Thomas Sowell é uma referência frequente por estas bandas ainda que eu nem sempre concorde integralmente com ele (por vezes, até discordo em absoluto). No entanto, a sua lucidez aliada a uma invulgar capacidade para colocar ao alcance do leigo questões que outros procuram furiosamente obfuscar, alegando que a complexidade exige a utilização de um linguajar inintelegível, a clareza dos seus textos é admirável. Como exemplar é o seu exercício permanente de fact-checking como forma de sustentar a sua argumentação e daí o recurso frequente que faz à análise dos factos históricos.
No texto que assina hoje na Townhall a propósito da indicação de Janet Yellen para chairman do Fed, escolheu para o seu título uma pergunta: "A Return to Keynes?". Há fortes razões para supor que a resposta seja afirmativa (como Ron Paul também o assinala) embora o simples exame histórico contemporâneo - revisitando mitos extraordinariamente resilientes - devesse ser suficiente para que o keynesianismo fosse morto e enterrado. De vez. Como pelo contrário assistimos ao seu constante ressurgimento, talvez a resposta possa estar em que mais que o keynesianismo seja o estatismo a doença cancerígena de que padecemos e cujas metástases não param de crescer, pelo menos nos países ocidentais (que vêm pagando com o seu secular declínio).
Como é habitual, a tradução é da minha responsabilidade.
"A nomeação de Janet Yellen para chefiar o Sistema de Reserva Federal desencadeou uma onda de histórias nos media. Uma vez que ela será a primeira mulher a ocupar esse cargo, apenas podemos que isso não vá significar que qualquer crítica ao que ela venha a fazer não seja atribuída a discriminação sexual ou a uma "guerra contra as mulheres".
A Reserva Federal tornou-se num jogador determinante na economia americana que necessita de muito mais escrutínio e crítica do que tem recebido, independentemente de quem a lidera.
Janet Yellen, um ex-professora de economia em Berkeley, proclamou abertamente as suas opiniões sobre política económica, opiniões que merecem uma análise muito cuidadosa. Ela pergunta: "Será que as economias capitalistas funcionam no pleno emprego, na ausência de uma intervenção permanente e rotineira [por parte do Estado]?" E ela responde: "Claro que não".
Janet Yellen representa o tipo de keynesianismo económico que em tempos foi amplamente dominante no domínio teórico e na política económica como se se tratasse de uma religião nacional - até encontrar duas coisas: Milton Friedman e a estagflação da década de 1970.
No auge da influência keynesiana, acreditava-se que os decisores políticos governamentais poderiam escolher um judicioso trade-off [uma solução de compromisso] entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego. A este trade-off foi dado o nome de Curva de Phillips, em homenagem a um economista da London School of Economics [que desde então nunca mais se ouviu falar...].
O professor Milton Friedman, da Universidade de Chicago, atacou a Curva de Phillips, nos planos teórico e empírico. Quando o professor Friedman recebeu o Prémio Nobel de Economia - o primeiro de muitos a ir para os economistas de Chicago, que eram os principais críticos da economia keynesiana - pareceu que a ideia da existência de um trade-off entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego tivesse sido abandonada.
O descrédito último da teoria da Curva de Phillips foi o aumento da inflação e do desemprego, em simultâneo, na década de 1970, no que veio a ficar conhecido por "estagflação" - uma combinação de inflação crescente e de uma economia estagnada, com elevado desemprego.
Não obstante, os economistas keynesianos encenaram um regresso político durante a administração Obama. A nomeação de Janet Yellen para dirigir a Reserva Federal é o exemplo que coroa aquele regresso.
Janet Yellen pergunta: "Será que os decisores políticos têm o conhecimento e a capacidade de melhorar a situação macroeconómica em vez de a tornar pior? E ela responde: "Sim".
A ex-professora de economia está sem dúvida a fazer as perguntas certas... e a dar as respostas erradas.
A sua primeira pergunta, se as economias de livre mercado podem alcançar o pleno emprego sem a intervenção do governo, é puramente uma questão factual que pode ser respondida pela história. Durante os primeiros 150 anos após a fundação dos Estados Unidos, não houve uma política federal de intervenção quando a economia se contraía.
Nenhuma depressão durante todo esse tempo foi tão catastrófica como a Grande Depressão da década de 1930, quando tanto o Sistema de Reserva Federal como os presidentes Herbert Hoover e Franklin D. Roosevelt intervieram na economia numa escala maciça e sem precedentes.
Apesar do mito de que foi o crash da bolsa de 1929 que causou um desemprego de dois dígitos na década de 1930, o desemprego nunca chegou a dois dígitos em nenhum dos 12 meses que se seguiram ao crash da bolsa de 1929.
A taxa de desemprego atingiu um máximo de 9% em Dezembro de 1929 e baixou para 6,3% em Junho de 1930, quando a primeira grande intervenção federal ocorreu sob a administração de Herbert Hoover. Observou-se então uma inversão na queda do desemprego, tendo este subido até aos dois dígitos, seis meses depois. Como Hoover e em seguida FDR [Franklin Delano Roosevelt] continuaram a intervir, o desemprego a dois dígitos persistiu durante todo o restante da década de 1930.
Inversamente, quando o presidente Warren G. Harding enfrentou uma taxa de desemprego anual de 11,7% em 1921, ele não fez absolutamente nada, a não ser cortar na despesa pública.
Os economistas keynesianos diriam que esta foi exactamente a "prescrição" errada a aplicar. A história, porém, diz que o desemprego no ano seguinte caiu para 6,7% e, para 2,4% no ano imediatamente a seguir.
Sob Calvin Coolidge, que chefiou a última na administração não-intervencionista, a taxa anual de desemprego desceu para 1,8%. Como é que o historial da intervenção keynesiana compara com isto?
Sem comentários:
Enviar um comentário