quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Elogio a Gérard Depardieu


Ou, como titula Pat Buchanan, "The Depardieu Revolution". A tradução é minha
Quando o presidente socialista François Hollande assumiu funções, rapidamente concretizou a sua promessa de aumentar a taxa máxima de imposto [sobre o rendimento], para os franceses que ganham um milhão de euros por ano, para 75 por cento.

O regime passava agora a confiscar três dos quatro dólares que os franceses melhor sucedidos ganham. Paris também impõe um imposto sobre a riqueza para activos no valor de mais de 1,7 milhões de dólares.

Isso foi a gota de água para Gérard Depardieu, o actor famoso e bon vivant que já participou em inúmeros filmes interpretando papeis como o de Jean Valjean em "Les Misérables" [com estreia em breve em Portugal] e Cyrano de Bergérac.

Depardieu pôs a sua mansão de Paris à venda, atravessou a fronteira para a aldeia belga de Nechin, entregou o seu passaporte francês e vai renunciar à cidadania francesa. Uma pequenina comunidade de franceses já reside em Nechin, a um quilómetro fora do alcance da polícia fiscal de Hollande.

Depardieu diz que no ano que passou, 85 por cento [!] de tudo o que ganhou foi para pagar impostos. Ao longo de uma carreira de 45 anos, afirma, quase 200 milhões de dólares dos seus rendimentos foram-lhe retirados pelo fisco francês.

"Eu não gosto dos ricos", disse Hollande [20" do vídeo].

O sentimento é recíproco. Uma estação de rádio francesa afirma que 5 mil cidadãos franceses saíram do país desde que ele tomou posse.



O regime de Hollande, escreve Edward Cody no Washington Post, praticamente declarou que Depardieu era um traidor. O ministro do Trabalho, Michel Sapin, chama-lhe um exemplo de "degradação pessoal." O ministro da Cultura, Aurelie Filippetti, acusa-o de "abandonar o campo de batalha na guerra contra a crise económica."

"Quando alguém ama a França, deve servi-la", diz Hollande, apodando Depardieu de "patético" e "antipatriótico".

O que suscita uma questão para os americanos pois a nossa revolução nasceu de uma rebelião fiscal contra a Lei do Selo [link], contra as tarifas aduaneiras de Townshend [primeiro-ministro inglês à época] e contra o imposto sobre o chá que conduziu à formação do Boston Tea Party.

Propósito destes impostos: fazer com que as colónias pagassem uma parte justa dos custos das guerras conta a França e contra os Índios, durante as quais os soldados britânicos tinham expulsado os inimigos das colónias do vale de Ohio.

Mas quando os agricultores da Pensilvânia se rebelaram contra um imposto sobre o whiskey para cobrir os custos da Guerra da Independência, o presidente Washington saiu marchando com uma milícia de13 mil homens para esmagar a rebelião fiscal.

E apesar da esquerda socialista ter investido com violência contra Depardieu, o facto é que ele está bem dentro da tradição da esquerda cultural.

Como relata Thomas Addison, da Associated Press, quando a taxa marginal de imposto na Grã-Bretanha, na década de 1960, atingiu os 95 por cento [!], o membro dos Beatles, George Harrison, escreveu "Taxman" ["Cobrador de impostos"], com a letra: "Há um para si, dezanove para mim."

Em 2005, o baterista dos Beatles, Ringo Starr, mudou-se para o Mónaco, onde a taxa de imposto sobre o rendimento é zero.

Sean Connery, o primeiro "James Bond", saiu da Grã-Bretanha na década de 1960 para a Espanha e Bahamas, escreve Addison, "um outro local com taxa zero de imposto sobre o rendimento." Na década de 1970, o seu sucessor como 007, Roger Moore, também escolheu o exílio fiscal no Mónaco. Naqueles anos de taxas confiscatórias de imposto em Inglaterra, os Rolling Stones mudaram-se para o sul de França.

O que nos ensina isto?

Que o socialismo, a redistribuição coerciva do rendimento e da riqueza daqueles que os produzem para aqueles que não o fazem, eventualmente obriga um homem a escolher entre ele e a sua família - e o seu governo.

O socialismo cria e exacerba um conflito de lealdades. Um regime que se apodera de três em cada quatro dólares do que um homem ganha é um inimigo do que o homem trabalha para conseguir para si próprio e para a sua família.

Mitt Romney foi castigado por manter contas bancárias nas Ilhas Caimão, nas Bermudas e na Suíça. E no entanto, inúmeras empresas dos EUA não repatriam lucros do estrangeiro para fugir aos impostos dos Estados Unidos.

Os californianos fogem para o Nevada, para o Arizona, para o Idaho e para o Colorado, para escapar aos impostos do Golden State [Califórnia]. Serão eles desleais para com o seu estado de origem, ou estarão a fazer o que está certo pelas suas famílias, a sua primeira responsabilidade?

Com os impostos federais sobre o rendimento, sobre aqueles mais bem-sucedidos na América, a subirem para quase 40 por cento, os moradores de Nova Iorque também irão pagar uma taxa máxima de 12 por cento para o estado e para a cidade mais uma taxa sobre as vendas de 9 por cento sobre as suas compras, além de contribuições para o Medicare e para a Segurança Social, para além de impostos sobre a propriedade, impostos sobre os automóveis, impostos sobre a gasolina e os impostos sobre o tabaco.

Para muitos norte-americanos de sucesso, cerca de mais de metade do que ganham é agora levado pelo governo. E lendo o editorial do New York Times do final do ano, estes poderão em breve ser vistos como os bons velhos tempos.

O Times insta Obama a considerar novos e radicais impostos para "reduzir a desigualdade de rendimentos". Entre as fontes de geração de receitas sugeridas: a quase triplicação da taxa de imposto sobre o capital para 40 por cento, a limitação das deduções para pessoas com rendimentos elevados, a reposição do imposto sobre a propriedade para níveis confiscatórios, taxas de imposto mais e mais elevadas ou sobretaxas para rendimentos multimilionários e aumento da taxa de imposto sobre as sociedades, já a mais alta do mundo.

"Tudo isto seria apenas o começo", escreve o Times. Um imposto sobre o carbono, um imposto sobre o valor acrescentado, um imposto sobre transacções financeiras, devem ser todos considerados.

Pode um homem amar o seu país e odiar o seu governo? Claro que sim. Pergunte-se a Alexander Solzhenitsyn. Pergunte-se aos patriotas de 1776.

Este fanatismo igualitário e não americano que hoje paira sobre nós poderá um dia forçar essa pergunta sobre os patriotas americanos.

3 comentários:

JS disse...

Um bom hábito vindo dos Estados Unidos da América: o cidadão vota com a carteira e com os "pés"....

Anónimo disse...

Gente fina...

http://tvmag.lefigaro.fr/programme-tv/article/people/63778/depardieu-urine-devant-127-passagers.html

Eduardo Freitas disse...

De repente, ocorreu-me lembrar-me de alguém que afirmou que se "cagava" para o segredo de justiça.

Não penso que comportamentos típicos de prima-dona, ainda que deploravelmente mal educados, invalidem a razão de ser do título que dou ao post (e do conteúdo do artigo de Pat Buchanan...).