinte identidade:
G (despesa pública [do governo]) = T (Impostos [taxes]) + Δ Dívida + Impressão de moeda
Ora, como a Grécia está na Eurozona, o último termo da identidade não está sob o seu controlo (Rizzo, com graça, diz que essa actividade foi alvo de outsourcing no BCE) pelo que o governo grego está antes perante uma versão comprimida daquela:
G = T + Δ Dívida
G (despesa pública) = T (Impostos)
Sucede que, para que o governo possa recorrer à emissão de dívida, tem que encontrar quem esteja disposto a comprar títulos da sua dívida pública. E há, compreensivelmente, uma grande relutância, interna e externa, em emprestar dinheiro ao Estado grego. Mesmo os que ainda estão dispostos a fazê-lo exigem taxas de juro que bordejam os 30%(!) a 10 anos (61% a 5 anos, indizível a 2 anos) o que torna impossível, na prática, o recurso a esse mecanismo. Tudo fica assim reduzido à expressão mais simples:
G (despesa pública) = T (Impostos)
E eis que, com toda a crueza, só há duas alternativas: ou se sobem os impostos, o que já se viu não produzir efeito tanto mais que o país atravessa uma profunda e prolongada recessão, ou se reduz a despesa pública. Rizzo avança ainda com uma hipótese suplementar, muito popular na América do Sul: expropriar os "ricos" o que o Sr. Tsipras, estou convencido, aplaudiria. Mas seria sempre sol de pouca dura.
Creio que fica assim meridianamente claro que só há duas possibilidades para os gregos: ou o BCE imprime dinheiro, a uma velocidade ainda maior do que já vem fazendo..., para "emprestar" a Atenas (indirectamente redistribuindo riqueza à custa dos países mais prósperos, como Philipp Bagus de forma insistente vem explicando) ou a Grécia terá de sair do euro.
Não me parece crível que haja a coragem necessária para levar a cabo a única alternativa racional: reduzir radicalmente a dimensão do Estado grego na economia ou seja, as despesas públicas, em ordem a permitir um crescimento económico saudável e duradouro porque assente na iniciativa privada. Pelo meio, é certo, a dor será gigantesca mas creio-a inevitável qualquer que seja o caminho. Os gregos encontram-se perante uma situação em tudo idêntica à de um toxicodependente em estado quase desesperado. Alimentar-lhe o terrível vício não me parece ser uma opção aconselhável.
______________________________________
1Em rigor, no que os economistas designam por variação na base monetária. Poder-se-ia considerar ainda uma outra fonte de financiamento: as dádivas.
Sem comentários:
Enviar um comentário