sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O orwelliano Obama e a falsificação da História

Imagem retirada daqui
No seu segundo Inauguration Address (transcrição aqui  em inglês e num bom português aqui) Obama revela-se, agora sem rebuço. Aí expôs a sua verdadeira agenda, incluindo temas que estiveram praticamente ausentes na campanha eleitoral (como a da "luta" contra as "alterações climáticas", coisa que irritou muito os seus apoiantes verdejantes). É o progressivismo, isto é, a doutrina do estatismo benevolente e suposto corrector das "imperfeições de mercado", estruturado e posto em prática com Theodore Roosevelt e Woodrow Wilson (tema do recente livro do juiz Andrew Napolitano) que agora regressa, às claras, em todo o seu "esplendor".

Para o efeito, Obama não hesita em recorrer à máxima imortalizada por George Orwell: "Aquele que controla o presente, controla o passado. Aquele que controla o passado controla o futuro".O seu discurso, não sendo mais que a tentativa de conferir legitimação histórica (a famosa "excepcionalidade" americana) à sua agenda, é uma fraude desavergonhada. É isto que demonstra a crónica de Patrick J. Buchanan - Obama’s Egalitarian Revolution - cuja tradução, da minha responsabilidade, se segue:
"O Segundo Mandato Começa Com uma Arrebatadora Agenda para a Igualdade", era o título do artigo principal, a oito colunas, com que o Washington Post captou a essência do segundo discurso de posse de Obama. Nele ele declarou:

"O que une esta nação... o que nos torna excepcionais - o que nos faz americanos - é a nossa fidelidade a uma ideia, articulada numa declaração feita há mais de dois séculos atrás."

De seguida, Obama citou a nossa Declaração de Independência:

Consideramos estas verdades por si mesmo evidentes, que todos os homens são criados iguais, sendo-lhes conferidos pelo seu Criador certos Direitos inalienáveis, entre os quais se contam a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade [excerto transcrito daqui].

A nossa "união", continuou, "foi fundada nos princípios da liberdade e da igualdade."

Prosa agradável - e um disparate transparente.

Como poderia a União Americana ter sido fundada no princípio da igualdade, quando a "igualdade" não é mencionada na Constituição, na Declaração dos Direitos dos Cidadãos ou nos textos d' O Federalista? Como poderia ser a igualdade um princípio fundador de uma nação em que seis dos 13 estados originais tinham legalizado a escravidão e cinco dos primeiros sete presidentes possuíram escravos durante todas as suas vidas?

O que Obama pregou no seu discurso de posse não foi a verdade histórica, mas a propaganda "progressiva" [progressive], numa reescrita orwelliana da história da América.



É inegável que, no pós-Guerra Civil, as 13ª, 14ª e 15ª emendas estabeleceram uma igualdade de direitos constitucionais. E desde a decisão de Brown de 1954 até às leis dos direitos civis da década de 1960, foi estabelecida uma igualdade de direitos civis. Aos americanos negros foi-lhes assegurada a igualdade no acesso às escolas, aos serviços públicos, o direito de voto e à habitação. E o Congresso e o povo apoiaram maciçamente essas leis.

Mas se a nação não estabeleceu a igualdade de direitos constitucionais até à década de 1860 e a igualdade de direitos civis até à década de 1960, como pode Obama afirmar que a "igualdade" tem sido a característica que "nos faz americanos" e "que une esta nação"?

Como pode ele dizer que o nosso compromisso com a igualdade é o que nos torna "excepcionais" - quando qualquer país ocidental acredita na igualdade de direitos para todos os seus cidadãos, e que foi a Revolução Francesa, não a nossa, que elevou a "égalité" a um princípio fundador.

E quando ele diz que a igualdade "é a estrela que ainda nos guia", de que tipo de igualdade exactamente está ele falando?

Resposta: a igualdade de que Obama fala não é uma igualdade de direitos, mas uma igualdade de resultados, uma ideia que não data dos Pais Fundadores, que teriam ficado horrorizados com ela, mas sim dos anos da década de 1960.

Esta igualdade não é um princípio fundador da república. É um contrabando ideológico. Pois tal igualdade só pode ser alcançada pagando o preço da liberdade, o nosso verdadeiro princípio fundador.

Essa ideia de que "todos nós somos iguais - é a estrela que ainda nos guia", disse Obama no seu discurso de posse, "assim como guiou os nossos antepassados ​​através de Seneca Falls [link], e Selma [link], e Stonewall [link]".

Espantoso. O presidente produz a descarada afirmação de que as raízes do feminismo moderno e dos direitos dos homossexuais pode ser rastreada directamente até aos Pais Fundadores e os princípios fundadores de nossa república.

Mas como? O sanctum sanctorum do feminismo moderno é Roe vs. Wade, a descoberta de um direito constitucional ao aborto. Contudo, para todas as gerações de americanos antes de 1973, o aborto era um crime hediondo.

E alguém pode seriamente argumentar que uma briga num bar entre polícias e clientes homossexuais de Stonewall Inn, em Greenwich Village, em 1969, foi apenas mais uma batalha na longa guerra pela liberdade começada em Lexington, Concord e Bunker Hill?

Como é possível argumentar assim quando o autor da declaração que Obama cita, Thomas Jefferson, acreditava que a homossexualidade devia ser tratada como o estupro, e George Washington ordenou a expulsão dos homossexuais do seu exército?

O que Obama tentou no Capitólio, com as suas repetidas evocações de Jefferson e Abraham Lincoln [logo este...!], foi retratar o seu próprio igualitarismo e o do seu partido como se tratassem de uma continuação da grande causa que triunfou em Yorktown e Appomattox.

Ele está a sequestrar a Revolução Americana, reivindicando uma linhagem ancestral para a sua ideologia que é totalmente fraudulenta e falsa.

O feminismo, o movimento dos direitos gay e o movimento dos direitos civis pós-1965, através da sua exigência de igualdade, não apenas de direitos mas de resultados [rewards], não pode ser alcançado sem atropelar as liberdades pelas quais os pais patriotas lutaram. E eles não podem triunfar sem a criação de um estado redistributivista, gigantesco e permanente cada vez mais poderoso, intrusivo e ditatorial com que Jorge III [o rei britânico aquando da Guerra da Independência] alguma vez tenha sonhado.

A liberdade de todos os americanos para competir no plano académico, atlético, artístico e económico deve resultar inevitavelmente em desigualdade de rendimento, de riqueza e de recompensas.

Porquê? Porque todos os homens e mulheres são, por natureza e educação, desiguais. Alguns são talentosos, ambiciosos, trabalhadores, afortunados. E numa sociedade livre, tais homens e mulheres sempre recolherão uma parcela desproporcional de fama e fortuna.

A única maneira de igualizar recompensas é retirar àqueles que ganharam e dar àqueles que o não fizeram. E isso exige o tipo de regime redistributivo com que os Pais Fundadores se teriam revoltado.

À medida que América de Obama ascende, a velha república decai.

1 comentário:

the revolution of not-yet disse...

nã a máxima não é de orwell

começou com um imperador chinês que refez a história antes da sua vinda

continuou no século xx com um yoseph vissanarovitch que não deu em padre

e de temps en temps alguém a ritualiza verbal ou en parole écrita