segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Hermenêutica do "empobrecimento"

António e Maria habituaram-se a viver gastando sistematicamente mais do que recebiam dos rendimentos do seu trabalho. Ano após ano, tiveram assim que cobrir o correspondente défice da tesouraria doméstica. Primeiro, recorreram a empréstimos junto dos seus pais, que acabaram "reestruturados" em "transferências" a fundo perdido. Mais tarde, quando os fundos paternais se esgotaram (ou se esgotou a paciência daqueles que os acumularam ao longo do tempo), recorreram ao seu banco: de início, utilizando os cartões de crédito que o banco simpaticamente lhes proporcionou, para de seguida contraírem empréstimos (pessoais) só para conseguirem pagar as dívidas contraídas com os cartões, já incluindo os juros respectivos. Ainda tentaram abrir conta noutro banco aproveitando uma promoção mas, e apesar de disporem agora de um outro cartão de crédito, a pressão sobre a tesouraria familiar não apenas continuava mas era cada vez maior. Um dia, receberam a notificação do banco a cancelar a utilização do cartão de crédito enquanto não pagassem o saldo em dívida. Pouco tempo depois, o mesmo sucedeu com o outro banco. Foi assim que concluíram que, na impossibilidade de aumentar os seus "rendimentos", só restaria cortar na despesa familiar. Esta é a história do início do "empobrecimento" de António e de Maria. Alguns, poucos, sustentam que o que se passou foi a administração de uma dose de realidade.

2 comentários:

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Já comprei o "Toronto Report" que vou ler na primeira oportunidade.
Abraço, Júlio

Eduardo Freitas disse...

Vou sensivelmente a meio da leitura do livro. Confirmando a indicação com que tinha ficado quando visionei alguns vídeos das "Audições de Toronto", é de facto bastante bom, com um conteúdo e format de matriz académica e não panfletária mas não obstante acessível ao leigo.

Um abraço