Foi hoje divulgado, pelo londrino British Medical Journal Open, um artigo onde se retrata a evolução, ao longo das duas décadas precedentes, de um conjunto de indicadores (preço de venda na rua, grau de pureza, quantidades apreendidas pelas autoridades policiais) construídos a partir de dados governamentais de diferentes países, relativos à oferta no mercado ilegal de drogas (cannabis, cocaína e opiáceos como a heroína ou o ópio).
A conclusão a que chegam os seus autores é a seguinte: no período considerado, "aumentou a oferta das principais drogas ilegais, como resulta do declínio geral nos preços e de um aumento geral na pureza de drogas ilegais" (minha tradução).
O corolário só pode ser um: de nada valeu a "guerra às drogas" (iniciada por Nixon) para diminuir o consumo destes estupefacientes apesar das astronómicas somas de dinheiro despendidas e, pior, do recurso generalizado à prisão de milhões de consumidores cujo único crime (?) foi o de se terem prejudicado a si próprios, ao mesmo tempo que se promovia o enriquecimento e multiplicação das mafias e da violência sem limites e da corrupção.
A loucura de muitos, demencial e profundamente estatista, segundo a qual seria possível controlar os comportamentos das pessoas através de proibições e do enjaulamento massivo irá durar até quando?
O Público dá um tratamento minimamente decente a esta notícia aqui.
O Público dá um tratamento minimamente decente a esta notícia aqui.
5 comentários:
Eduardo,
As conclusões que traduz são incómodas. se receberem atenção demorada (como outras não-notícias) surpreendo-me.
O que me tem intrigado é o modo como tem sido possível que estas conclusões, (podemos dizê-lo) acerca dos mercados livres e as respectivas justificações tão fáceis de entender por qualquer pessoa, não tenham boa recepção no espaço político/público. Que ninguém consiga fazer a sua apresentação desapaixonada, coerente e sistemática é surpreendente.
Pelo que regressamos ao incómodo assinalado atrás. Os partidos, os comentadores, os jornalistas e demais especialistas estão num centrão ideológico que ocupa e polui todo o espaço para a troca de ideias e argumentos como estes.
Mas o escrito está na parede e, não sendo da responsabilidade de nenhum colectivista dos anos 80, só não vê quem não quer.
Continuemos, aqui pelo menos, a dar-lhes atenção necessária.
Saudações,
LV
Caro Luís Vilela,
Obrigado pelo comentário, incisivo como sempre.
Hoje, fui folhear propositadamente o Público para concluir se teria ou não ganho uma aposta em como esta notícia não faria parte da edição em papel de hoje. O facto de a ter ganho é indiciador do posicionamento puritano-moral/estatista d@ responsável pela edição num jornal “progressista” e de “esquerda”. Nada de novo, pois. Aliás, nas edições online dos "conterrâneos" Guardian e do Telegraph, a chamada, discreta, à 1ª página desta notícia durou apenas umas 3/4 horas nas edições de ontem.
De qualquer modo, creio que a percepção do colossal fracasso da "guerra às drogas" vai fazendo o seu caminho pelo que estou moderadamente optimista quanto a um não muito longínquo regresso da sanidade (alguma, pelo menos) neste domínio.
Saudações.
Eduardo,
Outro exemplo de uma selectividade da propaganda (temos de chamar os objectos pelos nomes) na escolha de notícias e temas analisados diz respeito à evolução do preço do ouro. Este é outro exemplo de vital importância para a vida e liberdade de cada um de nós. Tem tratamento nos cadernos de economia? Sim, mas de modo superficial e tendencioso. Veja-se os mais recentes exemplos da reacção à decisão da FED em não parar a impressão/injecção de papel moeda, o ouro teve uma valorização de 67 dólares americanos num só dia. Notícia desse facto? Não dei por ela para além dos sítios do costume (Kitco, SPixley).
Dias depois há um despejo (o nome ao objecto) de aproximadamente cinco mil toneladas (em papel/futuros) na abertura do mercado e zás nas parangonas (internacionais pelo menos) está a frase "ouro em queda quando investidores buscam outros bens de confiança"…
Este tema está, de certo modo, relacionado com o que refere no seu post, pois é mais uma dimensão da guerra que alguns decidem fazer em nome de outros. E cujo futuro, julgo, não terá o fim optimista que o Eduardo vislumbra quanto às drogas. Estas são crimes sem vítimas, já a fé no papel moeda e as distorções nos mecanismos de mercado, duvido.
O escrito está na parede, mais uma vez.
Mantenha o bom trabalho.
LV
A vontade de ser claro nas posições e não se intimidar pela opinião dominante teria se mais praticada dado pistas de há trinta anos para cá que o combate ao trafico só se efectuava porque "outros" interesses havia e que o resultado ia ser zero. Ex toxidependentes afirmaram com veemencia que a poltica seguida em Portugal pelas autoridades era uma panaceia cara e quase inutil.basta ver os resultados e a posição das sumidades que têm sido responsaveis para se confirmar a justeza das tais "não polit.correctas " opiniões. Mas como passaporte para impossibilidade de progresso nunca há avaliação nem responsaveis de nada no nosso cantinho. Que talestudarmos a gestão da cousa publica da Finlandia? Mas com uma condição : proibir altera-la se aprovada.
Infelizmente, os políticos e quejandos nunca aprenderam nada com os "sucessos" da famigerada "Lei Seca".
Enviar um comentário